DiogoMainardina ilha do desespero

Meu maior inimigo

17.12.21

Jair Bolsonaro? Lula? Nada disso. Meu maior inimigo, nesta véspera de Natal, é o Google.

Assim como todos os leitores de O Antagonista, sempre reclamo do anúncio que emperra a tela do nosso site, oferecendo um baita desconto nas assinaturas da Crusoé e de O Antagonista+ (assine aqui). Mas não há o que fazer: se o Google achaca nossa receita, só podemos recorrer à nossa turma. O assinante é o que temos de melhor.

Minha guerra contra o Google, no entanto, não é fruto de uma mesquinharia. Ela não é motivada por fatores comerciais. O algoritmo trapaceiro, que muda de tempos em tempos, com critérios desconhecidos, não se limita a matar as empresas jornalísticas, vampirizando seu conteúdo em troca de uma esmola: ele mata a própria notícia. Enquanto os capangas bolsonaristas estrangulam repórteres, o Google, para mim, é ainda pior: ele estrangula a liberdade de imprensa e, portanto, a democracia.

Por causa do Google, tivemos de mudar o formato de nossas notícias. Quem não segue as normas ditadas por seu algoritmo simplesmente desaparece. Como essas normas são secretas, temos de pagar gente capaz de decifrar o que o Google quer. O algoritmo determina também o que deve e o que não deve ser lido. E é isso que me enfurece. A ditadura militar mandava recolher os jornais diretamente nas bancas; o Google, a única banca de jornais que sobrou, manda exibir determinadas notícias e cassa todas as outras.

Por exemplo: as notícias de entretimento publicadas em O Antagonista, sobretudo no domingo, recebem um doping do Google e circulam vertiginosamente. Ao mesmo tempo, as notícias sobre política evaporam. Se isso fosse uma mera escolha dos leitores, eu teria de engolir calado, claro. Mas não é assim: a escolha é do próprio Google, que decide sozinho, com seus mecanismos internos, o que merece ser lido e o que deve ser descartado. Num momento como este, em que os leitores buscam notícias a fim de eleger o presidente da República, o Google tem o poder de interferir no voto dos brasileiros. Ninguém sabe se as notícias sobre um candidato, de fato, estão sendo mais propagadas do que aquelas sobre seus adversários. Não importa, nesse caso, qual candidato: o que importa é o poder do algoritmo secreto de favorecer uma campanha em detrimento de outra.

Se um jornal não tem fregueses, ele acaba, como uma padaria ou uma fábrica de pregos. É assim que as coisas funcionam, e está certo. Não há por que lamentar o fechamento de um jornal ou de um site que gasta mais do que ganha. Mas não é das empresas jornalísticas que estou falando e sim do acesso às notícias. O Google tem o monopólio sobre aquilo que é publicado, decidindo o que cada um deve ler. Ele dita a pauta, e não só o meio. Isso não é liberdade. Isso eu não aceito.

A propósito: em quem o Google vota?

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