Paul Morigi/Brookings Institution"Geralmente, não há nada melhor a fazer do que dar dinheiro às pessoas e deixar que elas decidam como gastá-lo"

Em busca do empurrãozinho certo

O economista Richard Thaler, vencedor do prêmio Nobel, aponta as melhores maneiras de incentivar os reticentes a tomar vacina e explica como os países ricos podem atuar para convencer os mais pobres a proteger o meio ambiente
03.12.21

O americano Richard Thaler, de 76 anos, ganhou o prêmio Nobel de economia em 2017 por suas contribuições na área de economia comportamental, ao investigar como as pessoas tomam suas decisões. Na introdução de seu livro Nudge, ele argumenta que as obras teóricas por muito tempo se concentraram em pessoas que pensam e tomam decisões de forma correta, algo que não condiz com o mundo real. Em contraposição a esse ser imaginário, que Thaler chama de “econos”, há os “humanos”, que cometem erros constantemente por preguiça de pensar, de fazer planos ou por puro narcisismo. “Pessoas reais têm dificuldade de fazer divisões complexas sem calculadora, às vezes esquecem o aniversário do parceiro e ficam de ressaca no Ano Novo”, diz ele no livro, escrito em conjunto com o jurista Cass Sunstein.

Considerando que esses “humanos” do mundo real optam por alternativas que vão contra seus próprios interesses, Thaler – que é ex-professor da Universidade Stanford e do Massachusetts Institute of Techonology, o MIT, e desde 1995 leciona na Universidade Chicago Booth – propõe medidas para incentivá-los a acertar em suas escolhas. Esse, aliás, é o sentido do termo “nudge”, uma espécie de “empurrãozinho” ou “cutucão”, capaz de mudar o comportamento das pessoas de forma previsível. Nesta entrevista a Crusoé, ele falou, por exemplo, sobre quais seriam as melhores maneiras de incentivar as pessoas ainda reticentes a tomarem a vacina contra a Covid e explicou como os países ricos podem convencer os demais, o Brasil inclusive, a proteger o meio ambiente.

O Brasil ultrapassou os Estados Unidos em porcentagem de pessoas que receberam duas doses de vacina. Mais de 60% dos brasileiros estão totalmente imunizados. O que há de errado com os americanos que resistem a tomar a vacina?
Acho que o maior problema nos Estados Unidos é que as vacinas se tornaram uma questão política. Atualmente, o indicador mais forte para pressupor a taxa de vacinação de uma cidade é a porcentagem de seus habitantes que votaram no republicano Donald Trump, em 2020. Não consigo pensar em nenhum momento histórico em que as decisões sobre saúde foram tão politizadas. O Partido Republicano está praticamente matando seus apoiadores. Se quem se recusa a se vacinar só fizesse mal para si mesmo, eu diria que isso poderia ser seu direito, assim como se pode optar por fumar ou ficar obeso. Mas a decisão de não se vacinar coloca todas as outras pessoas em risco. Sendo assim, os líderes políticos, influenciadores digitais, professores, clérigos e celebridades deveriam fazer tudo o que está ao alcance deles para encorajar as pessoas a tomar as doses da vacina.

E quais seriam as melhores estratégias para incentivar essas pessoas?
O primeiro passo a ser dado é fazer campanhas de informação, até mesmo com a contratação de influenciadores digitais. Para as pessoas que já decidiram se imunizar, o mais importante é tornar isso fácil e conveniente para elas. Isso significa levar a vacina às pessoas em áreas remotas e permitir que elas possam faltar ao trabalho, se preciso for. Pequenos brindes ou presentes também podem ajudar nesses estágios iniciais, mas eles apenas servem para motivar aquelas pessoas que estão adiando a ida a um posto médico por qualquer motivo. Quando se trata daquelas que são muito refratárias, aí pode ser necessário impor regras para forçar a vacinação. Na universidade onde eu trabalho, a Chicago Booth, todas as pessoas, incluindo alunos, professores e funcionários, devem ser vacinadas, com algumas exceções. Apoio essa política. Recentemente, eu estava dando uma aula para mais de 90 alunos. É claro que eu não estaria disposto a fazer isso se os alunos não estivessem vacinados. Além de tomar a vacina, eles também tiveram de usar máscaras.

Ministério da Fazenda do ChileMinistério da Fazenda do Chile“O Partido Republicano está praticamente matando seus apoiadores”
Isso é algo que poderia funcionar no mundo todo?
A Dinamarca acaba de remover todas as restrições porque alcançou uma taxa de vacinação muito alta. Esse é o objetivo que todo país deveria almejar. Claro, precisamos ter certeza de que existem vacinas suficientes para todos. Esse trabalho tomará algum tempo, mas é factível.

A internet é uma fonte inesgotável de informações sobre qualquer assunto, incluindo saúde. A rede tem ajudado as pessoas a tomar as decisões certas para suas vidas?
É verdade que a internet é uma fonte infinita de informações, mas nem tudo o que está lá é verdade. Esse é o problema. As redes sociais, em particular, estão repletas de informações falsas. Isso é muito difícil de resolver. Empresas como o Facebook e o Twitter não podem checar a veracidade de tudo o que é publicado em suas plataformas, mas têm alguma responsabilidade em não espalhar mentiras perigosas. Os governos estão lutando para criar uma forma satisfatória de regular essa atividade. Eu não tenho uma resposta fácil para isso.

Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil implementaram programas para distribuir dinheiro para a população mais afetada pela pandemia de Covid. Dar comida e remédios diretamente poderia ter sido uma iniciativa mais eficaz?
Geralmente, não há nada melhor do que dar dinheiro às pessoas e deixar que elas decidam como gastá-lo. Certamente, isso é verdade para comida, supondo que os alimentos estejam disponíveis a preços razoáveis. Deixemos as pessoas comerem o que elas quiserem. Mas os cuidados para com a saúde são muito diferentes, porque são imprevisíveis. Em tempos normais, a maioria das pessoas é saudável, mas de vez em quando algumas ficam doentes ou se machucam. É por isso que as pessoas precisam de seguro saúde ou de assistência médica gratuita.

Muitos americanos que contraem uma doença como a Covid ou sofrem um acidente não têm cobertura de saúde e acabam acumulando dívidas impagáveis. Isso continua a ser um desafio?
Os Estados Unidos não são um bom modelo de atendimento de saúde. Ainda assim, gastamos duas ou três vezes mais do que a maioria dos países e obtemos apenas resultados medíocres. Pelo menos com a Covid, os Estados Unidos forneceram testes e vacinas gratuitos. Mas podemos fazer muito melhor em tempos normais, quando não há uma emergência sanitária.

Desde a posse do presidente Joe Biden, em janeiro, os Estados Unidos têm tentado convencer outros países a serem mais ambiciosos em suas metas para cortar as emissões de gases de efeito estufa. Qual seria a melhor estratégia para alcançar esse objetivo?
O primeiro passo para um país estimular os outros a reduzir as emissões é fazer mais dentro de suas fronteiras. A mudança climática é um problema global, que só pode ser resolvido com cooperação internacional. Mas essa cooperação não é possível quando não há confiança. Portanto, grandes países ricos, como os Estados Unidos e as nações da Europa, devem liderar pelo exemplo. A Suécia fez um trabalho exemplar nisso, ao aplicar o maior imposto do planeta sobre as emissões de gás carbônico. E essa política tem funcionado. As emissões caíram e a economia sueca não sofreu com isso. Os Estados Unidos deveriam fazer o mesmo. Caso contrário, tudo não vai passar de conversa fiada.

Reprodução/YouTube/Financial TimesReprodução/YouTube/Financial Times“O primeiro passo para um país estimular os outros a reduzir as emissões é fazer mais dentro de suas fronteiras”
Na COP26, em Glasgow, o Brasil buscou doações de países ricos para impedir a destruição da floresta amazônica. Como o governo brasileiro pode convencer outras nações a pagar essa conta?
Eu daria a mesma resposta: os brasileiros só podem conquistar a confiança necessária para pedir ajuda financeira a outros povos se eles assumirem a liderança, eles próprios, na proteção do meio ambiente.

Um dos candidatos que estarão no segundo turno da eleição do Chile é Gabriel Boric, que propõe abolir os planos de previdência privada. O modelo chileno é o de contribuição definida, em que as pessoas contribuem com uma porcentagem do salário, e o valor que receberão no futuro depende do quanto acumularam. Essa mudança pode ser positiva?
Não tenho uma posição clara sobre se os sistemas de pensões estatais devem ser de contribuição definida, como o do Chile, ou de benefício definido, como o dos Estados Unidos. Nesse último caso, os contribuintes têm direito a um benefício que depende de uma fórmula, em geral baseada no salário do indivíduo durante a ativa e na quantidade de anos de contribuição. É assim na maioria dos sistemas de previdência públicos.

Em seu livro Nudge, o sr. aponta vários defeitos do sistema de previdência. Um deles é que as pessoas geralmente não poupam o suficiente para se aposentar de forma digna. Outro é que, mesmo quando o empregador oferece a elas um plano de previdência, muitas não tomam decisão alguma. Qual modelo poderia remediar essas falhas?
Existem bons e maus exemplos. Certamente, há muitos bons exemplos de planos de contribuição definida bem executados, embora cada um tenha seus prós e contras. Acho que o mais importante é obter uma alta taxa de cobertura, incluindo o maior número de trabalhadores possível. Em um esquema de contribuição definida, também deve haver um fundo de investimento padrão bem desenhado e barato.

Há bons exemplos de planos de previdência estatais pelo mundo?
O Fundo de Poupança de Emprego Nacional (Nest, na sigla em inglês), do Reino Unido, vale um estudo. Empresas que não ofereciam um plano de previdência para seus funcionários tiveram de incluir todos os seus empregados de forma automática, mas eles podiam escolher sair, se quisessem. Dessa forma, mais de 90% deles se cadastraram (uma lei de 2008 obriga que os empregadores ofereçam o sistema criado pelo governo, que é gerido por uma entidade pública, sem fins lucrativos). As taxas de contribuição, que são calculadas como porcentagem do salário, têm crescido gradualmente sem que tenha sido observada uma queda nas inscrições. É um bom modelo.

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  1. Lembro q ganhar prêmio Nobel hj em dia não quer dizer nada, o mesmo pode ser até comprado. Já aconteceu! Este senhor está com a sua senilidade em fase mto avançada! Em suas palavras, quer convencer os não vacinados que a vacina funciona, para que eles topem tomá-las. E ao mesmo tempo, convencer os vacinados que ela NÃO funciona, de modo que eles topem os sucessivos reforços. Proteger os vacinados não é dever dos não vacinados. É dever da vacina ! Mas isso só vai acontecer quando existir uma!

  2. Muito boa entrevista do professor Thaler, uma das mentes mais brilhantes do mundo. Foi didático na questão da importância da vacinação para o bem-estar de todos, bem como de se analisar possíveis incentivos, e também punições. Quanto a questão ambiental, concordo com ele que a primeira condição para uma negociação é a confiança, e nosso atual governo não é confiável. Moro 🇧🇷

    1. Lixo de entrevista! #Bolsonaroreeleito2022 #chupaesquerdalha

  3. A matéria estava muito interessante até o segundo parágrafo, mas acabou não entregando o que prometia. Parece-me que a entrevista não estava à altura do entrevistado!

  4. Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” O Brasil finalmente terá Um Governo Fundado no “IMPÉRIO DA LEI!” Não seremos LUDIBRIADOS com o “Velho Truque de MELHORAS na ECONOMIA!” Triunfaremos! Sir Claiton

    1. juíz que não conseguiu nem sustentar a prisão do maior corruPTo do Brasil 😆😃😄😂😁🐁🐁🐁🐁🐁

  5. Todas as soluções apontadas servem para os países ricos também - que já não tem mais "meio ambiente". Embora apropriadas, esqueceu o próprio quintal.

  6. Tive a impressão que as soluções apontadas para os diversos exemplos citados são uma redescoberta da pólvora… acho que vou reler a matéria…

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