Adriano Machado/Crusoé“A terceira via está com o sentimento de que a convergência é importante. Acho que é possível centro e centro-direita apresentarem uma candidatura única”

‘Acho difícil que surja uma opção mais viável’

A deputada federal que preside o Podemos se diz otimista quanto às chances de sucesso de Sergio Moro em 2022 e projeta 15% nas pesquisas eleitorais já no início do ano que vem
26.11.21

A presidente do Podemos, Renata Abreu, é a principal entusiasta da candidatura presidencial de Sergio Moro, recém-filiado ao partido. A deputada federal exala otimismo. Ela se apoia nos promissores resultados das mais recentes pesquisas para sustentar que Moro terá condições de chegar ao segundo turno, quebrando a polarização Lula-Jair Bolsonaro. “Moro já está entre 11% e 13%. Ou seja, deverá chegar aos 15% até fevereiro. Um candidato que larga com dois dígitos naturalmente cria no imaginário do eleitor que tem condições de crescer e vencer a eleição contra os dois extremos. E aí você gera a onda”.

No discurso, a presidente do Podemos e o ex-juiz da Lava Jato demonstram sintonia. Renata Abreu tem acompanhado Moro em suas reuniões com líderes partidários – muitas delas têm ocorrido na própria residência da parlamentar. Instada a falar sobre suas ideias para a economia, a deputada repete o receituário esgrimido pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, apresentado por Moro como seu conselheiro econômico. “Temos um viés mais liberal, de menos interferência, mas ao mesmo tempo estimulando políticas sociais, porque a desigualdade no país é muito grande”. Eis a entrevista:

Sergio Moro será, de fato, candidato à Presidência ou poderá abrir mão para apoiar outro nome da terceira via?
Moro é candidato a presidente. Tenho certeza disso. Se tivesse um nome da terceira via que explodisse e tivesse mais viabilidade, Moro não seria empecilho. Mas, hoje, acho muito difícil que surja uma opção de terceira via mais viável, pois ele já sai com um patamar alto de votos e tem capilaridade nacional. É difícil outro candidato do grupo conseguir isso no curto espaço de tempo de uma eleição.

A sra. vê possibilidade de convergência em torno de uma candidatura única, seja de quem for, ou a terceira via deverá ter vários nomes em 2022?
Eu acho que a terceira via está com o sentimento de que a convergência é importante, até pelas reuniões que estávamos fazendo mensalmente com vários partidos do centro e que serão retomadas após a prévias do PSDB. Acho que é possível centro e centro-direita apresentarem uma candidatura única. Não queremos cometer o mesmo erro que cometemos nas eleições de 2018.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/Crusoé“Moro já sai com um patamar alto de votos e tem capilaridade nacional”
As pesquisas apontam, hoje, para um cenário com Lula e Bolsonaro no segundo turno. Qual é a estratégia para quebrar a polarização? 
Há um percentual muito razoável, nos dois extremos, que é mais “anti” o outro do que qualquer outra coisa. Do eleitorado do Bolsonaro, de 10% a 12% são bolsominions. O restante é anti-PT e anti-Lula. São outras variáveis. Da mesma forma, muita gente que vota no Lula, vota no Lula por ser anti-Bolsonaro. Então, no momento há uma fração desses eleitores que está com ambos, mas não 100%. E tem ainda uma gama de eleitores, cerca de 40%, que não estão nem com um nem com outro, que são “anti” os dois. É por isso que, com a terceira via indo para o segundo turno, há grande chance de ela vencer a eleição.

Como a sra. avalia as pesquisas divulgadas após Sergio Moro se filiar ao partido?
Avalio de forma muito positiva. Já vínhamos identificando que o item “honestidade” pesa muito. Um candidato que larga com dois dígitos naturalmente cria no imaginário do eleitor que tem condições de crescer e vencer a eleição contra os dois extremos. E aí você gera a onda.

Moro apareceu com 11% numa pesquisa divulgada nesta semana. O Podemos trabalha com alguma meta para os próximos meses?
Não tem meta, mas a própria classe política entende que o candidato da terceira via que chegar a 15% conseguirá uma convergência muito grande. Moro já tem entre 11% e 13%. Ou seja, Moro deverá chegar aos 15% até fevereiro e antes dos outros candidatos da terceira via.

Cleia Viana/Agência CâmaraCleia Viana/Agência Câmara“Do eleitorado do Bolsonaro, de 10% a 12% são bolsominions. O restante é anti-PT”
Na sua opinião, será mais fácil tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno?
Pela análise de rejeição, é cedo para falar. Ninguém está batendo no Lula ainda. O Bolsonaro tem, nas nossas pesquisas, avaliação negativa de 65%. É uma avaliação negativa alta, porque tem o desgaste de ser governo. Acho que os dois, quando começar o processo eleitoral, passarão por um processo de decréscimo. Os outros candidatos reforçarão o porquê de ambas as rejeições serem tão altas. Isso tende a reduzir a intenção de voto de ambos.

Moro errou ao aceitar ser ministro de Bolsonaro?
Acho que, assim como muitos brasileiros, ele fez a leitura de que poderia colocar o combate à corrupção como política pública. Acreditou muito nisso. Obviamente, quando viu que isso não seria possível neste governo, teve a decência de não se curvar.

Após o rompimento com Bolsonaro, Moro foi trabalhar nos Estados Unidos. Esse período fora do Brasil não pode ser interpretado pelo eleitor como uma fuga dos problemas daqui?
Primeiro ponto: Moro não enriqueceu nem como ministro nem como juiz. Então, ele depende do trabalho para sustentar a família. Quando saiu do ministério, ele recebeu proposta de uma grande empresa para prestar consultoria na área de compliance. Assim como todo brasileiro, precisava trabalhar e ganhar o salário dele. 

No modelo político atual, tem como um presidente governar sem virar refém dos partidos do Centrão?
Tem. Sempre dou o exemplo do próprio Álvaro Dias, no Paraná, quando foi governador. Ele não promoveu toma lá dá cá e teve o maior índice de aprovação e governabilidade. O que o parlamentar quer é ser prestigiado na base, que os investimentos sejam priorizados e que o parlamentar possa ser prestigiado e receber o crédito político por esses investimentos. Eu sou deputada, entendo muito bem a cabeça de um parlamentar. Quando se tem diálogo institucional, é fácil promover articulação. Por que o governo teve que se curvar ao toma lá dá cá? Justamente porque não estabelece nenhum tipo de diálogo.

Robert Alves/Monumental Foto/PodemosRobert Alves/Monumental Foto/Podemos“Quando começar o processo eleitoral, Lula e Bolsonaro passarão por um decréscimo”
Em 2018, candidatos considerados outsiders, com discurso de renovação e combate à velha política, foram vitoriosos nas urnas, como Wilson Witzel, Wilson Lima e o próprio Bolsonaro. Mas seus governos passaram a ser muito contestados, tanto que, em 2020, a política tradicional recuperou espaço nas eleições municipais. Tem antídoto para o discurso de que governos de outsiders estão fadados a não serem bem-sucedidos?
A eleição de 2018 foi uma eleição nacional. E se personificou no Bolsonaro, que alavancou muitos outros candidatos. A eleição municipal não tem uma figura central. Então, se pulveriza. Teve, sim, prefeituras com outsiders eleitos. Em 2022, vai ser uma mistura: ainda haverá um sentimento muito forte de combate à corrupção, especialmente com o esvaziamento da Lava Jato. Só que unindo esse sentimento ao fato de que o presidente eleito tem que ter um mínimo de preparo, equilíbrio e seriedade.

O Podemos é considerado no meio político um partido que tem “dono”. Antes de a senhora assumir, o seu pai comandava a legenda. Isso não é contrastante com um partido que vende o discurso da renovação?
Na verdade, assumi o partido em 2017, eleita inclusive com a participação dos nossos senadores, como parte do processo de reconstrução que foi feito de PTN (antigo nome da legenda) para Podemos. Não foi só mudança de nome, foram três anos de estudo, foi toda a refundação de um movimento que teve um resultado muito bom. Fui eleita por todos, justamente pelo resultado que o Podemos teve nesse processo. Somos o segundo partido que mais cresceu no Brasil, depois do PSL. Não construímos política com autoritarismo. Quando o resultado vai bem, é natural que prospere o ditado “em time que está ganhando não se mexe“. Fiz um convite recentemente para Álvaro Dias assumir a presidência do partido. Mas, como ele está em campanha ao Senado, disse que não teria tempo. E de fato essa atribuição partidária exige um sacrifício pessoal muito grande. Não é qualquer um que está disposto a isso.

Na área econômica, quais seriam as prioridades de um eventual governo comandado pelo Podemos?
Temos um viés mais liberal, de menos interferência, mas ao mesmo tempo estimulando políticas sociais, porque a desigualdade no país é muito grande. Mas isso tem que ser feito com estratégia, e dialogando com as bases. O Brasil é um país muito diverso. Não pode achar que a realidade do Sul é a mesma do Nordeste.

Luis Macedo/Camara dos DeputadosLuis Macedo/Camara dos Deputados“Em 2022, ainda haverá um sentimento muito forte de combate à corrupção, especialmente com o esvaziamento da Lava Jato”
E qual será a estratégia para viabilizar Moro eleitoralmente na região Nordeste, onde ele enfrenta mais dificuldade de crescimento?
Moro entrará muito no Nordeste a partir do momento em que apresentar um projeto de país e de nação que atenda as expectativas daquele eleitor. É não tratar o Brasil como se fosse igual em todos os estados. A política que se estabelece para um estado não pode ser igual àquela que se estabelece para outro. Moro vai apresentar ao país um projeto que vai engajar a população de cada estado a estar com ele.

Como o partido deve caminhar em São Paulo, em 2022?
Em São Paulo, estamos buscando palanque para a candidatura do Moro. Estamos aguardando as prévias do PSDB, para ver como vai se desenhar o cenário, e temos dialogado com partidos e candidatos. Dependerá muito das alianças nacionais. De repente, tem partido em São Paulo que quer ter candidato ao governo estadual e está disposto a apoiar Moro para a Presidência. Já dialogamos com Patriota, União Brasil e Novo nesse sentido.

A filiação do general Santos Cruz ao Podemos simboliza o descontentamento de militares com Bolsonaro? Ele será de fato candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro?
Ainda não está definido a qual cargo eletivo general Santos Cruz será candidato. A filiação dele representa uma ala de militares que, como muitos brasileiros, votou no atual governo, se decepcionou e está buscando um caminho. Decepção por um conjunto de fatores: incapacidade administrativa, falta de diálogo, despreparo político, descompromisso. Além disso, o combate à corrupção foi uma bandeira do governo que a gente sabe que acabou. A Lava Jato acabou. O combate à corrupção precisa ser restabelecido. 

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