RuyGoiaba

Muito barulho por nada

26.11.21

Eu geralmente não acredito em “lei do mínimo esforço”, mas — assim como o ateu quando o avião dele sacoleja no meio de uma turbulência — passo a ser crente quando estou escrevendo esta coluna. Essa lei me ajuda um bocado: é só pegar o acontecimento mais “piada pronta” da semana que passou no Bananão e descrevê-lo basicamente como é, sem nem precisar comentar muito. O texto de Ruy Goiaba se escreve sozinho, e eu quase só tenho o trabalho de assinar.

E não houve melhor assunto para sacanear nos últimos dias do que as prévias do PSDB, o Partido da Social-Democracia de Brancaleone (“Branca, Branca, Branca/ Leon, Leon, Leon”). Uma votação organizada pela Suate dos Trapalhões com o aplicativo das Organizações Tabajara teria dado mais certo: no momento em que escrevo — hoje é quinta (25), e o fiasco das prévias foi no domingo (21) —, a tucanada ainda não conseguiu arranjar um app que funcione minimamente. Quem sabe daqui a alguns dias cheguem à conclusão de que é melhor fazer com papelzinho mesmo; depois os perdedores judicializam o resultado e, com sorte, o partido define por volta de 2028 seu candidato à Presidência na eleição de 2022.

O pior é que, desta vez, não há nem “cenas lamentáveis” divertidas como as das prévias do PSDB paulistano em 2016, que tiveram socos, tentativa de roubo de urna e militante flagrado com as calças arriadas no meio da rua (sigla phyna é outra coisa). Não: é uma briga de comadres soltando notinhas para a imprensa, falando cobras e lagartos e puxando o tapete umas das outras, com estridência cada vez mais proporcional à sua irrelevância — mas o partido está unido! Se fossem como o PT, não teriam esse problema: lá não existe essa frescura de fazer prévia, e candidato é quem o dedazo do Lula apontar (no caso, ele mesmo).

E tudo isso para o candidato tucano, seja quem for (João Doria, Eduardo Leite ou, menos provavelmente, Arthur Virgílio), chegar à eleição com uns 5% dos votos e olhe lá, a julgar pelas pesquisas recentes: é um partido shakespeariano, mas só no sentido da “Comédia dos Erros”, uma espécie de “Muito Barulho por Nada” 2.0. A legenda que fez o Plano Real, algumas eras geológicas atrás, agora torra 1,3 milhão de reais do fundo partidário — sim, é você que paga pela lambança — para não conseguir pôr de pé nem uma votação interna. Está certo que o sarrafo, digamos, intelectual da gestão Jair Bolsonaro é o mais baixo possível, mas é essa turma de trapalhões que quer colocar ordem no Bananão a partir de 2023?

Minha sugestão, que obviamente não será seguida, é que os caciques tucanos parem de fingir que são civilizados e façam logo um “triello”, como naquela cena de Três Homens em Conflito em que Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach apontam os revólveres uns para os outros. Ponham logo Calça Apertada Kid, o Guri de Pelotas e o Fofão de Manaus para sacar suas armas, com a trilha do Ennio Morricone de fundo. Ou, se preferirem algo menos sangrento, façam uma banheira do Gugu reloaded, joguem os três lá dentro e quem pegar primeiro o sabonete ganha a candidatura do PSDB à Presidência. Meritocracia é isso aí.

***

A GOIABICE DA SEMANA

E o glorioso Ricardo Salles conseguiu ir à Jovem Klan chamar Sergio Moro, esse notório agente bolchevique, de “comunista”. É oficial: comunista é quem não gosta do Bolsonaro, nazista é quem não vota no PT — procurem pela internet, que vocês acham charges petistas retratando Geraldo Alckmin com uma suástica; nem são tão antigas assim — e qualquer palavra pode ser usada para xingar qualquer pessoa sem a MENOR consideração pelo seu significado. Basta você escolher a sua versão daquele meme do livro infantil (infelizmente fake) Todo Mundo de que Eu Não Gosto É Hitler: troca por “Stálin” e estamos conversados.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéRicardo Salles, tão amigo da Amazônia quanto do uso adequado das palavras

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