ReproduçãoA gestão de Cláudio Castro tem ajudado a manter sob sigilo o histórico de Fabrício Queiroz

A blindagem de Queiroz

O governo do Rio de Janeiro tem escondido sistematicamente informações que podem ajudar a revelar um pouco mais do passado do ex-assessor de Flávio Bolsonaro
12.11.21

O senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do presidente Jair Bolsonaro, festeja o que acredita ser o fim das investigações do rachid, o esquema de embolsar parte dos salários de assessores que teria funcionado em seu antigo gabinete de deputado estadual no Rio de Janeiro. Na terça-feira, 9, o Superior Tribunal de Justiça invalidou todas as decisões do juiz de primeira instância do caso, ao analisar um recurso do senador que invoca o foro privilegiado de políticos, mecanismo tão criticado por seu pai no passado. Acusado de operar o rachid para Flávio, o policial militar aposentado Fabrício Queiroz não tem o mesmo privilégio na Justiça, mas nem por isso está menos protegido.

Nos últimos meses, o governo do Rio de Janeiro engavetou sistematicamente uma série de pedidos de informações sobre as atividades de Queiroz de 2003 a 2007, período em que ele servia extraoficialmente ao então deputado Flávio e as milícias estabeleciam laços com políticos do estado. Até mesmo o Tribunal de Contas local enfrenta dificuldades para obter dados oficiais para uma auditoria aberta para apurar a concessão de aposentadoria a Queiroz.

A família Bolsonaro saboreia o apoio incondicional do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, desde que o antecessor Wilson Witzel, desafeto de Flávio, foi afastado do cargo pelo STJ, em agosto de 2020, e mais tarde sofreu o impeachment por suspeita de corrupção, em abril deste ano. O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta semana que deve ingressar no PL, partido ao qual Castro é filiado. A entrada dele na sigla tende a deixar o governador ainda mais sujeito ao cercadinho político de Flávio, fortalecido pela decisão do STJ.

A investigação do Ministério Público sobre o rachid partiu do ano de 2007, quando Queiroz passou a trabalhar oficialmente com Flávio. Documentos exclusivos obtidos por Crusoé revelam, porém, que a relação com o gabinete do deputado começou extraoficialmente ainda em 2003, no primeiro ano de mandato do filho 01. Ainda falta esclarecer qual era a missão de Queiroz naquela época.

Uma pista inédita está em um depoimento de Queiroz, prestado em 2012, num processo disciplinar que ele respondia na Assembleia Legislativa, por embolsar ilegalmente 16,8 mil reais em auxílio-educação. Queiroz disse que “trabalhava principalmente como segurança e ficava mais na rua do que no gabinete”. Afirmou, ainda, que Flávio o requisitara à Polícia Militar em 2007, mas antes disso já servia ao deputado, só que “sem vínculo”.

Ivan Sasha/Governo RJIvan Sasha/Governo RJCláudio Castro, governador do Rio, é aliado dos Bolsonaro
Outro documento, já revelado por Crusoé, mostra que a PM liberou Queiroz de forma “oficiosa” para atender a Flávio, em agosto de 2003. Alguns meses depois, um oficial advertiu os comandantes de que a liberação dependia de autorização do governo do estado. Flávio, então, fez o pedido à Casa Civil da então governadora Rosinha Garotinho. Passados 18 anos, até hoje não se sabe qual foi a decisão de Rosinha. Esse é um dos documentos que o governo de Cláudio Castro mantém em segredo.

Ainda em agosto de 2020, por meio da Lei de Acesso à Informação, Crusoé pediu à Casa Civil uma cópia do processo relativo a Queiroz. O sistema eletrônico do governo mostra que um funcionário imediatamente solicitou o documento ao arquivo. Alguns dias depois, o comando do Estado trocou de mãos com o afastamento de Witzel. Na gestão de Cláudio Castro, não houve qualquer resposta sobre o pedido. Após a reiteração do pedido, em janeiro deste ano, a Casa Civil respondeu que o processo está desaparecido, mas que tenta localizá-lo. A novela já dura um ano e dois meses – a postura do governo fere frontalmente a lei federal que estabelece um prazo de 20 dias, prorrogáveis por mais dez, para o fornecimento das informações. Um decreto estadual diz que o órgão público deve ao menos justificar a “impossibilidade de fornecer a informação”.

Alertada sobre o descumprimento das regras, a Controladoria Geral do Estado enviou inúmeras advertências de que o atraso “constitui conduta ilícita”, mas nenhum dos avisos deu resultado. Em abril passado, em um episódio mal explicado, uma das filhas de Queiroz foi nomeada para o cargo de assessora na Casa Civil. Acabou demitida dois dias depois, quando o governo se deu conta do embaraço que o parentesco causaria.

A ficha de Queiroz na Polícia Militar fluminense mostra que, entre agosto 2003 e março 2007, ele esteve vinculado à Diretoria-Geral de Pessoal, “a geladeira da PM”, onde ficam policiais afastados das ruas ou cedidos a outros órgãos públicos. Em agosto passado, Crusoé indagou à corporação quem pagava o salário do ex-assessor de Flávio – se o governo ou a Assembleia Legislativa –, já que ele estaria informalmente a serviço do então deputado estadual. Passados três meses, também não houve resposta.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéO secretismo sobre Queiroz ajuda Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente
No período de 2003 a 2007, as milícias se tornaram uma poderosa organização criminosa no Rio de Janeiro, submetendo moradores de favelas e bairros pobres à cobrança de taxas pelo gás de cozinha, internet, água mineral, aluguel e serviço de segurança. Aos poucos, os criminosos demarcaram currais eleitorais, elegendo vários políticos, entre eles um deputado estadual conhecido pelo apelido Mata Rindo, em 2006.

Pouco depois, conforme sustenta o Ministério Público, o capitão da PM Adriano da Nóbrega passou a chefiar a milícia conhecida como Escritório do Crime. Em 2005, Flávio o condecorou com uma medalha. Na ocasião, Adriano estava preso, acusado de homicídio. Por influência de Queiroz, o então deputado nomeou a ex-mulher e mãe de Adriano para trabalhar em seu gabinete. As duas funcionárias e o capitão, morto em fevereiro de 2020 pela polícia da Bahia, faziam parte do esquema de rachid, segundo denúncia ajuizada pela promotores que investigaram o caso.

O Tribunal de Contas do Estado também tem esbarrado em um paredão em suas tentativas de obter informações sobre Queiroz. Entre as atribuições da corte está a de analisar a legalidade da concessão de aposentadoria a servidores públicos. Em junho passado, auditores pediram ao então secretário da PM, Rogério Figueredo, cópia da decisão judicial que permitiu o pagamento de uma gratificação a Queiroz – ele passou à reserva no final de 2018, quando o rachid já estava no radar do Ministério Público.

Vencido o prazo de 60 dias, Figueredo não deu resposta. A equipe técnica e o Ministério Público pediram que o então secretário fosse obrigado a justificar a suposta omissão. Ao julgar o caso no mês passado, o plenário do TCE decidiu dar “uma última oportunidade” para o comando da PM repassar os dados, sob pena de suspensão da aposentadoria.

A blindagem a Queiroz ocorre até mesmo nos casos em que ele figura como vítima, como no episódio do assalto na favela Cidade de Deus, em outubro de 2015. Três homens armados roubaram a pistola, um cordão de ouro, o celular e 2 mil reais em dinheiro do ex-assessor, além de agredi-lo com coronhadas. Ao fornecer cópia do processo interno que investigou o caso, a PM colocou tarjas em vários trechos do documento.

Entre as informações censuradas está a versão apresentada por Queiroz, ao ser ouvido na delegacia da Polícia Civil, de que só conseguiu ser liberado pelos bandidos após contar uma mentira: ele disse que trabalhava para o então deputado estadual Marcelo Freixo. A censura e a falta de transparência têm sido usadas em favor do ex-assessor de Flávio Bolsonaro até quando se trata de futricas, portanto. A ver até quando o secretismo seguirá em vigor.

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  1. Excelente matéria que incide sobre um assunto pouco tocado no caso Queiroz e que expõe bem o que é o Brasil: há lei, há órgão de fiscalização, o poder cobrado dá de ombros e fica por isso mesmo.

  2. O sujeitinho nem sabe o que é um uísque do Tennesse e brinda com maçã verde. Palmeira de mangue, com certeza, não vive em areia de Copacabana. Tudo chinfrim!

  3. O Estado do rio de janeiro se supera a cada dia na qualidade de seus bandidos de estimação. Tudo sob a tutela dos governadores e presidente de republica

  4. É inacreditável como a Justiça tem sido leniente com esses bandidos! Cadê o primeiro escalão do Poder judiciário, que não toma providências? Será que o Brasil está mesmo entregue à bandidagem?

  5. E a história se repete… Quando vierem as próximas eleições todos esses corruptos e mais milhares serão reeleitos por todo o país.

  6. No entorno da famiglia do Pangaré Sociopata impera a mentira, a trapaça, a proteção e sigilo ilegais. Há também o sigilo oficial secular.

  7. O sonho de todo Gado e dizer aos Mortadelas, vocês são otarios , não souberam roubar , viu como se rouba , é só capturar as instituições e dobrar os salários e pensões dos Milicos !!! Não precisa dar Armas nem tanques para estes barrigudos , só Picanha, Leite Condensado, Whiskey e Muita Mordomia , e encher de cargos nas Estatais !!! Povo brasileiro pula em esgoto , não acontece nada, imagina nós só roubando , gasolina a 8, inflação real a 20 , da 400,00 estes trouxas vão chupar osso !!!

  8. Moro reacendeu minhas esperanças nesse país. Mas vai precisar de muita coragem para governar esse antro de parlamentares e juízes venais.

    1. Vai precisar acima de tudo, da consciência e honestidade do eleitor ao escolher os candidatos a cargos políticos. Sozinho sem apoio de outros políticos estará fadado ao fracasso, e talvez até a morte. A podridão e bandidagem é muito gr. Nós somos responsáveis diretamente por td isso a partir do nosso voto. Deus salve o Brasil e seu povo anestesiado.

  9. O Brasil foi governado pela Máfia do ABC, que dentre outras atrocidades, assassinou Celso Daniel. Com um interregno do Temer, corrupto para toda obra, passamos o poder para os milicianos do Rio. Precisamos eleger agora, o Presidente da República de Curitiba, Moro. Na República de Curitiba, bandido, mesmo os poderosos, não tem vez. Viva a República de Curitiba. Viva Moro Presidente 🇧🇷.

    1. Carluxo não consegue passar de fase no nosso jogo. A justiça podre aceitou mensagens hackeadas e adulteradas como prova à favor do Lula. E seu pai falou: "Para que não haja dúvida, mandei pedir aquela matéria hackeada que está na mão do PT, na mão do Lula. Tem meu nome lá. Alguma coisa já passaram para mim. Vocês vão cair para trás. Chegando, eu vou divulgar. O Lula não vai divulgar. Já falou que não vai. Eu vou divulgar." Bolsonaro e Lula são faces da mesma moeda. Moro Presidente 🇧🇷

    2. Juíz que Não conseguiu nem sustentar a prisão do maior corruPTo do Brasil e quer ser presidente 😄🤣😆😂😁🐁

    1. Pois é, Adriano… poluindo o maravilhoso ar puro respirado em todo o país. Lá, pelo menos, eles prendem.

  10. Pesquisar assuntos escusos de pessoa pública é um dos grandes trabalhos da imprensa. Esse é um assunto inacabado e cheio de muros que parecem intransponíveis. Mas ninguém consegue esconder a vida toda. Só teremos que aguardar até que alguém cometa uma falha.Corrupto não deixa de ser corrupto

    1. E quando bem investigado, estão lá as altas cortes de (in)justiças para melar tudo.

    2. E não existe crime perfeito. Apenas, crime mal investigado.

  11. RACHADINHAS, CORRUPÇÃO nas VACINAS e MANSÕES para o 01 e 04! BOLSONARO é um DEGENERADO MORAL que IMPEDE o BRASIL de AVANÇAR! Em 2022 SÉRGIO MORO “PRESIDENTE LAVA JATO PURO SANGUE!” Triunfaremos! Sir Claiton

    1. Carluxo, a casa do clã mega delinquente dos Bolsonaros vai desmoronar em breve, são muitos crimes cometidos por ignorantes toscos ! #moro2022

  12. A turma da mochila não é fácil... ganhou o governo de graça e não faz seu papel... me faz lembrar o caso de pessoas lotadas do governo que visitaram , no xilindró ,o estelionatário de bitcoins de Cabo Frio..

    1. É de revolver o estômago 1 milhão de vezes!!! Que asco esses ratos despertam!!!

    1. Pois é Lenora, poluindo o ar puro respirado em todo o país.

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