Carlos Fernandodos santos lima

A ansiedade e a terceira via

29.10.21

Estamos há menos de um ano das próximas eleições presidenciais e a ansiedade vai tomando conta dos potenciais candidatos e, especialmente, de seus simpatizantes. Se as duas candidaturas populistas parecem certas, Luiz Inácio Lula da Silva pela extrema-esquerda e Jair Bolsonaro pela extrema-direita, ainda há muita incerteza acerca dos nomes que comporão o centro democrático.

A ansiedade é perfeitamente compreensível pelo lado da extrema-direita, considerando o derretimento dos índices de aprovação do governo Bolsonaro, abandonado por boa parte dos seus eleitores de 2018 diante do descalabro de seu governo, especialmente na economia e no combate à Covid. Seu último ultraje foi o de associar de forma irresponsável e criminosa a vacinação contra o coronavírus e o desenvolvimento de Aids, criando entre a população menos informada ou fanática a impressão de que existe uma vinculação entre as duas doenças, fato completa e absolutamente falso.

Como já nos manifestamos há tempo, Jair Bolsonaro deveria ser objeto de impedimento por tudo o que fez de errado e não fez de certo durante a pandemia, incluindo agora essa sua afirmação mentirosa e desumana. Como não é possível se tratar apenas de mera ignorância, é de se questionar inclusive a higidez mental do presidente, que parece sofrer de uma falta de empatia e remorso que beira a psicopatia. O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito só consolidou o que já era amplamente conhecido: Bolsonaro e seu gabinete do ódio foram responsáveis por milhares de mortes evitáveis. Entretanto, como mortes, ética ou justiça não são fatos importantes para o mundo político, o resultado da CPI adormecerá nas gavetas de Augusto Aras e Arthur Lira.

Se a impunidade é garantida pelas ambições de Aras e pela cupidez de Lira, a percepção de que Jair Bolsonaro não conseguirá chegar ao segundo turno tem aberto a esperança de que um nome que lhe seja o oposto no trato da economia e no combate ao coranavírus, mas que também não se vincule à corrupção sistêmica promovida pelo Partido dos Trabalhadores e pelo Centrão, surja como alternativa viável para ganhar de Lula no segundo turno. Aqui, como se pode notar, damos como certo de que o candidato da esquerda será o ex-condenado, pois a única alternativa da esquerda, Ciro Gomes, possui pouca capacidade de se opor ao petismo e sua máquina sindical.

Mas está claro também que Lula está longe de ser imbatível. Na verdade, apesar de surgir neste momento com excelentes índices de preferências do eleitorado, deixou há muito de ser alguém que entusiasme a população ou o mercado. Na verdade, Luiz Inácio se parece mais à sua velha versão espelhada, Paulo Maluf, que para boa parte da população era sinônimo de corrupção e hipocrisia com a assunção informal do mote “rouba, mas faz” ademarista, agora repaginado para a versão petista do “rouba, mas tem programas sociais”. Lula não será agora mais o “Lula-lá” da esperança, jogada no lixo por seu uso hipócrita da corrupção como forma de governar, nem mais o “Lulinha Paz e Amor”, pois incapaz de esconder seu desejo de vingança contra aqueles que o colocaram preso e sua pauta antimercado.

Dentre as alternativas a esses dois demagogos, muito se especula sobre a candidatura do ex-juiz Sergio Moro, esperando dele uma voz de comando para o início da campanha desde já. Certo apenas é que o lançamento da campanha neste momento somente interessa aos dois populistas, que começarão imediato bombardeio, secundados por seus defensores na mídia e no próprio STF. Certamente o ex-juiz deverá sair da sua tradicional reserva e construir um diálogo direto com o eleitorado, se quiser ter realmente chance nas eleições presidenciais de 2022. Quem o conhece pode afirmar que ser candidato a presidente nunca esteve nas aspirações de Sergio Moro, mas a política, movida pelos ventos do destino, está além da mera vontade daqueles que nela se aventuram, ainda mais para quem se acha imbuído do desejo de contribuir para um país melhor, como Moro.

É claro que muitos verão essa minha afirmação com cinismo, especialmente aqueles que acompanham o funcionamento das decisões políticas de perto. Certo é que conviver muito tempo com essa realidade política realmente pode fazer qualquer um descrer no certo e desacreditar em valores. Existem realmente, contudo, pessoas imbuídas do desejo de um país melhor, construído sobre princípios, pois se isso não for verdade, teremos que admitir que nossa experiência democrática dos últimos 30 anos se encontra completamente falida. Apesar dos cínicos estarem normalmente certos sobre muitos sepulcros caiados, são justamente os poucos reais idealistas que trazem mudanças positivas para a sociedade. E posso dar meu testemunho pessoal de que Sergio Moro não é um fariseu hipócrita.

Outros nomes da terceira via também terão um longo caminho para se firmarem como alternativa viável para as próximas eleições. Enquanto Doria e Leite se digladiam pela candidatura do PSDB, Mandetta terá que se colocar perante o novo partido União Brasil como um candidato em quem se vale a pena apostar. Como ACM Neto, presidente do DEM, vem enfatizando a opção pela candidatura própria, certamente haverá uma debandada dos bolsonaristas fiéis que ainda se encontram no PSL. A questão, portanto, da candidatura Mandetta ainda terá muitos desdobramentos.

Outros nomes, como Amoêdo ou Luiz Felipe D’Avila pelo Novo e Simone Tebet pelo MDB, enfrentarão ainda mais dificuldades que Mandetta dentro de seus partidos, para saírem como candidatos à presidente. O Novo possui uma forte corrente bolsonarista, que certamente preferirá seguir na aba do chapéu de Jair Bolsonaro, enquanto Tebet é um nome que não entusiasma a confederação de caciques emedebistas. Completando o elenco de nomes representativos da ideia de mudança e de rejeição ao bolsopetismo, temos o senador Alessandro Vieira, do Cidadania, que se destacou positivamente durante a CPI da Covid, sendo um contraponto ético e inteligente ao histrionismo de muitos outros membros da comissão.

Salvo o aparecimento de um completo outsider neste próximo ano, parecem ser esses os nomes passíveis de criarem uma alternativa ao cenário maniqueísta do atual momento. Outros nomes, como o de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, no máximo entusiasmam seus poucos assessores. As vezes a pompa do cargo faz alguns políticos acharem-se maiores do que são realmente. Não foi outro motivo que levou Rodrigo Maia a ter a veleidade de se pensar candidato à presidente em 2022, quando na verdade terá muitas dificuldades até para se reeleger deputado federal nas próximas eleições.

Por tudo isso, a ansiedade por uma definição clara do nome da terceira via neste momento é um exercício de autoflagelação emocional. A corrida presidencial já teve sua largada, mas o desempenho dos candidatos à frente nas pesquisas pode ser equivalente a um cavalo paraguaio, incapaz de manter o folego e a dianteira até o final. É claro que Lula e Bolsonaro sonham um com o outro e possuem uma base de apoio fanática e significativa, mas ambos também são muito rejeitados e a dinâmica do apoio popular à Terceira Via somente será definida nos dois meses anteriores à eleição.

Agora cabe apenas a esses candidatos da terceira via lutarem pela indicação de seus partidos e, se houver grandeza, firmarem um pacto pelo apoio na reta final da eleição ao candidato com mais possibilidade de vitória, mesmo porque qualquer um deles que desejar montar um governo terá que buscar apoio justamente com o PSDB, Podemos, Cidadania, União Brasil, MDB e Novo – além de atrair a Rede e o próprio PDT. A decisão será no photo finish, para o desespero de muitos já agora ansiosos, mas nunca uma alternativa de terceira via esteve tão forte como nesta próxima eleição.

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