DiogoMainardina ilha do desespero

O voto vem depois

15.10.21

Fernando Haddad, oito meses atrás, foi ao Manhattan Connection. Eu o chamei de “poste de ladrão” e ele respondeu que eu era “problemático, até psicologicamente”, e que meu “herói” Sergio Moro seria desmascarado e abatido.

Desde então, fui chutado do Manhattan Connection, o programa saiu do ar e o poste de ladrão deixou de ser um poste de ladrão, porque o STF rasgou todas as provas da ladroagem e o ladrão transformou-se, de uma hora para a outra, em ex-ladrão, dispensando o poste e assumindo pessoalmente sua candidatura.

Só recapitulo essas velharias, de um passado remoto, para dizer que, daqui a oito meses, o ex-poste e o ex-ladrão podem estar de volta, prontos para recuperar o butim perdido. Mas pode ser também que meu herói, que eu tenho incitado publicamente a se candidatar a presidente, consiga usar esse tempo para retornar à Terra e aprisionar o bando maligno.

Para ser sincero, aliás, tenho de confessar que meu herói, na verdade, nem é meu herói. Ele é mais do que isso: é uma pessoa real, sem disfarces e sem poderes sobrenaturais, que combateu criminosos igualmente reais. Nas próximas semanas, Moro vai anunciar que aceita disputar o Palácio do Planalto. Se até meados de 2022 surgir um nome com mais chances do que o dele para derrotar Lula e Jair Bolsonaro, ele pretende renunciar – com total desprendimento – à candidatura. Esse é o plano. Que ele vai cumprir, claro. Esperando que os outros dois – João Doria e Eduardo Leite – também cumpram.

Como se viu, muita coisa pode acontecer em oito meses. Com a entrada de Moro na disputa presidencial, nem as candidaturas de Lula e Jair Bolsonaro parecem tão garantidas assim. O ex-poste pode se tornar poste mais uma vez. E o sociopata talvez acabe pendurado em seu próprio poste. Mas há um fato que não vai mudar: a necessidade de oferecer aos brasileiros um caminho menos calamitoso, que não deve ser o resultado de um gesto heroico ou de um desvario psicológico, e sim de uma escolha ponderada, ajuizada. Neste momento, Moro está conversando com uma rodinha de economistas, empresários e políticos. A prioridade é essa: apresentar um plano de governo, capaz de dar respostas a uma sociedade com um presente desesperado e um futuro sombrio. Trata-se de um empenho coletivo, e não do capricho de um cavaleiro solitário. O voto só vem depois – se vier.

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