AlexandreSoares Silva

Meu Imbecil Pessoal

20.08.21

Um amigo contratou um Imbecil Pessoal. Perguntei o que era isso, e ele me explicou assim:

“É uma ideia que tive faz tempo, mas só recentemente consegui colocar em prática. É ótimo, e aconselho todo mundo a conseguir um.

O princípio é este: quando você ouve as suas opiniões repetidas por um cretino, do jeito tosco dele, você muda de opinião na hora, ou pelo menos a atenua para que ela não seja tão cretina. E quando você age mal, mas não percebe na hora que agiu mal, o apoio de um cretino faz com que você perceba isso com clareza. Assim, andar o tempo todo na companhia de um imbecil é muito mais instrutivo que andar na companhia de um sábio.

Sempre tive um conhecido um pouco burro que, sem querer, fazia isso comigo. Ele me apoia sempre, só que de um jeito cretino, e isso me faz muito bem porque acabo percebendo minhas próprias cretinices e me emendando. Então, na semana passada, tomei uma decisão e fiz uma oferta para o meu conhecido um pouco burro: ele vai receber um salário para andar comigo o tempo todo. É o meu Imbecil Pessoal.

Claro que não falei pra ele que o nome da sua nova profissão é Imbecil Pessoal (isso estou falando só pra você). Para ele, disse que precisava de uma companhia para estimular o meu intelecto. Ele ficou orgulhoso e aceitou o emprego. Até agora esse esquema está funcionando muito bem, e dou a ideia para você caso você queira copiar.

Por exemplo: numa discussão que tive outro dia em uma festa, perdi o controle e fui mal-educado com alguém. Alguns minutos depois o meu Imbecil Pessoal se aproximou de mim pedindo um high-five, TOCA AQUI!, e disse algo do tipo:
— É isso mesmo, fez muito bem! Tem que falar na cara. Polidez é coisa de viado ou de “intelequitual”.

(Como todos os imbecis, ele gosta de falar “intelectual” desse jeito, alongando a letra A e fazendo uma careta de desprezo.)

Ao ouvir isso, o que eu poderia fazer? Obviamente refleti, corei, e pedi desculpas para a pessoa que havia ofendido.”

Essa foi a explicação do meu amigo.

Achei uma grande ideia, e também contratei um Imbecil Pessoal.. Andar com um Imbecil Pessoal do meu lado tem sido um belo método de correção moral para mim. Deixei de acreditar em muitas coisas que acreditava; e nunca fui tão sensato, tão ponderado.

Claro que até do excesso de ponderação ele me protege. Porque outro dia deixei escapar um desses “nem tanto à esquerda nem tanto à direita” que as pessoas que não pensam muito usam quando querem afetar moderação, e o meu Imbecil Pessoal logo disse: “Claro! A verdade NUNCA está em nenhum dos extremos!”.

Ao ouvir isso, percebi a tolice do que tinha dito, e perguntei: “Nunca? Entre duas pessoas com posições em extremos opostos, digamos Fulano que quer porque quer bater numa velhinha que está andando na rua, e Sicrano que é veementemente contra bater na velhinha, os dois estão igualmente errados?”.

Meu Imbecil Pessoal pareceu pensar bastante, e durante um momento fiquei com medo que ele percebesse também que tinha dito uma bobagem, e ficasse menos burro, e eu tivesse que despedi-lo na hora. Mas para o meu alívio ele só repetiu que todos os extremos estão SEMPRE errados.

De modo que estou muito contente com o meu Imbecil Pessoal.

Enfim: coitado de Alexandre, o Grande, que andava na companhia de Aristóteles! Teria sido muito mais inteligente andar sempre na companhia do mais cretino dos seus soldados.

***

Talvez vocês tenham visto que, segundo o relatório de fevereiro de 2021 do departamento oficial do governo americano para a reconstrução do Afeganistão (o famigerado SIGUR), os Estados Unidos gastaram quase um bilhão de dólares tentando ensinar teoria de gênero aos afegãos.

Isso me fez imaginar como deve ter sido uma aula dessas.

Uma sala cheia de pastores afegãos. Uma professora americana vai na frente da sala e fala durante quarenta minutos, com um intérprete do lado traduzindo tudo, sobre o fato de que o gênero é uma construção social, que algumas mulheres têm pênis, que alguns homens têm vagina, que você deve chamar mulheres grávidas de “pessoas com útero“, que existem “cis” e “gender fluid” e “LGBTQIAP+“, e o que cada letrinha significa etc. etc.

No final dos quarenta minutos, um pastor afegão no fundo da sala parece um pouco confuso. Depois de algum tempo ganha coragem, levanta o braço e pergunta:

— Só pra ter certeza se eu entendi… É pra eu estuprar quem?

O intérprete traduz a pergunta. A professora americana pensa um pouco e logo começa a dar uma aula sobre “Me Too”, assédio no ambiente de trabalho corporativo, Harvey Weinstein, Woody Allen, o cara da Pixar que pôs a mão no joelho da filha do Quincy Jones etc.

Depois dos aplausos, quando todo mundo está indo embora e a professora americana já foi evacuada de helicóptero, um pastor se vira para outro e diz baixinho:

— Achei bacana, mas… Você entendeu quem é que é pra gente estuprar?

Não é possível que a realidade tenha sido muito diferente disso.

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