RuyGoiaba

Elvis não morreu: veja se você é um deles

09.07.21

“Rapaz, você leu o Jornalão X hoje?” “Não. O que tem ele?” “Tá dizendo na manchete que o Elvis não morreu.” “Mentira. Elvis Presley, aquele?” “Sério. Eles levantaram os dados oficiais. Não acharam registro da morte.” “Mas ele morreu em 1977, não morreu? A imprensa do mundo inteiro noticiou na época.” “Tem mais.” “O quê?” “Existem 327 Elvis Presleys com o mesmo nome, data e local de nascimento do rei do rock. O Jornalão X recomenda que você verifique se não é um deles.” “Vem cá, esses ‘dados oficiais’ não estão meio esquisitos?”

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“Tem um pessoal na internet dizendo que o Jornalão X está errado.” “Imaginei.” “Esses dados oficiais não são confiáveis: tem ‘Elvis’ que devia ser ‘Élvio’, ‘Presley’ que na verdade é ‘Prestes’, um punhado de ‘Elvis Presley de Oliveira e Silva’, talvez até gente que quis fazer zoeirinha no preenchimento e pôs os dados do Elvis verdadeiro.” “Entendi. No meio de milhões de dados, imagino que isso seja meio inevitável.” “Pois é. Existe base de dados que diz que o Brasil tem 504 presidentes da República, outra em que uma cidade pequena tem uns 1.000 jornais, outra que assegura que a PM paulista matou a mesma pessoa 15 vezes. Todas oficiais.” “Tem que desconfiar. Mas e aí, o Jornalão X já se corrigiu?” “Não, mas eles são rigorosos, tenho certeza de que vão postar logo uma errata.”

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“O Jornalão X está publicando uma série de matérias comprovando que existem, de fato, Elvis Presleys nascidos no mesmo dia do rei do rock. Encontraram um em Carazinho, outro em Feira de Santana e um terceiro em Nepomuceno. Também estão dizendo que o jornal alertou para a proliferação de sósias da fase cafona do Elvis como um grave problema de saúde pública.” “Corrigiram a manchete?” “Negativo. Alegam que os dados são OFICIAIS, com maiúscula mesmo, que eles passaram semanas debruçados sobre as bases de dados e que, de todo modo, haver 327 Elvis registrados é absurdo e requer correção.” “Concordo, mas isso é diferente de ‘Elvis não morreu’.” “Ah, a autora da reportagem chamou os críticos de ‘machistas’ nas redes sociais.” “Bacana.”

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“Olha só, o Jornalão X publicou um artigo detonando os críticos do ‘Elvis não morreu’. Dizendo que a reportagem é transparente em expor as falhas do sistema e quem viu problema nela é purista, bobo, feio e cara de mamão.” “Deixa ver aqui. Ah, conheço os autores. Já fizeram eventos em parceria com a repórter do Jornalão.” “Epa, peraí. Essa informação não consta do artigo.” “Pois é, transparência.” “Vão publicar uma opinião contrária?” “Costumavam fazer isso, mas acho que esse lance de ‘pluralismo’ meio que saiu de moda.” “Ser pluralista é coisa do passado, a onda agora é polarizar pelado.” “Credo, Deus me livre.”

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“Finalmente o Jornalão X se corrigiu! Demorou quatro dias, mas admitiram o erro.” “Muito bom! Deixa ver aqui… bem, se corrigiram numas, né? O enunciado agora é ‘Registros indicam que Elvis pode não ter morrido’.” “Verdade, mas antes tarde do que nunca.” “Mas, rapaz, Elvis Presley morreu bem morridinho mesmo. Até fui checar data e local: 16 de agosto de 1977, em Memphis, Tennessee. Tem laudo, houve funeral em Graceland, ele está enterrado lá há décadas.” “Querido, são dados OFICIAIS. Que parte você não entendeu? E o Jornalão X não erra: no fundo, somos todos Elvis Presley.” “A wop bop a-loo bop-a-lop bam boom.”

 

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A GOIABICE DA SEMANA

Nossos bravos comandantes militares divulgaram nesta quarta-feira (7) uma nota de repúdio às declarações em que Omar Aziz, o presidente da CPI da Covid, disse que as Forças Armadas deviam estar “muito envergonhadas” pela presença de integrantes de seu “lado podre” nos rolos envolvendo compra e venda de vacinas no governo de Jair Bolsonaro. Como esse “lado podre” indica, não houve generalização nenhuma, mas o senador foi acusado justamente de generalizar suas acusações — e não no sentido de “transformar em general”, digamos.

É um hábito bem brasileirinho, e aliás compartilhado por gente como os petistas ao longo das investigações da Lava Jato: o problema não é quem rouba (ou é acusado de roubar), mas quem aponta o dedo para quem rouba. Mais um triunfo do que já chamei de miliquismo de sunga, cada vez mais desavergonhado.

FolhapressFolhapressFigueiredo, patrono do miliquismo de sunga, hoje levado às últimas consequências

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