CrusoéA Times Square já revive o alvoroço de tempos normais

O dia depois do fim

Nova York mostra para o mundo que um plano competente de vacinação é o melhor atalho para o retorno à vida normal
25.06.21

O sorriso estampado no rosto dos integrantes do quinteto de jazz que anima o fim de tarde em uma calçada próxima ao Empire State Building é o retrato perfeito de que há vida pós-pandemia – algo que, infelizmente, ainda é uma realidade um tanto distante no Brasil. Depois das cenas apocalípticas do ano passado, com tendas de hospitais de campanha montadas no meio do Central Park e congeladores gigantes à espera de corpos em uma morgue improvisada na orla, com a Estátua da Liberdade ao fundo, Nova York volta a respirar ensinando ao mundo que vacinar, e vacinar com planejamento e competência, é o atalho mais curto para a volta à normalidade.

Dos 8,3 milhões de habitantes das cinco regiões da cidade, praticamente a metade já está completamente imunizada. Em Manhattan, sete em cada dez pessoas tomaram ao menos uma dose das vacinas disponíveis, as da Pfizer, da Moderna e da Janssen. Por toda Nova York é possível encontrar postos de vacinação funcionando. Para localizá-los, basta uma rápida pesquisa na tela do celular e logo aparece o mapa apontando o mais próximo. Em alguns, não é necessário nem agendar. Basta chegar e a agulhada vem em questão de minutos. No metrô, nos ônibus e em placas luminosas nas ruas, campanhas publicitárias insistem em convencer os ainda reticentes de que é preciso se imunizar.

No início deste mês, a cidade que foi o epicentro da pandemia nos Estados Unidos, com mais de 33 mil mortos pela Covid-19, conseguiu pela primeira vez, desde março de 2020, passar 24 horas sem um único óbito decorrente da doença. O número de casos confirmados caiu 95% em relação ao período mais crítico. Desde maio máscaras já não eram necessárias em lugares abertos para quem estivesse vacinado, mas na semana passada o governador Andrew Cuomo anunciou a suspensão de outras medidas restritivas. Restaurantes, lojas e outros estabelecimentos comerciais não precisam mais limitar o ingresso de público ou observar o distanciamento físico entre os clientes. Máscaras só são exigidas agora em creches, unidades de saúde e no transporte público.

CrusoéA Terry Waldo’s Gotham City Band toca jazz na calçada: dose extra de satisfação
“A vida segue em frente. Aprendemos muito ao longo do último ano, conquistamos muito ao longo do último ano. O nosso desafio tem de ser reimaginar Nova York e dizer que vamos fazer uma Nova York que seja melhor do que nunca. Temos de capitalizar este momento, aproveitar este momento de transformação”, comemorou o democrata Cuomo ao anunciar a novidade. Fogos de artifício estouraram em vários pontos da cidade para festejar o fim de quase todas as restrições.

Ainda há marcas da tragédia. Hotéis se readaptando à rotina, pontos comerciais abandonados no meio da crise e outros, recém-reabertos, tentando retomar a atividade – alguns, em áreas menos nobres, com produtos absurdamente empoeirados postos à mostra – remetem à ideia de uma megalópole que sobreviveu a uma catástrofe, como nos filmes. Mas meses depois de rodarem o mundo imagens deprimentes da Times Square deserta e de lojas icônicas da Quinta Avenida de portas cerradas, a economia da cidade se refaz. Há muitos sinais a confirmar o boom de crescimento esperado para depois da pandemia. Placas em vitrines com ofertas de emprego podem ser vistas em várias partes. Há obras e operários da construção civil trabalhando por todo canto, bem mais do que o normal, como se a cidade estivesse correndo para recuperar o tempo perdido.

A Broadway ainda se prepara para reabrir seus teatros. Mas o mundo do showbizz já começa a faturar novamente. No domingo, 20, a tradicional arena do Madison Square Garden reabriu com lotação máxima. Vinte mil pessoas vacinadas estavam na plateia para ver a banda de rock Foo Fighters. Sem máscaras e sem distanciamento. Outros espetáculos para grandes públicos estão marcados para os próximos meses.

CrusoéFamílias curtem o dia na Little Island, a nova atração da cidade: aglomeração com segurança
As condições de acesso à vacina, inclusive para estrangeiros, revelam um mundo bem distante da realidade do Brasil, que teve a oportunidade de garantir milhões de doses ainda no ano passado e esnobou, oficialmente, as ofertas. Em um dos centros de imunização mais procurados da cidade, no segundo andar de uma antiga loja da liga nacional de futebol americano, bem no miolo da Times Square, é possível escolher a vacina e sair imunizado em menos de quarenta minutos, a depender do dia e do horário. Na fila, há nova-iorquinos retardatários e visitantes de várias nacionalidades.

Crusoé conversou, dias atrás, com uma família do Rio de Janeiro que fez uma viagem-relâmpago de quatro dias a Nova York para ser vacinada. Do aeroporto, pai, mãe e filho seguiram direto para o posto de vacinação. Os três optaram pela fórmula da Janssen, de dose única – nos Estados Unidos, a segunda dose da Pfizer é aplicada em 21 dias e a da Moderna, em 28 dias. No interior do centro de vacinação, em um cartaz gigante afixado na parede, americanos e estrangeiros de várias partes do mundo agradecem, em mensagens escritas com pincéis coloridos, a oportunidade de receber a vacina. No canto inferior, um brasileiro protestou em letras garrafais: “Bolsonaro genocida”. Bem ao lado, um colombiano inconformado seguiu na mesma toada. “Ivan Duque também”, escreveu, referindo-se ao presidente do país, igualmente criticado pela atenção dispensada ao combate à pandemia.

Nos Estados Unidos, até quando há problemas o país esbanja método e organização. No início do mês, justamente no centro de vacinação da Times Square, por cinco dias foram aplicadas doses da Pfizer impróprias para uso. As 899 pessoas que receberam essas vacinas foram alertadas logo depois, por e-mail, de que precisavam repetir o processo. Oficialmente, a explicação era a de que os frascos haviam sido armazenados no freezer por mais tempo que o necessário. Se, por um lado, a mensagem admitia uma falha grave, por outro era uma demonstração eloquente de como o processo vem sendo levado a sério no país – e de como têm funcionado os controles oficiais destinados a corrigir erros.

CrusoéCrusoéO protesto contra Bolsonaro no posto de vacinação
“Como não podemos garantir a efetividade da dose que você recebeu, recomendamos que ela seja repetida para assegurar a proteção. A dose administrada de maneira inadequada não será considerada para a série completa da vacina. A dose a ser repetida pode ser aplicada imediatamente (sem período de espera) no braço oposto”, dizia o e-mail, antes de pedir desculpas pela falha e por eventuais preocupações dela decorrentes. As autoridades sanitárias garantiam, a quem perguntasse, que a repetição da dose não oferecia riscos à saúde. A equipe que trabalhava no posto foi demitida em razão da falha.

Mais de 178,3 milhões de pessoas – precisamente 53,7% da população – já foram vacinadas nos Estados Unidos com ao menos uma dose. Nova York é a maior vitrine da imunização no país e tem servido para puxar as demais regiões para o retorno à vida normal. O exemplo da cidade não poderia ser melhor. De compras no mercado a um simples café na esquina, situações comuns do cotidiano que haviam desaparecido da rotina das pessoas no ano passado voltaram a ser vividas com doses extras de satisfação. A retomada da normalidade dá força, mais do que nunca, à máxima de que é preciso valorizar até os hábitos mais comezinhos do dia a dia. Os museus, como o Metropolitan, estão cheios. Nos espaços públicos de lazer, do Central Park à novíssima Little Island, a “ilha” construída no lugar de um velho píer à margem do rio Hudson, a imagem de famílias inteiras aglomeradas podendo aproveitar novamente um dia de sol é a prova de que, sim, com vacina, a vida pode continuar após o longo e tenebroso inverno da pandemia.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Pé no escrotal esse sistema de comentários da crusoé.. vc escreve, não aparece... tem q ficar escrevendo novamente pq nem pode copiar o comentário antes de “publicar”...

  2. Reportagem desonesta. SE os EUA estão bem, deveria-se agradecer a Trump (o repórter preferiu não fazer menção. Como seria muito desonesto elogiar só o Biden...). Segundo: a vacina da fiocruz/astrazeneca poderia ser a primeira a ficar pronta e ser a mais eficiente; mas não foi... azar e sorte desempenharam papéis mais relevantes do q a imprensa quer admitir. Por fim: a melhor administração está relacionada c/ a possibilidade de demissão (q foi o caso); aqui a estabilidade do servidor não permite.

  3. Apesar de uma certa inveja, pois poderíamos ter nos vacinado na mesma época, fico feliz de pelo menos alguns lugares estarem voltando a vida normal.

  4. a sociedade baseada no ilusionismo mental da imagem técnica: é isto que se tornou a terra dos antigos puritanos, é muito irônico isto, como os descendentes de quem condenou tanto a iconografia católica sob o rotulo de idolatria, hoje vivem a vida baseados no que as imagens veiculam. Então se todos saem as ruas com caras felizes e o governo diz isto todos repetem como um mantra: "a vida esta normal de novo" e assim segue. Gentes que morreram e doentes não importam a estes que ignoram a vida real

  5. Além da qualidade da vacina, os políticos americanos trabalharam para superar a pandemia, ao contrário daqui que estão preocupados em se vingarem da derrota na eleição ou enriquecerem com a compra das vacinas (optando inclusive pela ..mais ineficiente .delas, a coronavac patrocinada pelo Doria como acabou de se informar) Legislativo e judiciário corrompidos.

    1. Gado-Fernando, agradeça o Doria se 25% dos brasileiros hoje estão vacinados! E limpe a sua boca antes de falar besteiras. Poderíamos ter muito mais vacinados hoje sem o criminal negacionista fazendo sua politicagem.

    2. Não existe isso de ineficiente. Desde que aprovada pela Anvisa tem aval de segurança. Vacinação é uma estratégia coletiva e não individual. Serrana mostrou isso. De nada adianta ser sommelier de vacina, se não houver adesão maciça à vacina . Deixe de politizar a ciência e informe-se adequadamente antes de passar recibo de sem noção. Obrigada!

    1. Um país bonito pela própria natureza e fudido pelos homens escrotios que aqui dominam. TRISTE!

  6. Nova Iorque? O Governador de NY, Andrew Cuomo, assinou um decreto em 25/3/2020 autorizando idosos que testaram positivo para a covid a retornarem para as casas de repouso onde viviam; milhares de idosos morreram por causa dessa decisão. O jornalista (?) deveria se informar melhor antes de escrever.

    1. Giuseppe, fio, graças ao Orange Man que foi possível os E.U. terem vacina em tempo recorde. Pesquise Operação Warp Speed antes de falar asneira ;-)

    2. Acho que lá tb. tinha um cretino sem moral propagando o uso da Cloroquina..... Voltou para o esgoto da História de onde não teria tido que sair..... Logo o Bosta irá junto!

    3. No inicio era tudo muito confuso. Ninguém tinha muita informação. Com o passar do tempo, as recomendações foram se adaptando às observações científicas. É muito cabotino de sua parte usar um argumento claramente tendencioso ( mal intencionado) e inadequado. Só o "fulano" negacionista não se atualiza nunca, para prejuízo de todos nós.

    4. Será que não lhe é dado o direito de errar? E, se cometer um erro, não pode ter vários acertos?

  7. Que maravilha viver num país enorme, maior que o brasil, com governante sério e responsável, disposto e lúcido, de que a única receita para a vida, a economia, o turismo são vacinas, segurança, educação e saúde. Povo produtivo é feliz e realiza coisas. Não à toa que é a maior potência do mundo. Sonho de consumo é morar em NY. Mas vou optar pela Itália pela facilidade da cidadania, língua e familiares. Mas NY me aguarde. Brasil se Deus quiser, nunca mais. É Ele quer, eu quero. Vai dar certo.

  8. Parabéns aos americanos, que dão aula de democracia ao povo brasileiro! Nossa vida é um inferno porque apostamos sempre nas piores figuras e não aprendemos com os erros! Muito pelo contrário, repetimos as mesmas narrativas votando em partidos e nomes que de nada valem! E sob a chancela do STF, o grande mal deste país na atual década.

    1. Copie o modelo americano, então (que sou a favor). Basta dizer que precisamos copiar o MODELO POLÍTICO AMERICANO e os “inteligentinhos” ficam com “nojinho”.

  9. Esta querendo comparar os EUA com esse lixo, governado por bandidos desde o descobrimento. Essa sub-raça que vota em Sarney, Lula, Collor, FHC, Dilma kkkkk. Que imbecil esse repórter.

    1. Concordo com todo esse elenco que você citou, mas falta o atual ou você não concorda?

  10. O governo que respeita seus pagadores de impostos é assim. A verdade e agilidade na defesa do cidadão sempre.

    1. Mas lá o povo colaborou, atendendo às recomendações e tomando as vacinas. Aqui ainda tem muito negacionista renitente, que não aprende nem com o óbvio. E atrasam o processo. É o conjunto da obra que faz a diferença. Cabo de guerra só serve pra ninguém sair do lugar. É um patinar na ignorância e na teimosia, tão abrangente , que não dá nem pra comparar. A Nação é o seu.povo!

  11. Na hora de cobrar vcs esquecem que somos terceiro mundo com mais de 5 milhões de moradores de favela, 50% sem saneamento básico, um dos últimos em educação e uma politicagem ideológica. HIPÓCRITAS.

  12. Rodrigo, me responde uma duvida: a família citada, que fez a viagem relâmpago, não fez quarentena no México? Do jeito que você escreveu, pareceu que voaram do Rio direto para NY. Poderia explicar melhor por gentileza.

    1. Também não entendi e pelo jeito vamos ficar no ar, o pessoal da Crusoé não responde aos comentários.

  13. Parabéns aos Americanos! O Brasil infelizmente seguiu o caminho oposto, por incapacidade e incompetência de um Governo que só visa sua reeleição, boicotou todas as possibilidades de conter a pandemia!

    1. E porquê isto acontece sr. Fernando? Acredito que seja porque nossos governantes sempre quiseram manter o nosso povo na ignorância, negando-lhes uma educação decente, eternizando os currais eleitorais. Jamais tivemos um estadista em nossa política e, se esta situação continuar, nunca teremos, infelizmente.

    2. Silvia, vc está certa em parabenizar o povo americano. Esse é o grande problema do Brasil. Um país é feito pelo seu povo, e como temos visto, o nosso deixa muito a desejar, completamente idiotizado e analfabeto.

  14. Boa matéria. Pra quem pode ir aos Estados Unidos se vacinar, perfeito. Lembrando que éramos referencia mundial, e poderíamos ter sido vitrine pro mundo e ainda lucrar vendendo ou ofertando vacinas a america latina, aumentando poder e prestígio. Mas o "presidente" prefere ouvir pessoas que crêem na terra plana. Dá no que dá.

  15. Que tristeza sinto ao ler esta matéria e ver que aqui, em terras tupiniquins, tudo vai de mal a pior, a começar pelo irresponsável que ocupa o cargo máximo deste país.

Mais notícias
Assine agora
TOPO