O conselheiro Collor
Durante a campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro começava a se revelar um fenômeno de popularidade em todo o país, experientes analistas políticos e dirigentes partidários traçavam paralelos entre o perfil do então candidato a presidir o Brasil e o do senador Fernando Collor. O jeitão moralista, língua solta, metido a atleta e até certo ponto carola, de fato, lembrava o physique du rôle do ex-presidente. À época, houve entre os adversários políticos de Bolsonaro quem vaticinasse que o então aspirante ao Planalto poderia ter o mesmo destino do político de Alagoas, apeado da Presidência em 1992 depois de ser alvo de um processo de impeachment em que foi acusado de corrupção.
Foi para, entre outros objetivos, não amargar o mesmo infortúnio de Collor que Jair Bolsonaro resolveu incluir o ex-presidente em seu rol de conselheiros. Nas conversas com o presidente, o alagoano tem adotado a linha “faça o que eu digo, mas não faça o que eu fiz”. Ou seja, recomenda a Bolsonaro que não repita os erros que levaram ao fim prematuro de seu mandato. Por exemplo, para Collor, vale mesmo tudo para manter maioria no Congresso. Em sua avaliação, se não tivesse perdido a sustentação parlamentar, ele jamais teria deixado o poder antes de completar o mandato, mesmo debaixo de denúncias de corrupção.
Como é facilmente notável, Collor apenas tem reforçado um caminho que Bolsonaro já vinha trilhando sem qualquer pudor, ao franquear o governo ao Centrão e criar um “orçamento paralelo” – um eufemismo para compra de apoio político – a fim de conquistar o comando das duas casas do Congresso e manter os parlamentares de sua base bem aquinhoados. De qualquer forma, Bolsonaro conta com a experiência do ex-presidente na hora de tomar algumas decisões políticas importantes. Por exemplo, segundo fontes do Planalto, o presidente teria consultado Collor antes de nomear a atual ministra Flávia Arruda, mulher do notório ex-governador do DF José Roberto Arruda, para a Secretaria de Governo.
Collor e Bolsonaro, no entanto, não estão unidos somente pelos conselhos que um oferece ao outro. Com a aliança de conveniência, os dois miram 2022. Os interesses se entrelaçam porque ambos cultivam um inimigo em comum em Alagoas: o atual relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, um ex-aliado de Collor que o traiu às vésperas do impeachment. O atual e o ex-presidente atuam para montar uma frente a fim de reduzir o poder dos Calheiros no estado. O aspecto mais relevante do plano é impor uma derrota a Renan Filho, atual governador de Alagoas e filho do relator da CPI, que concorrerá ao Senado no próximo ano. Um dos candidatos será justamente Collor. O presidente tem levado o senador consigo em seu périplo pelo Nordeste destinado a inaugurar toda e qualquer obra. Em maio, em um desses eventos, os dois posaram juntos para fotos. Em meio à claque bolsonarista, Bolsonaro se referiu a Collor como “nosso senador” e um homem “que luta pelo interesse do Brasil”.
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