Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilCollor e Bolsonaro acertam aliança em Alagoas e ex-presidente passa a ter trânsito livre no governo

O conselheiro Collor

As conveniências políticas que unem Jair Bolsonaro ao ex-presidente Fernando Collor. O inimigo comum é Renan Calheiros
11.06.21

Durante a campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro começava a se revelar um fenômeno de popularidade em todo o país, experientes analistas políticos e dirigentes partidários traçavam paralelos entre o perfil do então candidato a presidir o Brasil e o do senador Fernando Collor. O jeitão moralista, língua solta, metido a atleta e até certo ponto carola, de fato, lembrava o physique du rôle do ex-presidente. À época, houve entre os adversários políticos de Bolsonaro quem vaticinasse que o então aspirante ao Planalto poderia ter o mesmo destino do político de Alagoas, apeado da Presidência em 1992 depois de ser alvo de um processo de impeachment em que foi acusado de corrupção.

Foi para, entre outros objetivos, não amargar o mesmo infortúnio de Collor que Jair Bolsonaro resolveu incluir o ex-presidente em seu rol de conselheiros. Nas conversas com o presidente, o alagoano tem adotado a linha “faça o que eu digo, mas não faça o que eu fiz”. Ou seja, recomenda a Bolsonaro que não repita os erros que levaram ao fim prematuro de seu mandato. Por exemplo, para Collor, vale mesmo tudo para manter maioria no Congresso. Em sua avaliação, se não tivesse perdido a sustentação parlamentar, ele jamais teria deixado o poder antes de completar o mandato, mesmo debaixo de denúncias de corrupção.

Como é facilmente notável, Collor apenas tem reforçado um caminho que Bolsonaro já vinha trilhando sem qualquer pudor, ao franquear o governo ao Centrão e criar um “orçamento paralelo” – um eufemismo para compra de apoio político – a fim de conquistar o comando das duas casas do Congresso e manter os parlamentares de sua base bem aquinhoados. De qualquer forma, Bolsonaro conta com a experiência do ex-presidente na hora de tomar algumas decisões políticas importantes. Por exemplo, segundo fontes do Planalto, o presidente teria consultado Collor antes de nomear a atual ministra Flávia Arruda, mulher do notório ex-governador do DF José Roberto Arruda, para a Secretaria de Governo.

Foto: Alan Santos/PRFoto: Alan Santos/PRA ministra da Secretaria da Governo, Flávia Arruda, teve a bênção de Collor
No início de fevereiro, Bolsonaro convidou o ex-mandatário para uma reunião da equipe econômica, para dar sugestões sobre como reduzir o impacto do reajuste dos combustíveis, anunciado àquela altura pela Petrobras. “Nos deu sugestões, sugestões bem-vindas e acolhidas por nós. E dessa forma nós vamos governando”, admitiu o presidente. Bolsonaro não explicou quais conselhos de Collor foram acolhidos pelo governo. Economia não é exatamente o forte do senador. No início dos anos 1990, o então presidente instituiu o Plano Collor, que incluiu, entre outras medidas, o bloqueio do saldo da poupança dos brasileiros por 18 meses e a troca do cruzado novo para o cruzeiro como moeda oficial do país. Começava ali a deterioração de sua popularidade. Não derrotou a hiperinflação, mas colocou o país em estado de choque.

Collor e Bolsonaro, no entanto, não estão unidos somente pelos conselhos que um oferece ao outro. Com a aliança de conveniência, os dois miram 2022. Os interesses se entrelaçam porque ambos cultivam um inimigo em comum em Alagoas: o atual relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, um ex-aliado de Collor que o traiu às vésperas do impeachment. O atual e o ex-presidente atuam para montar uma frente a fim de reduzir o poder dos Calheiros no estado. O aspecto mais relevante do plano é impor uma derrota a Renan Filho, atual governador de Alagoas e filho do relator da CPI, que concorrerá ao Senado no próximo ano. Um dos candidatos será justamente Collor. O presidente tem levado o senador consigo em seu périplo pelo Nordeste destinado a inaugurar toda e qualquer obra. Em maio, em um desses eventos, os dois posaram juntos para fotos. Em meio à claque bolsonarista, Bolsonaro se referiu a Collor como “nosso senador” e um homem “que luta pelo interesse do Brasil”.

Pedro Ladeira/FolhapressPedro Ladeira/FolhapressCollor conta com Bolsonaro para derrotar o filho de Renan em Alagoas
A aproximação com o poder rendeu a Collor trânsito livre na Esplanada dos Ministérios em Brasília – algo que ele não tinha há muito tempo. Desde o final do ano passado, emissários do parlamentar são bem recebidos nos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento Regional – justamente as pastas envolvidas no “orçamento paralelo” de Bolsonaro. Quem também tem atendido os pleitos de Collor é o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura. No começo do mês, Tarcísio acionou seus subordinados para cuidar de uma demanda do ex-presidente por três obras em Alagoas: a duplicação da BR-101 no trecho que atravessa o estado e a construção de duas passarelas na capital do estado – neste último caso, uma equipe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o DNIT, já visitou os locais, acompanhada de assessores de Collor. O órgão pretende lançar a licitação já no mês que vem. Como neste governo, a exemplo de muitos outros que o antecederam, não existe o toma lá sem o dá cá, na condição de presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, Collor trabalhou por uma emenda do filho 01 do presidente da República, Flávio Bolsonaro, com o objetivo de engordar o orçamento do Ministério do Turismo para obras. Flávio queria que a verba chegasse a 600 milhões de reais, no que contou com os préstimos de Collor.

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