O que é o Cabo Daciolo, senhoras e senhores?

Para alguns, o candidato do Patriota é, mais que uma evidência de que a lei eleitoral falhou –graças à bancada do partido no Congresso, as emissoras de TV são obrigadas a chamá-lo para todos os debates–, uma prova de que o movimento antimanicomial venceu triunfalmente.

Há quem ache que é uma consequência de a Justiça Eleitoral não aplicar exame psicotécnico a quem disputa eleições. Outros, que é uma conspiração dos demais candidatos para que todo mundo pareça normalzinho perto dele. Outros ainda, que o cabo é uma teoria conspiratória de WhatsApp que ganhou vida e as pessoas –inclusive eu, neste texto– simplesmente não resistem a repassar.

Houve coisa pior: o PSOL achou que Daciolo, que liderara uma greve de bombeiros no Rio, era uma espécie de herói soviético e cedeu a legenda para que ele se elegesse deputado federal em 2014, puxado pelos votos de Chico Alencar e Jean Wyllys. Foi expulso do partido depois, mas é um lindo exemplo dos critérios de seleção psolistas.

Eu me confesso fascinado pelo vídeo do cabo “orando e jejuando” no monte, que deve ser a coisa mais Glauber Rocha que Glauber não fez: se filmarem um “Terra em Transe Reloaded”, sua presença será imprescindível. Mas me pergunto o que há de performance nisso tudo. Há método na loucura de Daciolo, como dizia Polônio de Hamlet? Ou ele é mesmo a “mistura de Antônio Conselheiro, Floriano Peixoto e Beato Salu” descrita por um historiador no Twitter?

Uma coisa é certa: de todas as coisas doidas ditas no vídeo (subir ao monte, ameaça dos illuminati, “guerra no plano espiritual”, “a diferença do Cabo Daciolo com Enéas é a intimidade com Deus”), a mais maluca é “não tem déficit na Previdência”. E não queria ser alarmista, mas há outros candidatos por aí dizendo isso. Na verdade, o filme com Daciolo devia se chamar “Loucademia de Política”.

Paulo Lopes/Futura Press/FolhapressDaciolo achando referência à “nação brasileira” na Bíblia (Paulo Lopes/Folhapress)

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A GOIABICE DA SEMANA

Não há concorrência à patacoada do registro da “candidatura” de Lula pelos petistas – feita ao mesmo tempo em que o partido planeja as viagens de campanha do poste Fernando Haddad. O petista gritando do alto do carro de som “concentrem aqui para a gente fazer a imagem”, como relatou O Antagonista, é o melhor resumo da coisa.

Mas não custa lembrar: todo mundo que foi lá comparar Sua Lulidade a Cristo ou o vê como uma espécie de dom Sebastião que voltará para redimir o Brasil merece ir orar e jejuar no monte com o Daciolo.