DiogoMainardina ilha do desespero

Petrobras Connection

07.05.21

A TV Cultura anunciou que o “pedido de demissão de Diogo Mainardi do Manhattan Connection é um assunto interno da produtora”. A nota não esclareceu apenas o conteúdo dos telefonemas de Gilmar Mendes e João Doria.

A propósito de João Doria, é singular que ele tenha se interessado pelo programa na mesma semana em que escrevi uma coluna aconselhando-o a desistir de sua candidatura presidencial e a Crusoé publicou uma reportagem de capa — ignorada pelo resto da imprensa — sobre seus negócios com a China.

Paulo Francis morreu depois de ter denunciado, no Manhattan Connection, a rapina na Petrobras. Meu caso é bem mais ordinário do que o dele: limitei-me a xingar o lulista Kakay, e garanto que não vou morrer por causa disso.

Durante o programa, Kakay disse que Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato — aqueles que escancararam a rapina na Petrobras e prenderam os clientes de Kakay — deveriam estar na cadeia. Quando Lucas Mendes me passou a palavra, sugeri mudar de assunto, porque o defensor lulista, em meu tribunal particular, já foi julgado parcial e suspeito para falar sobre bandidagem. Ele reagiu chamando-me de humorista azedo e burro. Eu não me ofendi. Eu não me ofendo com nada. Só achei pitoresco. Um chimpanzé pula de galho em galho melhor do que eu. Ele come banana melhor do que eu. Ele se masturba melhor do que eu. Mas é pitoresco que ele interprete suas habilidades simiescas como um sinal de argúcia.

Depois que Kakay repetiu pela quarta vez que eu era um humorista azedo e burro, porém, percebi que ele havia ensaiado a tirada diante do espelho. Por isso, e só por isso, mandei-o tomar no c…, parodiando uma frase dita por Fábio Porchat no segundo bloco do programa. Para meu espanto, o resultado não foi bom. A TV Cultura prometeu tomar medidas contra mim. A fim de poupar meus colegas (e amigos) de mais constrangimentos, resolvi pedir demissão.

O Manhattan Connection sobreviveu à morte de Paulo Francis, e vai sobreviver também, é claro, sem mim. O programa é muito maior do que cada um de seus integrantes. O que importa, aqui, é o que conecta esses dois casos: a rapina na Petrobras, que matou Paulo Francis com um processo e, duas décadas mais tarde, conseguiu matar igualmente a Lava Jato, com uma manobra judicial bem representada por Kakay. Paulo Francis e a Lava Jato viraram pó; a rapina na Petrobras, por outro lado, vai permanecer no ar para sempre.

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