Luis Macedo/Câmara dos DeputadosArthur Lira e Rodrigo Pacheco apelaram à ONU por vacinas e insumos

Pedido de socorro

Governadores, parlamentares e cientistas estão pedindo auxílio internacional para enfrentar o avanço da pandemia no Brasil. O vice-presidente Hamilton Mourão, a seu modo, ajuda na iniciativa
16.04.21

Com a lentidão no processo de vacinação dos brasileiros contra a Covid, o senso de urgência tomou conta do Congresso, de governadores e até do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Juntos, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, e chefes dos Executivos estaduais têm tentado, em diferentes frentes e de distintas maneiras, fazer uma espécie de “apelo humanitário” para que governos estrangeiros e até a ONU socorram o país, tanto com a remessa de lotes de imunizantes quanto com a agilização do envio de insumos para a produção de mais doses em território nacional.

À diferença dos demais, até para não melindrar Jair Bolsonaro, Mourão faz um movimento solo e mais discreto. Oficialmente, ele diz que não tem se envolvido no esforço para conseguir mais vacinas, mas nos bastidores tem ajudado. Em um encontro com empresários na Câmara de Comércio dos Estados Unidos na quarta-feira, 14, o vice reforçou a “importância da cooperação internacional” para ampliar a vacinação em massa. Na semana passada, ele já havia recebido o novo embaixador da Rússia em Brasília, Alexey Labetskyi, que tem se empenhado na tarefa de fazer o Brasil adotar o imunizante Sputnik V.

Cientistas brasileiros também estão se movendo para que o apelo chegue o mais longe possível. Nesta quarta-feira, 14, um grupo deles distribuiu um vídeo pedindo ajuda da comunidade internacional. Lira e Pacheco, por sua vez, apelaram diretamente ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, a ONU, o português António Guterres. “Reforcei o pedido de ajuda à ONU para o país se tornar prioridade do consórcio internacional Covax Facility para antecipação da entrega das vacinas”, anunciou o presidente do Senado. Crusoé apurou que Guterres se sensibilizou com a situação do Brasil, embora tenha pouco poder para interferir na distribuição de vacinas pelo Covax Facility. O consórcio internacional da OMS para vacinas contra a Covid-19 tem uma equipe técnica que toma decisões sobre a liberação dos imunizantes com base em dados científicos e dificilmente se submete a pressões políticas.

Adriano Machado/CrusoéAdriano Machado/CrusoéMourão defendeu “cooperação internacional”: vice age discretamente para não melindrar Bolsonaro
Guterres, porém, tenta cooperar em outra frente. Ele procurou interlocutores do governo de Joe Biden para recomendar que os Estados Unidos enviem vacinas para o Brasil assim que possível. O Ministério da Saúde quer um empréstimo da maior quantidade possível do estoque de 25 milhões de doses da vacina de Oxford hoje excedente nos Estados Unidos – as doses extras estão sendo disputadas também por outros países, como México e Canadá.  O lote começaria a ser devolvido a partir de junho, quando a Fiocruz planeja já estar produzindo 1 milhão de vacinas por dia.

Há a expectativa que o anúncio sobre esse acordo possa ser feito nas próximas semanas. “O Brasil está no topo da lista no momento em que os Estados Unidos forem tratar dos excedentes”, diz o embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster. Os americanos preparam, de fato, uma “diplomacia da vacina” para fazer frente aos esforços de China e Rússia, que aproveitaram a disputa por imunizantes para ampliar sua influência sobre países da América Latina. Os EUA, porém, são mais cautelosos ao comentar um possível acerto com o Brasil, temendo uma repercussão negativa no país, que ainda segue no processo de vacinação. Perguntado nesta semana sobre o assunto, o secretário de Estado, Antony Blinken, desconversou. “Veja, nossa primeira responsabilidade é com o povo americano, e o presidente foi muito claro sobre isso”, disse.

O Fórum de Governadores se reúne nesta sexta-feira, 16, com Amina Mohamed, secretária-geral adjunta das Nações Unidas. Além da obtenção de mais remessas de insumos farmacêuticos para a fabricação de vacinas, e imunizantes excedentes em outros países, o grupo se esforça para obter insumos hospitalares para pacientes internados com Covid, caso do chamado “kit intubação”. Como o mundo está preocupado com a possibilidade de o caos brasileiro acabar adiando o fim da pandemia, especialmente em razão do risco de surgimento de novas variantes, é possível que os apelos surtam algum efeito.

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