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“Aquilo foi uma ditamole”

Escolhido como vice de Jair Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão nega que tenha havido ditadura no Brasil, garante que sua chapa tem o apoio da cúpula das Forças Armadas e diz que, caso um eventual governo do ex-capitão enfrente reações do crime organizado, há dois caminhos a seguir: "estado de defesa" ou "estado de sítio"
10.08.18

O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro está armado para a guerra. O general da reserva do Exército Hamilton Mourão, escolhido nesta semana para o posto, diz que há uma solução à mão para o caso extremo de, eleitos Bolsonaro e ele, o país entrar em uma crise profunda. A saída, diz, seria a a intervenção militar. O general afirma que, caso o crime organizado reaja com força às medidas duras a serem adotadas e a Justiça comece a ser desrespeitada, basta recorrer ao “estado de defesa” ou ao “estado de sítio” previstos na Constituição. Apesar de admitir o amargor decorrente de uma intervenção, ele não hesita em citá-la como um caminho possível, embora repita que isso só ocorreria em uma situação de absoluto descontrole. A chapa Bolsonaro-Mourão lidera as pesquisas nos cenários sem o petista Lula, preso pela Lava Jato e inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Aos 64 anos e recém-saído dos quartéis, o general da reserva calcula que ele e Bolsonaro, “linha da mesma pipa” e “aves da mesma plumagem”, tenham o apoio de 95% das Forças Armadas. E até comete o que seria uma inconfidência: diz que a chapa tem o apoio de integrantes do Alto Comando das forças, os quais estariam “confiantes” de que a dupla sairá vencedora das urnas. Mourão afirma ainda ser “provável” que Bolsonaro proponha a adoção da pena de morte para criminosos que, segundo ele, precisam “partir dessa para melhor”, compara Lula ao chefe do Primeiro Comando da Capital, o PCC, e diz que o que houve no Brasil durante os governos militares foi uma “ditamole”, e não uma ditadura. Eis a entrevista do general a Crusoé.

Que ideias o senhor e Jair Bolsonaro têm em comum?
Temos em comum a percepção de que o Brasil precisa de liberalismo, de empreendedorismo, e precisa diminuir o tamanho do Estado, assegurar o bem-estar da população, por meio de sua segurança, saúde e habitação. E precisamos de governos austeros, eficientes na gestão dos recursos públicos e no combate à corrupção.

O senhor se refere a liberalismo na economia ou nos costumes?
Falo de liberalismo em relação à economia. Menos intervenção do Estado. O Estado deve ser como um bom cavaleiro, de mão habilidosa, de perna firme, que sabe monitorar o que tem que ser monitorado e que deixa o animal fazer seu trabalho. Na questão dos costumes, o Brasil vem se adaptando de acordo com o que são as características da nossa sociedade.

Qual é o maior problema do país?
Temos uma gestão totalmente ineficiente, que levou a essa débâcle econômica, à crise fiscal, temos um federalismo às avessas, precisamos de reformas tributárias, temos de encarar a questão da Previdência, que vai ter de ser enfrentada de uma forma ou de outra. São problemas enormes.

Para aprovar medidas importantes, será preciso ter uma ampla base de apoio no Congresso. Vocês terão?
O deputado Bolsonaro é um homem que está há praticamente 30 anos dentro do Congresso. Ele sabe como ocorrem as coisas lá, conhece a maioria das pessoas. A tendência da eleição deste ano é de que muitos dos que lá estão continuem. Esse será um trabalho a ser feito por ele. Ele que tem essa capacidade. Podem até achar que sou um sonhador, mas julgo que Executivo e Legislativo deveriam se entender em torno de ideias. Precisa levar ao Congresso de forma transparente, clara, aquilo que é necessário para o bem do país. E para isso basta a gente, nas ideias, cooptar as pessoas, independentemente do credo partidário.

E o senhor, o que pensa do Congresso?
Tem de melhorar, a partir de uma modificação do sistema político-partidário. Temos um excessivo número de partidos. Tínhamos a previsão de uma cláusula de barreira, mas ela foi derrubada pelo STF, que considerou que era antidemocrática, que limitaria a representação. Aí acaba havendo um descolamento entre o que o partido é, ou pensa que é, e a sociedade. A maioria da sociedade não se sente representada pelos partidos políticos que aí estão.

E é possível melhorar? A tendência é que os congressistas, em grande medida, sejam os mesmos a partir do ano que vem.
Vou dar uma resposta de militar. Na nossa carreira a gente trabalha com a tropa que tem. Tem hora que nós temos os melhores soldados do mundo e tem hora que não temos soldados tão bons. Mas a missão tem de ser cumprida. Então compete ao líder, ao comandante, motivar, ser determinado, coerente. Eu transponho isso para a política. É isso que atrai as pessoas.

Os senhores se sentarão com os corruptos para negociar?
A gente não pode garantir. A gente não sabe. Esses caras podem ser todos reeleitos, não é? Só Deus verá. Poderemos ter de negociar com esse pessoal.

Bolsonaro pode ficar tranquilo quanto ao risco de uma eventual traição de seu vice?
Existe um velho ditado da tropa paraquedista que diz que aves da mesma plumagem voam juntas. Então ele sabe que tem a minha irrestrita lealdade. Eu jamais ultrapassarei minha esfera de atribuições ou meu nível de autoridade. Sei o tamanho da minha cadeira.

E eventuais interessados em derrubar Bolsonaro poderiam ser desencorajados por haver um general na linha sucessória?
Existe uma série de memes na internet a esse respeito, mas não quero levar para esse lado. É só dar uma zapeada que está cheio disso aí. “Não haverá impeachment porque senão vem o Mourão”. Nós somos linha da mesma pipa, não é? Somos uma chapa na qual as duas pessoas não são totalmente distintas. Muito pelo contrário. Existe uma verdadeira comunhão de pensamento.

Qual é a opinião do senhor sobre a ideia de intervenção militar e como os senhores agiriam em caso de crise?
Não vejo nenhum espaço para uma intervenção militar. Isso tem sido repetidamente dito pelo nosso comandante, o general Villas Bôas, e outros oficiais-generais. Agora, o que ocorre é que a gente nunca pode abandonar aquela nossa questão da missão constitucional das forças, das garantias dos poderes constitucionais e garantias da lei e da ordem. Nós temos alguns objetivos nacionais permanentes, que é o estado de democracia e paz social. Então, se quero preservar a democracia, tenho que conservar os poderes constitucionais. Se eu quero preservar a paz social, tenho que garantir a lei e a ordem. No momento em que isso estiver seriamente ameaçado, aí poderá ocorrer algum tipo de intervenção. Mas não é o caso no momento, nem vejo assim a curto e médio prazo. Teria que haver uma hecatombe no país.

O que, por exemplo, justificaria uma intervenção?
Digamos assim, uma total discordância em relação às ações de combate ao crime organizado e essas quadrilhas que estão por aí, o Judiciário incapaz de fazer cumprir suas sentenças, incapaz de conseguir julgar quem tem que ser julgado, em total desrespeito à lei. Então, a partir daí a gente está no caos, não é? Eu tenho dito seguidamente que uma democracia como a nossa só se sustenta, e as pessoas só conseguem conviver, porque existe a lei. Se não houver respeito à lei, nós vamos para a barbárie.

O senhor está reafirmando o que disse no ano passado, quando defendeu que seria necessária uma intervenção se o Judiciário não enfrentasse a corrupção?
Sim, eu estou. Estou mostrando a questão do caos. Não é única e exclusivamente que o Judiciário deixou de julgar fulano, beltrano. Não. É o Judiciário não conseguir cumprir mais a sua missão porque está sendo atacado.

E o que o presidente faria?
O presidente tem dois instrumentos constitucionais para isso, não é? Decretação de estado de defesa e decretação de estado de sítio. Óbvio que ouvindo o Conselho de Defesa Nacional, passando pelo Congresso, com todos aqueles prazos previstos na Constituição.

Em um cenário de caos, então, o senhor admite uma intervenção militar?
Em um cenário de caos. Mas cumprindo a Constituição, que prevê estado de defesa e estado de sítio. Não é golpe de Estado.

Rafael Hupsel/FolhapressRafael Hupsel/FolhapressO general ao lado de Jair Bolsonaro: o vice diz que, se eleitos, eles tentarão instituir a pena de morte no Brasil
O senhor já defendeu “expurgar” o presidente Michel Temer. Não tem receio de ser alvo de um expurgo?
Se nós formos eleitos com apoio popular significativo, o Congresso sofrerá pressão da população. Então acho que ele não tem essa liberdade de manobra para chegar a esse nível. E aí seria uma irresponsabilidade muito grande e prejudicaria o próprio Congresso. Geraria um clima de instabilidade que não seria bom para ninguém. E quando se inicia a instabilidade, crises dessa natureza a gente sabe como começam, mas nunca sabe como terminam.

Como avalia a atual composição do Supremo Tribunal Federal?
O Supremo tem tido um ativismo que, acho, está invadindo a seara do Legislativo. Existe ainda a questão das decisões monocráticas e uma exposição muito grande dos ministros. Talvez até pelos tempos em que vivemos, todo mundo se expõe tremendamente. Isso não tem sido bom para o Supremo. Em tempos anteriores, as decisões do STF eram tomadas e só depois anunciadas. Hoje os ministros viraram estrelas. E aí a gente às vezes tem que assistir a bate-boca entre ministros. Não são coisas boas para uma instituição tão nobre. A gente não pode se meter nas atividades do Supremo. O Supremo vai continuar com seu papel. Podemos tentar nos aproximar, na conversa republicana, para dirimir essa exposição e os próprios conflitos internos que eles (os ministros) têm.

O próprio Bolsonaro defendeu aumentar o número de ministros no STF e depois voltou atrás. O senhor concorda?
Acho que o Bolsonaro soltou um balão de ensaio quando fez isso, para ver o que acontecia. O número de ministros que nós temos é mais do que suficiente.

O senhor defende a redução do número de parlamentares?
Acho que deveria reduzir. Eu comparo sempre com os Estados Unidos. Gosto de ter comparações com países que são mais bem-sucedidos do que a gente. O número de congressistas lá é muito menor do que o nosso. O Legislativo continuará com o mesmo poder. Só vai diminuir o número de representantes. Desse assunto, Bolsonaro não tratou comigo. Como estamos nessa conversa franca, estou apenas colocando para vocês minha opinião.

O que pensa de o ex-presidente Lula comandar o PT e as negociações eleitorais da cadeia?
Bom, o Marcola comanda o PCC da cadeia, não é? Para bom entendedor, meia palavra basta. A minha visão sobre o Partido dos Trabalhadores é muito clara. Ao longo de mais de 35 anos de história, o PT só conseguiu construir uma liderança, só uma pessoa conseguiu sempre manter aquele saco de gatos unido. Então agora é o desespero. Sem o Lula, não tem nada. Temos um homem condenado a 12 anos de cadeia, temos uma lei da Ficha Limpa que é muito clara. Não há dúvida de que ele não pode concorrer à eleição. Mesmo assim, buscam tumultuar o processo eleitoral colocando o Lula, porque também não têm outra pessoa para colocar. Eles vão tentar até o último momento possível, para confundir a cabeça do eleitor.

Lula e o PT frequentemente dizem ser alvos de um golpe da Justiça.
Eles estão atacando com palavras. O problema é quando começarem a atacar com pedras, paus, tiros. Enquanto continuar no terreno das palavras, faz parte. Acho que eles não têm condição, não têm capacidade para executar a violência física. Se tivessem, iríamos às beiras da guerra civil. Isso poderia melar todo o processo eleitoral. A gente não sabe o que vai acontecer se eles levarem a esse ponto. Mas não vejo capacidade nem vontade de fazer isso.

Como avalia os adversários de Bolsonaro?
Alckmin é um homem que está na política há muitos anos, já participou de uma eleição presidencial. Agora ele se compôs com o que tem de pior na política. O Haddad não tem densidade. Ciro Gomes peca pela própria boca. Um dia ele fala uma coisa, depois fala outra, ataca todo mundo. E terminou ficando isolado. Marina é uma mulher batalhadora, exemplar, mas lhe falta liderança.

E o que pensa dos candidatos a vice?
Ana Amélia, jornalista, é uma mulher coerente, uma boa pessoa. Kátia Abreu é uma traidora. Era a rainha da UDR e depois virou para a Dilma. Deve ter fumado maconha estragada. Manuela D’Ávila é incoerente. Termos um partido comunista no Brasil é brincadeira. E a Manuela, comunista, vai fazer compras com o filho em Miami. Pelo amor de Deus… Eduardo Jorge é um conhecedor da administração, sujeito sério, boa pessoa.

O senhor foi a quarta opção de vice de Bolsonaro. Se sentiu preterido?
Eu sempre fiz parte desse processo. Vocês podiam não saber disso, mas sempre fui uma opção para ele. É óbvio que ele tinha, em determinados momentos, outros interesses, outras necessidades. Tentou buscar um político, depois o general Heleno, pela clareza de ideias e liderança que ele tem, depois dentro do próprio partido. E quando viu que a coisa não ia andar do jeito que queria, ele foi me buscar porque sabia que eu estava pronto e tinha condições.

Bolsonaro também tentou o apoio do PR e negociou com o mensaleiro Valdemar Costa Neto.
Que eu saiba, ele tentou a pessoa do Magno Malta (filiado ao PR). Ele já declarou inúmeras vezes que não negociou nada com o Valdemar Costa Neto nem com ninguém lá.

O senhor disse que o Ciro peca por falar demais. Não é também o caso de Bolsonaro?
O Bolsonaro é mais pacato do que o Ciro. Ciro atira uma metralhadora giratória, rapaz. Se o Ciro fosse uma arma, seria uma Gatling Gun (um tipo de metralhadora com canos rotativos que aumentam seu poder de fogo).

E que arma seria Bolsonaro?
É um sniper. Ele seria um fuzil belga ponto 50. Ele é preciso.

E o senhor?
Eu sou artilheiro, rapaz. Eu sou a arma dos fogos largos, poderosos, densos e profundos (lema da artilharia). Dou o apoio e facilito a conquista.

Por que Bolsonaro tem dificuldades para avançar entre o eleitorado feminino?
Isso aí é um daqueles estigmas que criaram no Bolsonaro, ao dizerem que ele não gosta de mulher. Pô, o cara já casou três vezes. O cara gosta de mulher para caceta.

Ele já disse que não pagaria o mesmo salário para homens e mulheres.
Eu acho que às vezes são os contextos em que uma coisa é dita.

Também afirmou que deu uma “fraquejada” e, por isso, teve uma filha mulher.
Acho que ele não tem nada contra. Muito pelo contrário. Eu vejo uma coisa assim: o papel da mulher na sociedade mudou radicalmente. Eu sou filho de uma mãe que trabalhava fora. Isso na década de 1950. Me faço claro? Ela trabalhava fora, mas honestamente, viu?

O economista Paulo Guedes não tem um protagonismo excessivo na candidatura de Bolsonaro?
Não, ele é quem tem orientado o Bolsonaro na área econômica. Ele é um estudioso, um cara da Escola de Chicago, tem imenso conhecimento sobre o assunto. O protagonismo está dentro dos limites dele.

As Forças Armadas apoiam a chapa Bolsonaro-Mourão?
Apoiam tranquilamente, sem mistério nenhum. Eu não quero dizer 100%, porque toda unanimidade é burra. Mas tenho certeza de que 95% estão com a gente.

O senhor tem conversado com os comandantes militares sobre a campanha?
Sobre a campanha não temos conversado ainda, até porque entrei agora. A campanha ainda vai começar efetivamente. Minha conversa com meus companheiros que ainda estão no Alto Comando tem sido mais em termos genéricos sobre os problemas que a gente tem enfrentado no país.

E qual é a avaliação geral que os integrantes do Alto Comando fazem nessas conversas com o senhor?
Estão confiantes, uma vez que existe essa grande possibilidade de nossa chapa chegar ao poder, e a gente considera que será bom. Primeiro, para o país. Nós das Forças Armadas sempre pensamos primeiro em termos de país. E depois nas próprias forças.

Quando estava no Exército, Bolsonaro foi punido e monitorado de perto por sua postura considerada radical. A imagem dele na caserna mudou?
O Bolsonaro há muito tempo se tornou um porta-voz das Forças Armadas dentro do Congresso, pela conduta dele, pelo relacionamento estabelecido com comandantes, com o ministro da Defesa. Há muito tempo esses pequenos problemas que ocorreram no passado dele foram superados.

O senhor já disse que alguns bolsonaristas adotam um tipo de radicalismo “boçal”.
Eu quis dizer que os radicais de ambos os lados têm de se refrear. Não podem dividir o Brasil. O grande erro do pessoal do PT foi a história de nós contra eles. Não podemos embarcar nessa mesma canoa. Uma vez eleitos, temos de governar para o país todo.

Bolsonaro não estimula o radicalismo?
Não. Não acho que ele faça isso, acho até que se comporta de forma a atenuar essa questão. O que acontece é que ele é um camarada incisivo no falar. Isso é uma realidade.

Que leitura o senhor faz do regime militar?
Eu sou contra esse termo “regime militar”. Tivemos um período de presidentes militares, autoritário, porque tinha instrumentos de exceção, mas o Exército não esteve no poder. Eu era oficial, meu pai era oficial, ninguém esteve no poder. Continuamos a fazer nosso trabalho normal. Quando se fala até no combate à subversão, o Exército tinha 120 mil homens naquela época. Se chegaram a mil e poucos os que combateram efetivamente a subversão, foi muito. Então o restante do Exército não teve nada a ver com isso.

Se rejeita o termo “regime militar”, discorda também que tenha havido ditadura no Brasil?
Aquilo foi uma ditamole, não foi uma ditadura.

Mas não houve tortura?
É guerra, não é? Na guerra a primeira vítima sempre é a verdade. É óbvio que houve excessos de parte a parte. Gente executada, gente inocente que morreu, de ambos os lados. Isso é guerra. A guerra é triste, principalmente a guerra entre irmãos.

Diego Vara/Agência RBS/FolhapressDiego Vara/Agência RBS/FolhapressMourão fardado: quando estava na ativa, ele irritou o Palácio do Planalto
O que são direitos humanos para o senhor?
A questão dos direitos humanos é para humanos direitos. Isso é muito claro. E hoje existe uma generalização, uma questão até ideológica, colocando o bandido como um desvalido, que o cara é bandido porque a sociedade não lhe concede espaço.

Defende a ideia de que bandido bom é bandido morto?
Eu sou a favor da pena de morte. Eu acho que tem gente que não tem correção. Um camarada que pega sua filha de 10 anos de idade, estupra e depois mata, esse camarada não tem correção. Ele tem que partir dessa para melhor.

O senhor defenderia pena de morte para quais crimes?
Crimes bárbaros. Estupro seguido de morte, flagelo ao corpo, esses crimes bárbaros.

Corrupção estaria incluída?
Ah, não, não. Não vamos pendurar um cara na forca pela corrupção. Apesar de a corrupção matar tanto quanto o cara que enfiou a bala na cabeça do outro.

Pretendem propor a pena de morte?
Se Bolsonaro assim desejar, ele facilmente leva esse debate adiante. Vai ser um debate furibundo, uma briga de foice no escuro. Talvez não seja ainda a hora de se engajar nisso.

Mas é provável que apresentem esse tema?
É provável. De zero a cinco, boto num nível três isso aí. É possível, provável, já está quase na iminência.

Esse debate seria via plebiscito ou Congresso?
Acho que via plebiscito. Não pode ser meia dúzia discutindo por 200 milhões.

O que o senhor pensa do politicamente correto?
Acho que está errado, que cerceia o livre pensamento. Se eu tenho esse pensamento, eu coloco. O que não posso é querer impor meu pensamento, estilo de vida, sobre os outros.

Qual sua posição sobre casamento gay?
Sou contra. Acho que isso não é casamento, pô. No máximo é união estável. Casamento é algo um pouquinho acima disso.

O senhor defende a abertura dos arquivos do regime militar?
Os arquivos já foram todos abertos, rapaz, não tem nada secreto. Pode ir lá dentro do centro de inteligência, onde você quiser. Já foram abertos, não tem nada. O pessoal insiste porque acha que vai encontrar o seguinte relatório: “No dia X, a equipe formada pelos agentes alfa, bravo e beta capturou o preso delta, o levou para o lugar Y, o espancou até a morte e entregou os pedaços e o enterrou nos pontos de coordenada tais”. Não existe, pô. É até ingênua essa coisa. Então a história está contada. Aquelas pessoas que desapareceram foram uma infelicidade. Eu não gosto de estatística. Um morto é um morto para cada família. Agora, nossa guerra foi muito light, comparada até com nossos vizinhos.

Light por quê?
Éramos um país de 90 milhões de habitantes. Morreram ali 540 de ambos os lados. Hoje se matam 60 mil por ano, meu amigo.

Quanto à tortura, o senhor faz mea culpa?
Eu não faço mea culpa nenhum. É o seguinte: o camarada tentou atacar o Estado, o Estado brasileiro se defendeu da forma que podia. Era o combate que existia na época.

Por que o senhor afirmou que o brasileiro tem a “indolência do índio” e a “malandragem do negro”?
É o pensamento da interpretação. Eu faço essa palestra em todos os lugares há muito tempo. Esse aí é um pensamento do Roberto Campos. Quando você lê Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”, nós somos um amálgama de três raças. E cada raça trouxe suas coisas boas e não tão boas assim. Então temos em alguns casos aqui simbioses de gente que gosta de privilégio, que não gosta de trabalhar, que gosta de ser malandro. É só ouvir uma narração de futebol que o comentarista diz que o jogador é malandro. É uma característica nossa. É boa? Não, não é boa. Temos que buscar superar essas coisas. Nós vimos agora na Copa do Mundo nosso melhor jogador querendo fazer malandragem o tempo todo.

O senhor foi acusado de ser racista com essa declaração.
O Bolsonaro já é carimbado de homofóbico e racista. Eu também já estou com esse carimbo, não é?

Se for eleito vice-presidente, pretende manter esse discurso?
Meu discurso não é de racismo. Eu procuro apresentar a situação em que vivemos, os problemas estruturais que nosso país tem. Temos herança macunaímica. Você acha que o Oswald de Andrade (na verdade foi Mário de Andrade) escreveu aquilo como? Imaginou um americano o Macunaíma? Não, pô. São coisas nossas. Coisas do Brasil, que muitas vezes as pessoas não entendem. Temos de ter consciência de onde viemos e quem nós somos.

Bolsonaro já criticou a ideia de se classificar um assassinato como feminicídio.
É uma questão de terminologia. Aí nós entramos no terreno do politicamente correto. A pessoa coloca homicídio, mas aí seria só de homem. Criou-se a palavra feminicídio, como tem magnicídio, que é o assassinato do presidente. E por aí afora. Não gosto de me ater muito a esses pequenos detalhes.

Bolsonaro também ataca a tese de que negros são mais vulneráveis à morte.
O negro sofreu tremendamente com a questão da escravidão. Quando terminou a escravidão, obviamente naquele momento não houve nenhum processo de buscar inserir na sociedade aquele grupo que havia sido liberto. É óbvio que eles ficaram atrasados em relação ao restante. Mas nós temos inúmeros, milhares, milhões de casos aí de negros que são muito bem-sucedidos, estão bem inseridos na sociedade.

 

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