FelipeMoura Brasil

A competência premiada

12.02.21

Os populistas já estavam se saindo mal antes da pandemia, e governos tecnocratas, como o de Angela Merkel, na Alemanha, lidaram melhor com a crise. O eleitor agora vai premiar a competência. E populistas não são muito competentes. As habilidades necessárias para inflamar uma multidão são diferentes das necessárias para lidar com o coronavírus. Populistas perderam o debate da saúde pública. Ficaram com cara de bobos falando de hidroxicloroquina.”

A declaração do historiador escocês Niall Ferguson em entrevista ao Globo foi publicada em 7 de fevereiro de 2021.

No dia 4, Jair Bolsonaro, que passou meses com cara de bobo falando de hidroxicloroquina, enquanto ignorava propostas da Pfizer e do Instituto Butantan para vacinação e desdenhava de máscaras e distanciamento social, tentou se descolar dela e das consequências mortais da influência presidencial sobre os brasileiros que se acreditaram protegidos pelo medicamento e se expuseram à Covid-19: “Pode ser que lá na frente falem: ‘A chance é zero, era um placebo’. Tudo bem, paciência. Me desculpa. Tchau. Pelo menos não matei ninguém.”

No dia 8, em queda nas pesquisas de popularidade, Bolsonaro prosseguiu no desembarque gradual e mentiroso do próprio negacionismo: “Nunca fui contra a vacina, sempre disse ‘passou pela Anvisa, compra’”, mentiu ele, que havia prometido em lives, redes sociais e entrevistas jamais comprar a “vacina chinesa de João Doria”, inclusive quando questionado em rádio chapa-branca se o faria após a aprovação da Anvisa.

No dia 11, um relatório publicado na revista científica Lancet imputou a Donald Trump 40% das mortes por Covid-19 nos Estados Unidos, citando as vezes em que o então presidente americano afirmou que a Covid-19 era uma farsa e promoveu terapias sem comprovação médica, como o uso de hidroxicloroquina. “Em vez de galvanizar a população dos EUA para lutar contra a pandemia, o presidente Trump rejeitou publicamente sua ameaça (apesar de reconhecê-la em particular), desencorajou a ação à medida que a infecção se espalhou e evitou a cooperação internacional.”

Em vez de galvanizar a população brasileira para lutar contra a pandemia, Bolsonaro emulou o pior lado de Trump, como já apontei nesta coluna, e o número de mortos no país passa hoje de 235 mil.

Enquanto isso, o réu por corrupção e improbidade Arthur Lira, do Centrão, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados no dia 1º com apoio do presidente do Brasil, que distribuiu bilhões de reais aos parlamentares em emendas extras, sem critérios claros nem transparência; Augusto Aras, nomeado à PGR por Bolsonaro, dissolveu em 3 de fevereiro a Lava Jato no Gaeco do MPF, desmantelando a estrutura de combate à corrupção; e Kassio Marques, indicado ao STF pelo presidente, votou no dia 9 a favor do acesso de Lula às mensagens roubadas da Lava Jato e de Sergio Moro, o ex-juiz que prendeu quadrilheiros e atualmente é apontado pelas pesquisas como o único que venceria Bolsonaro no segundo turno. O presidente, mais interessado em rivalizar com o PT na próxima eleição, para limpar a imundície dos gabinetes da família na sujeira petista de quatro mandatos, calou-se. Mas a qualquer momento voltará a praticar seu esporte diversionista de atacar a imprensa.

Bolsonaro é um populista incompetente para lidar com o coronavírus, mas competente em aglutinar o velho establishment e seus apadrinhados em prol da impunidade geral dos criminosos passados, presentes e futuros.

Em 2022, o eleitor brasileiro vai escolher qual competência ele quer premiar.

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