ReproduçãoBiden apresenta escolhidos: seu governo pode ser o com mais mulheres no primeiro escalão

Todos os homens e mulheres do presidente

Quem são os integrantes do primeiro escalão de Joe Biden, cuja composição foi marcada pela previsibilidade
24.12.20

O empresário Donald Trump venceu as eleições de 2016 prometendo “drenar o pântano” de Washington sem contar com o apoio do establishment do Partido Republicano. Depois de vitorioso, ele penou para preencher os principais cargos no governo. Uma das suas escolhas, Reince Priebus, que foi chefe de gabinete, ficou impressionado ao testemunhar como Trump “frequentemente oferecia para pessoas, muitas das quais ele nunca tinha visto antes, posições cuja importância ele não entendia”, narra Michael Wolff no livro Fogo e Fúria, Nomes de possíveis candidatos eram ventilados pela imprensa após visitas à Trump Tower, mas as notícias frequentemente acabavam sendo desmentidas pelos fatos. Centenas de cargos permaneceram vazios por meses e muitos foram preenchidos por empresários sem experiência no mundo da política ou da diplomacia.

O presidente eleito Joe Biden é a antítese de Trump. Suas nomeações são feitas de forma individual ou em grupo. Nos casos mais relevantes, discursos de agradecimento preparados de antemão são divulgados nas redes sociais logo após os anúncios. Dependendo da situação, a equipe de Biden vaza os nomes um dia antes para a imprensa americana, que nunca é pega de surpresa. Até agora, todos os nomeados demonstram ter experiência governamental, às vezes já tendo trabalhando diretamente com Biden, e contam com o consentimento do Partido Democrata. A previsibilidade é total.

O contraste entre os dois presidentes pode ser medido pela escolha do secretário de estado, o posto mais alto da diplomacia. Em 2016, Trump indicou o diretor-executivo da petroleira Exxon Mobil, Rex Tillerson. Conhecido por suas boas relações com a Rússia, ele durou apenas um ano no cargo. Biden nomeou Antony Blinken, que foi o número dois do Departamento de Estado durante o governo de Barack Obama, quando Biden era vice-presidente. Blinken iniciou sua carreira diplomática no governo de Bill Clinton, e nunca se afastou do partido. Em 2017, ao deixar o poder, ele fundou uma empresa de consultoria, a WestExec, com outros ex-membros da gestão Obama. A empresa, cujo nome remete à rua West Executive Avenue, que passa pela Ala Oeste da Casa Branca, atuou fazendo lobby em Washington e funcionando como um governo em espera. A eleição de Biden agora permitirá que eles retornem para a Casa Branca. Outros de seus funcionários e colaboradores também já foram selecionados por Biden ou aguardam indicação. Entre eles, está Avril Haines, que será diretora nacional de inteligência.

Departamento de Estado dos Estados UnidosDepartamento de Estado dos Estados UnidosBiden nomeou Antony Blinken, que montou consultoria com outros democratas
Rival de Biden durante as primárias do Partido Democrata, Pete Buttigieg comandará a Secretaria de Transportes. Buttigieg, que é gay e serviu na Marinha, foi prefeito da pequena cidade de South Bend, em Indiana. Aos 38 anos, ele tentou se tornar o candidato do Partido Democrata e passou a ser visto como um nome promissor dentro do partido. Mas sua candidatura patinou por falta de recursos e porque seu nome não era conhecido nacionalmente. Com a nomeação para a secretaria, ele poderá tentar alçar voos mais altos no futuro.

Entre todos os indicados até agora para o primeiro escalão do governo, que contém 25 cargos, dez são do sexo feminino. Se todas forem confirmadas, será a maior quantidade de mulheres a servir no gabinete presidencial na história americana. Linda Thomas-Greenfield foi chamada para ser embaixadora dos Estados Unidos na ONU. Janet Yellen, que foi diretora do Banco Central, deve comandar o Departamento do Tesouro. Os principais cargos no setor de comunicações também devem ficar com elas. A depender dos próximos nomes, Biden poderá ser o primeiro presidente a chamar mais mulheres que homens para a Casa Branca.

O governo de Biden também pode ser o primeiro a incluir uma mulher indígena no primeiro escalão. Para o Ministério do Interior, que cuida dos parques naturais e dos povos nativos, ele nomeou a indígena Deb Haaland, deputada pelo Nova México e membro da tribo Laguna Pueblo. Seu nome tinha sido sugerido por mais de 50 deputados democratas na Câmara dos Representantes. Embora o cargo seja totalmente voltado a assuntos domésticos, Haaland já criticou o presidente Jair Bolsonaro duas vezes. Em 2019, ela publicou um artigo no Washington Post condenando o descaso do governo brasileiro com a questão climática. Ela também assinou uma carta para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pedindo a rejeição do projeto de lei 2633/2020 sobre regularização fundiária, conhecido como “PL da Grilagem”. Ou seja, nessa área a relação com o Brasil não deve ser nada amistosa.

ReproduçãoReproduçãoA indígena Deb Haaland foi indicada para o Ministério do Interior
O general aposentado Lloyd J. Austin III foi escolhido para ser o Secretário de Defesa, primeiro negro a ocupara o cargo. Ele já trabalhou com Joe Biden quando esteve à frente do Comando Central dos Estados Unidos, entre 2013 e 2016. Para secretário de Educação, Biden escolheu o professor Miguel Cardona, filho de porto-riquenhos. Ele ocupava o cargo de secretário estadual de educação em Connecticut e substituirá a bilionária Betsy DeVos, que foi nomeada por Trump e cuja principal plataforma era criar alternativas à escola pública. Cardona foi o terceiro latino escolhido por Biden, depois de Alejandro Mayorkas, para o Departamento de Segurança Interna, e Xavier Becerra, para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Dos 1.250 cargos que exigem confirmação do Senado, Biden já nomeou pessoas para 21. Alguns comitês da Casa já começaram a enviar questionários para os pretendentes. A próxima legislatura, que ficará a cargo da seleção, assumirá no dia 3 de janeiro. As sabatinas devem ficar para depois do dia 5, quando ocorrerá o segundo turno de duas disputas para vagas do Senado na Geórgia. Só então se saberá qual partido terá o controle da Casa. Dos 100 senadores, os republicanos já garantiram 50. Para manter a maioria, eles precisam de pelo menos mais um. Se os democratas virarem o jogo e conquistarem as duas cadeiras a que a Geórgia tem direito, eles também somarão 50. A decisão final nas votações, então, ficaria com a vice-presidente Kamala Harris, que teria o voto de minerva. As votações derradeiras no Senado para aprovar os nomes indicados acontecerão após a posse de Joe Biden, no dia 20 de janeiro.

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