ReproduçãoO general Raúl Castro ao lado do ditador Miguel Díaz-Canel anunciam o fim do peso conversível

A unificação das moedas cubanas

Medida adotada após 26 anos coloca o Partido Comunista frente a um dilema: seguir adiando as reformas estruturais ou adotar a abertura econômica como Vietnã e China
18.12.20

Há décadas, os gerontocratas cubanos anunciam a “atualização do modelo econômico” da ilha comunista, sem nunca avançar um passo. Agora, com Cuba em sua pior crise desde 1990, o ditador Miguel Díaz-Canel anuncia a unificação das duas moedas existentes no país, apostando em dar mais eficiência à economia e facilitar os investimentos estrangeiros. Tudo leva a crer, no entanto, que antes de melhorar – isso se melhorar – a situação em Cuba ainda vai piorar e muito. Num primeiro momento, a medida que entrará em vigor em 1º de janeiro desvalorizará os salários e as aposentadorias. Além disso, a tendência é que, ao longo do próximo ano, empresas estatais ineficientes sejam fechadas, elevando ainda mais o desemprego. Ou seja, a crise ganhará contornos ainda mais dramáticos e colocará o Partido Comunista diante de um dilema: seguir postergando as reformas estruturais ou, enfim, apostar no caminho da abertura econômica já trilhado por China e Vietnã.

A existência de duas moedas em Cuba foi uma invenção de Fidel Castro, em 1994. Desde então, as empresas estatais passaram a receber as rendas vindas dos turistas e das exportações em pesos cubanos conversíveis (cuc), na proporção de 1 dólar para 1 cuc. Ao pagar o salário dos cubanos que trabalham na ilha, no entanto, o governo e essas companhias seguiram usando o peso cubano, sendo que 1 cuc equivale a 24 pesos cubanos. A conta obviamente ficou uma maravilha para a ditadura comunista. Com a venda de um único prato em um restaurante estatal para turistas europeus, é possível pagar o salário mensal de um funcionário. Aposentadorias também são pagas com os minguados pesos cubanos. Só que para suprir suas necessidades básicas, os cubanos precisam comprar produtos em cucs. Quem consegue arcar com esses custos extras é porque recebe remessas de parentes que moram nos Estados Unidos e na Europa. É por isso que, em Cuba, é comum ouvir que para sobreviver é preciso ter “fé”, leia-se, “família no exterior”.

Inalkis Rodriguez LoraInalkis Rodriguez LoraFila para comprar óleo de cozinha em Camaguey, Cuba
O fim da dualidade no dia 1 terá um efeito imediato na balança de pagamentos, aumentando o seu déficit. Uma corrida por dólares deve gerar uma forte desvalorização do peso cubano. O problema é que Cuba importa quase tudo o que consome, como cerca de 85% dos alimentos. Para um país que quase não produz, ficará mais difícil comprar comida de fora. A escassez produzirá mais inflação. Para piorar, fábricas nacionais que usam insumos importados terão de reajustar os preços de seus produtos.

Em uma economia normal, as leis de mercado ajudam a recuperar um país de um choque como esse. Fábricas nacionais poderiam expandir a produção para substituir as importações. Exportadores poderiam se beneficiar do dólar alto e elevar as vendas de açúcar, charutos, níquel e outros produtos agrícolas. Com as transações, o governo fortaleceria o caixa. O problema é que Cuba está longe de ser uma economia normal, e nada até agora foi feito para mudar essa realidade. Produtores agrícolas não possuem dinheiro para investir. Mesmo se tivessem, ficariam reticentes, pois não possuem o título da terra. São usufrutuários. Podem usar o terreno por um período máximo de 20 anos. Pela lei, pecuaristas também não são os proprietários das cabeças de gado e são obrigados a vender uma parte da produção para o estado, por um valor irrisório. “Na China e no Vietnã, as reformas rapidamente ampliaram o tempo de uso da terra para 50 anos ou mais. Agricultores também foram autorizados a plantar o que quisessem e a vender para qualquer um, o que os estimulou a investir. Em Cuba, nada disso foi feito”, lamenta o economista cubano Carmelo Mesa-Lago, da Universidade Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Além de adiar a lei de terras, o governo também se recusa a promulgar uma lei de empresas. Aqueles que trabalham por conta própria, os cuentapropistas, não possuem uma personalidade jurídica, um CNPJ, e não podem exportar ou importar livremente. Com isso, a capacidade de elevar a produção é praticamente nula. Sem um setor privado que possa reagir às mudanças e com um governo sem dinheiro, incapaz de pagar os juros de sua dívida externa, o ano de 2021 promete ser amargo. Para piorar o quadro, a pandemia ainda reduziu o número de turistas, o cancelamento de voos não permite mais o transporte de dólares em malas e a Venezuela diminuiu o envio de barris de petróleo. A última esperança dos comunistas era a de que a eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos, trouxesse algum alívio, a exemplo do que fez Barack Obama, em 2016. Mas a boa votação que o presidente Donald Trump obteve na Flórida em novembro parece ter mostrado que os democratas americanos não poderão fazer concessões demais à ditadura, sob o risco de perder mais eleitores. “Biden ainda terá muitos outros problemas imediatos para resolver, antes de ter de lidar com Cuba”, diz o economista cubano Carlos Seiglie, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos. “É um cenário muito preocupante, que facilmente pode dar vazão a protestos.”

27N27NCarros da polícia em Havana, para intimidar artistas
É sintomático que a ditadura tenha recrudescido a repressão nos últimos tempos. Um dos alvos principais tem sido o grupo de artistas, cantores, cientistas e jornalistas conhecido como Movimento San Isidro. Eles começaram a se reunir em uma casa de Havana para protestar contra um decreto que busca obrigar toda atividade artística a ter aprovação do Ministério da Cultura. Ao tomar conhecimento das atividades do grupo, a polícia da ditadura cercou a sede e impediu a entrada de comida. Quando integrantes do movimento resolveram promover uma greve de fome, militares invadiram o local e prenderam 14 pessoas. Um novo protesto, então, foi organizado em frente ao Ministério da Cultura, no dia 27 de novembro. A repressão voltou com toda a força e um novo movimento, o 27N, nasceu. “Esses foram dias em que as ruas se encheram de militares e agentes à paisana. Carros das forças especiais foram espalhados por toda a cidade”, conta o historiador cubano Boris González Arenas. “Pela nossa história, sabemos que sempre que o regime comunista se sente inseguro, a tensão aumenta.”

Em março do ano que vem, o Partido Comunista fará um novo Congresso para definir os rumos do país. Espera-se uma disputa entre aqueles que querem reformas e os que defendem a manutenção do sistema. Em todos os encontros realizados até agora, venceram os comunistas do “núcleo duro”, avessos a mudanças. Eles temem que, uma vez que Cuba permita que as pessoas enriqueçam e fiquem menos dependentes do governo, a cobrança por democracia aumente e a ditadura perca força.

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  1. E o sapo barbudo está lá, onde permanecerá por dois meses, comendo, bebendo e fumando, às nossas custas, contando, ainda, com 2 servidores, também, pagos por nós, pagadores de impostos. PQP! É uma vergonha!

  2. Que morram todos de fome. Mais antes paguem o que devem ao Brasil. Os bilhões que o verme Lula e a Anta Dilma mandaram pra lá.

  3. Mas se Cuba é todo esse atraso, gostaria muito de saber porque lá as áreas de Saúde, Educação e Esporte são mais avançadas que no Brasil. Também gostaria de saber porque não há crianças fora da escola em Cuba. E tem mais, não haveria toda essa mortandade de brasileiros durante a pandemia se os médicos cubanos tivessem sido mantidos no País.

    1. Pura fantasia e histórias da carochinha... Você acredita em Papai Noel? Pois é.....lá não tem transparência nenhuma é eles mostram sòmente o que interessa à eles. A Dilmanta e o LULADRÃO, Chico Buarque e Caetano, Zé Dirceu e Zé Genuíno acreditam nos Castros e que Cuba é o Paraíso, assim como o Ditadória (Doria) acredita na China exportadora do Coronavírus (Covid-19) e em sua vacina ainda sem comprovação de sua segurança e eficácia.

    2. Simples. Não divulgam a realidade e a pobreza dos cubanos. Já estive lá e sei como funciona.

    3. é o que querem que você saiba e pense sobre o comunismo. os regimes totalitários são sempre assim. fazem a propaganda de um mundo lindo, utópico, quando na verdade são absurdamente invasivos na tua vida. você não tem nada! tudo é deles! até sua vida!

    4. Lá, os esportistas são escravos do modelo de exportação de imagem. Os médicos não são médicos, tem um nível equivalente ao de enfermagem e a educação.... ah a educação, só serve pra ler as notícias que as suma autoridades querem que sejam divulgadas, fake ou não. Pura propaganda característica dos regimes autoritários.

  4. A inteligente esquerdalha brasileira devia de se mudar para Cuba e reerguer o país, poderiam não conseguir mas para nosso país seria uma carga a menos para carregar.

    1. Ótima idéia essa Wanderley. Gostei de sua sugestão. kkkkkkkkk.....seria ótimo para o Brasil......

  5. E a família Castro Bilionária. O povo é sedento por liberdade, mas ao mesmo tempo tem muito medo de agir. Eu presenciei um rapaz sendo retirado num domingo da praia porque não tinha autorização para estar lá. É um absurdo

  6. Seria um lugar ideal para certos intelectuais brasileiros, mas infelizmente eles preferem Paris ou Nova York, contrariando as suas filosofias!

  7. Minha esperança é que os Petralhas se mudem para lá e o Carluxo os siga com toda a sua família para acabar com o comunismo e blá blá blá. Aí o Centrão deixaria de existir pois sem Lula e Bolsonaro que só os extremos, não há centro. Bip. Bip. Bip. Meu despertador tocou bora trabalhar.

  8. Só alguns artistas endeusam Cuba, mas não vão morar lá. Quem já esteve lá sabe o que o povo sofre e como estão atrasados em relação ao mundo. Um país com praias maravilhosas para servir apenas aos turistas, porque o cubano não tem condições. Quando fui lá, uma viagem de avião até Cayo Largo, lugar maravilhoso, era equivalente a 50 salários mensais de um cubano. Hoje deve ter melhorado um pouco, mas nada significativo. Democracia e desenvolvimento é necessário.

  9. Agora entendi porque o Luladrao (condenado solto) solicitou autorização para visitar a ilha Cubana. Vai participar da unificação das moedas e pegar a parte dele. Duvida? Não é de todo improvável não. Acho que boa parte dos desvios estão guardados com esses parceiros da chamada “esquerda” ditadora, mundo afora.

    1. Tem razão! Vai lá para resgatar o dele antes que vire pó ou lhe surrupiem os muy amigos camaradas

  10. Ótima medida. Unificação das moedas. Vão unir nada a coisa nenhuma. Para aqueles que os chamam de líderes Cubanos. Revolução Socialista, Comunistas, etc. Aprendam de uma vez por todas com os fatos. ( tudo bem, sei que não vão aprender). Não passam de ditadores e opressores(ainda assim incompetentes) de terceiro mundo.

  11. Esse é o "paraíso" para os esquerdistas desse Brasil. Sempre digo que o problema não é ser esquerdista, o problema é ser ignorante, preguiçoso, indolente, não ter nenhum preparo para fazer leituras da realidade, senso crítico... em suma, ser descerebrado...

    1. Se os turistas boicotassem as suas idas a Cuba, os Castro teriam que abrir a economia e abandonar o modelo socialista repressor que oprime os cidadãos cubanos comuns. Essa repressão não é compartilhada pelo ditador. A vida dele e de seus protegidos são nababescas. Acorde, turistas, o remédio está em sua mão. Não existe mais a União Soviética para custear as aventuras de Guevara e Castro. Liberdade ao povo sofrido!!!

  12. Bandidos apoiados pelo PT e pelos impostos que pago ou paguei via bndes. O meu rstado, o Piauí, a um século calma por um porto em Parnaíba. Resposta : não tem recursos. Mas Cuba tem,. Empréstimo sem garantia e sem juros. Se é pra doar nosso dinheiro, petistas ladroes, ao menos que invista aqui.

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