FelipeMoura Brasil

Os ‘conservadores’ da confusão

20.11.20

A quinta temporada da primorosa série Outlander mostra a revolta dos Reguladores (“Regulators”), um grupo de fazendeiros da Carolina do Norte, contra os altos impostos cobrados no século 18 pelo governo colonial do general britânico William Tryon.

“Foi sem dúvida a primeira batalha da revolução”, disse Diana Gabaldon’s, autora do livro que deu origem à série, ao portal The Times News, referindo-se à revolução americana de 1776, que levaria à proclamação, no dia 4 de julho, da independência das Treze Colônias – os Estados Unidos. “Não houve líder ou oficiais, mas abriu o caminho para o que foi essencialmente uma revolta dos pagadores de impostos.”

A série não mostra, mas Edmund Burke – sempre ele, o pai do conservadorismo – anteviu e tentou evitar a revolução americana, discursando no Parlamento britânico contra a tributação das colônias e atuando pela conciliação.

“Deixai a América, caso tenha matéria tributável, tributar-se”, disse em 1774. “Não os onerei com impostos… Todavia, se, de maneira intemperante, imprudente e fatal, vós sofismardes e envenenardes a fonte mesma daqueles que governais, ao incitardes deduções sutis e consequências odiosas aos que governais da natureza ilimitada e ilimitável da soberania suprema, ensinareis por tais métodos a pôr esta própria soberania em questão. Ao se atiçar o varrão, por certo se voltará contra os caçadores… Ninguém será persuadido à escravidão.”

Em 1770, já popular entre os colonos, o irlandês Burke ainda havia dito: “Na verdade, o que todos os homens sábios pretendem é evitar que as coisas cheguem ao pior”.

Hoje, 250 anos depois, Jair Bolsonaro é um homem rudimentar que ameaça usar “pólvora” contra os EUA para evitar sanções comerciais, enquanto xinga de “maricas” e “frouxos” os brasileiros precavidos diante de uma pandemia que já matou quase 170 mil compatriotas.

O Ministério da Saúde de seu governo apaga um tuíte pró-isolamento social, porque o presidente quer os cidadãos enfrentando o vírus “de peito aberto”, antes das vacinas, para capitalizar eleitoralmente em 2022 uma eventual recuperação econômica (enquanto tenta blindar seu filho 01, denunciado por desvios de 6,1 milhões de reais dos cofres públicos).

Como quem sente recompensada sua pose de machão do terceiro mundo, ele ainda repercute a declaração do presidente da Rússia e ex-chefe da KGB, Vladimir Putin, de que “expressou as melhores qualidades masculinas”. “O poder é o sexo do impotente”, ironizou o senador Major Olimpio no Papo Antagonista, recomendando psiquiatra e geriatra a Bolsonaro.

A impotência do presidente do Brasil como cabo eleitoral também ficou clara com o fracasso da maioria dos candidatos apoiados por ele nas eleições municipais. Até o PSOL de Guilherme Boulos – o “gênio” que agora quer solucionar o déficit previdenciário no serviço público aumentando o número de concursos e servidores – conseguiu afetar mais sensatez e empatia no primeiro turno que um bando de reacionários e oportunistas aloprados.

O governo Bolsonaro mal terminou a segunda temporada, e o eleitorado independente já cansou da beligerância bolsonarista – intemperante, imprudente e fatal. Eu também cansei dos “conservadores” do dinheiro alheio e da confusão. Há séries e livros muito melhores.

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