ReproduçãoBiden e sua mulher após votarem: modelos matemáticos dão mais de 88% de chances de vitória

Reta final

Os trunfos e as apostas dos candidatos a presidente dos EUA a poucos dias da eleição – e as chances de o pleito parar no tapetão
30.10.20

No dia da eleição presidencial de 2016, o jornal New York Times calculou em 85% as chances de vitória da democrata Hillary Clinton. O veículo ainda compilou informações de outros oito portais e instituições que iam na mesma direção. Todos eles, baseados em seus próprios modelos matemáticos, apostavam em Hillary. O resultado do pleito é o que todos conhecem e levou os responsáveis pelas previsões equivocadas a fazer pedidos constrangedores de desculpas e a buscar justificativas para seus erros. A conclusão generalizada foi a de que brancos sem diploma universitário votaram maciçamente em Donald Trump, garantindo o triunfo do republicano nos estados-pêndulo de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. No Colégio Eleitoral, que define o novo presidente do país, Trump obteve 304 dos 538 delegados, um número bem acima dos 270 necessários.

Para a eleição deste dia 3, os modelos matemáticos voltaram a prognosticar a consagração de um democrata — no caso, Joe Biden. Os cálculos, garantem seus responsáveis, foram corrigidos para levar em consideração os brancos sem diploma. O site FiveThirtyEight calcula que Biden tem 88% de chances de vitória. O modelo da revista Economist, criado este ano, confere ao democrata uma probabilidade de triunfo nas urnas de 96%, estimando que ele talvez leve 353 dos 538 delegados no Colégio Eleitoral. Caso a previsão se concretize, será um massacre.

O vexame dos adivinhadores na eleição passada, contudo, tem feito com que os números sejam tratados com cautela. As dúvidas sobre como serão contados os votos enviados pelo correio e a possibilidade de a decisão parar nos tribunais também têm inibido qualquer comemoração antecipada.

A mudança mais significativa detectada pela enxurrada de dados produzida até agora mostra que Trump perdeu muito apoio no grupo que viabilizou sua conquista há quatro anos: justamente o de eleitores brancos sem diploma. Em 2016, cerca de 67% dos brancos sem diploma votaram em Trump e 28%, em Hillary, uma diferença de quase 40 pontos percentuais. Trump segue sendo o preferido nessa fatia de eleitores, mas sua vantagem caiu para doze pontos.

ReproduçãoReproduçãoTrump perdeu apoio entre eleitores brancos sem diploma
O republicano perdeu apoio, principalmente, entre os mais velhos, preocupados com a má gestão da pandemia do coronavírus, e entre as mulheres, que não aceitam a grosseria contumaz do presidente. O dado surpreendente é que Trump poderá ir melhor entre os latinos e jovens negros, apesar da sua defesa de um muro com o México e da recusa em condenar supremacistas brancos. Entre latinos, segundo a pesquisa da Universidade Quinnipiac, Trump tem 35% das intenções de voto, seis pontos percentuais a mais do que obteve em 2016. Com um discurso contra o socialismo e contra as ditaduras da Venezuela e de Cuba, o republicano garantiu a simpatia de origináros desses países e adjacências. Entre jovens negros, Trump aumentou sua intenção de voto de 10% para 21%. Eles se dizem descontentes com o Partido Democrata e aprovam os ataques do republicano ao sistema político.

Nesta quinta-feira, 29, a cinco dias das eleições, o presidente comemorou o anúncio do aumento do PIB americano de 7,4% entre o segundo e o terceiro trimestre. O discurso econômico é uma das apostas de Trump para a reta final. Em um comício na Flórida, Trump disse que se trata de um “crescimento explosivo” e voltou a se colocar como a pessoa capaz de tirar o país da crise. “Nós fizemos o lockdown, nós compreendemos a doença, e agora nós estamos abertos para os negócios”, disse Trump. Ele também insiste que, com uma vitória democrata, haverá outro lockdown.

Do lado democrata, Biden chegou até aqui menos pelos seus méritos do que pelas circunstâncias. Seu caminho para se consolidar como o candidato do Partido Democrata foi pavimentado por ele ser visto como aquele com mais chances de derrotar Trump. Conta a seu favor o fato de não despertar a mesma rejeição que os americanos tinham a Hillary Clinton. Segundo pesquisa da Morning Consult, em 2016, 43% dos eleitores admitiam ter uma visão desfavorável da democrata. Atualmente, só 35% dizem o mesmo de Biden. Ele se sai melhor entre as mulheres (60% contra 54% de Hillary em 2016) e entre os independentes, que não têm filiação partidária (47% contra 42% de Hillary em 2016).

Gage Skidmore /FlickrGage Skidmore /FlickrCampanha de Biden: preparação para uma batalha judicial
Como mais de 75 milhões de americanos já votaram pelo correio — mais da metade do total de eleitores em 2016 —, uma das principais preocupações da equipe de Biden será assegurar que essas cédulas sejam contadas. Estima-se que mais da metade dos que já votaram sejam democratas e 30% republicanos. Alguns estados, como o Colorado, começam a contar os votos à medida que os envelopes chegam. Outros, como os estados-pêndulo de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, só iniciam essa tarefa depois do fechamento das urnas. Caso um dos candidatos precise dos delegados desses estados para obter a maioria de 270 votos no Colégio Eleitoral, o resultado poderia ser adiado em dias ou semanas.

As chances de o pleito parar no tapetão são grandes. Ao longo do ano, advogados dos dois lados já se enfrentam em uma batalha judicial em torno da eleição e da apuração. Toda vez que autoridades estaduais mudaram uma regra em razão da pandemia do coronavírus, um processo legal foi deflagrado. Mais de trezentas ações judiciais foram ajuizadas desde março. É a eleição com mais litígios das últimas duas décadas.

Os advogados republicanos têm feito o possível para anular os votos enviados pelo correio. As estratégias variam por estado. Eles já tentaram cancelar votos que não tiveram assinatura de uma testemunha no verso ou que não foram comprovados em cartório. Também buscaram encurtar o número de dias para o trabalho da contagem e impedir que sejam aceitos votos que chegarem após a eleição, alegando a possibilidade de fraudes. Democratas têm trabalhado no sentido oposto, pedindo a extensão dos prazos e a aceitação do maior número possível de votos.

Se, no dia seguinte à eleição, um vencedor ainda não estiver definido, a disputa jurídica deve ganhar corpo e chegar à Suprema Corte, como em 2000. Naquele ano, os magistrados interromperam uma recontagem que avançava pelo mês de dezembro na Flórida e, assim, a vitória foi dada a George W. Bush. “É certamente possível imaginar a Suprema Corte interferindo este ano, especialmente se a eleição se transformar em uma disputa sobre a contagem dos votos pelo correio em um punhado de estados indecisos”, reconhece Lawrence Douglas, professor de lei e jurisprudência na Universidade Amherst, em Massachusetts, e autor de um livro sobre as eleições deste ano. “A Suprema Corte pode ser provocada, por exemplo, a decidir se as cédulas enviadas pelo correio com atraso devem ser contadas ou desqualificadas.” Se o impasse prosseguir até janeiro, caberá ao Congresso tomar uma decisão.

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