DiogoMainardina ilha do desespero

Desista dessa porcaria

02.10.20

Jair Bolsonaro diz “au au”. Ele diz “tic tac”. Eu respondo que o déficit nominal do Brasil, em 2020, deve chegar a 17% do PIB. Numa linguagem que ele compreende: “bum”.

O bolsonarismo está repetindo na economia a estratégia usada na epidemia de Covid-19: a prioridade é encontrar um culpado pelo desastre. No caso da economia, o culpado — e cúmplice — é Paulo Guedes. Ele vai ser pendurado pelos pés — pelos próprios bolsonaristas — quando o Brasil quebrar.

Para garantir o apoio de banqueiros e um futuro emprego no BTG Pactual, Paulo Guedes tenta convencer o mercado financeiro de que, se ele for chutado do governo, a hecatombe pode ser ainda mais sangrenta. Enquanto isso, o controle das contas públicas vai sendo entregue a uma gente virtuosa como Ricardo Barros, Fernando Bezerra, Arthur Lira e Rogério Marinho.

Nesta semana, sem saber o que fazer, Jair Bolsonaro choramingou pateticamente e, em seguida, pediu conselhos a economistas e a jornalistas sobre como financiar o programa destinado a comprar o eleitorado mais pobre. Todos foram pródigos em conselhos. Em geral, eles recomendaram fazer cortes em outros programas sociais, a vender ou fechar estatais, a congelar salários e aposentadorias dos servidores. Sim, é preciso fazer tudo isso. Mas é preciso também, em primeiro lugar, desistir dessa porcaria de programa eleitoreiro, que é impagável.

Os defensores do teto de gastos passaram as últimas semanas insistindo que, para financiar aquela despesa colossal, Jair Bolsonaro teria de tirar dinheiro de algum outro lugar. Isso é um erro. O Brasil não tem dinheiro — tem apenas um rombo que aumenta de ano em ano. Não se trata de remanejar dinheiro, portanto, e sim de remanejar prejuízo, de remanejar dívida. E os juros crescentes dessa dívida.

Se continuarmos assim, a bancarrota é garantida. O único consolo para os brasileiros é que a penúria não vai durar para sempre. Só uns trinta anos.

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