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Acordo selado

Orlando Diniz, o ex-todo-poderoso da Fecomércio do Rio que despejou milhões de reais em bancas de advocacia, finalmente vira delator e turbina investigações com potencial para chegar em figurões do Judiciário
10.07.20

Desde que foi preso em fevereiro de 2018, em um dos desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Fecomércio Orlando Diniz tira o sono de gente importante em lustradas bancas de advocacia. O motivo: para tentar se manter no comando da entidade no curso de uma disputa de poder com a Confederação Nacional do Comércio, a CNC, Diniz torrou mais de 180 milhões de reais com renomados advogados. Agora, o pesadelo virou realidade. Diniz fechou um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal para explicar o motivo dos pagamentos.

Crusoé confirmou a informação sobre o acordo com fontes ligadas às investigações. As negociações se deram na primeira instância. O ex-todo-poderoso da Fecomércio fluminense entre os anos 2000 e 2018 tentava um acordo desde sua prisão. Primeiro, quando era representado pelo advogado paulista Roberto Podval, o esforço se mostrou inútil. As tratativas não avançaram porque as revelações que ele topava fazer foram consideradas superficiais. Além disso, Diniz se negava a entregar seus bens.

Agora, sob a tutela da advogada Juliana Bierrenbach, do mesmo escritório que defende Flávio Bolsonaro no Caso Queiroz, as negociações avançaram, os capítulos da proposta de delação foram reforçados com mais informações e o acordo foi finalmente fechado. No material entregue ao MPF, Diniz fala, por exemplo, sobre os pagamentos para escritórios como o de Roberto Teixeira, compadre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu mais de 68 milhões de reais para a Fecomércio. O escritório de Teixeira e da advogada carioca Ana Basílio, que recebeu cerca de 13 milhões da Fecomércio, eram os responsáveis pelo esforço junto ao Judiciário para manter Diniz no comando da entidade durante o embate com a CNC.

Lucas Tavares/Zimel Press/FolhapressLucas Tavares/Zimel Press/FolhapressEntrevista coletiva da Lava Jato do Rio: em breve, novos alvos
Os pagamentos da Fecomércio na gestão Diniz também abasteceram as contas de bancas de pessoas próximas a ministros de cortes superiores. O escritório de Eduardo Martins, filho do ministro do STJ e atual corregedor nacional de Justiça, Humberto Martins, recebeu cerca de 25 milhões de reais. Como já mostrou Crusoé, outro delator, o ex-governador Sérgio Cabral, afirma que os repasses foram feitos para que Diniz conseguisse uma decisão favorável no STJ. A mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, também integrava o rol de advogados com contratos milionários com a federação – ela recebeu cerca de 20 milhões de reais e é citada no acordo fechado por Orlando Diniz com o MPF.

A delação vai impulsionar investigações já em andamento na Lava Jato do Rio. O avanço da frente que mira repasses de dinheiro para escritórios de advocacia tem em Diniz o ponto alto, mas vem se desdobrando desde o acordo de Lelis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor, o poderoso sindicato dos empresários de ônibus do Rio do Janeiro. Como também mostrou Crusoé, Lelis Teixeira detalhou como bancas foram contratadas para defender, por meios não muito republicanos, os interesses de empresários como Jacob Barata Filho.

Os procuradores da Lava Jato do Rio seguem há tempos o caminho do dinheiro da Fecomércio que abasteceu os escritórios. Desde a operação Jabuti, que prendeu Orlando Diniz há quase dois anos e meio, os investigadores se debruçam sobre as contratações e os personagens envolvidos para entender o motivo dos gastos milionários. Além de os valores serem muito superiores à média praticada no mercado, eles encontraram indícios de que os serviços não foram prestados. Procurado, Orlando Diniz não foi localizado. Juliana Bierrenbach, a advogada dele, negou as informações sobre a delação. Crusoé, porém, sabe que o acordo está fechado – para a infelicidade das bancas envolvidas na trama.

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