Reprodução/Polícia Civil

Os rastros desde Atibaia

Das mensagens arquivadas nos celulares apreendidos a possíveis acordos de delação premiada, o que é possível esperar da investigação sobre Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz
26.06.20

Os documentos amealhados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro ao longo de dois anos não deixam dúvida de que os promotores já têm elementos claros sobre dois dos crimes pelos quais o senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente da República, é investigado: peculato, o nome técnico usado no Código Penal para designar o velho desvio de dinheiro público, e organização criminosa. Para além disso, a descoberta do advogado Frederick Wassef como anfitrião de Fabrício de Queiroz em Atibaia reforçou a suspeita de que estava em marcha um outro tipo penal, obstrução de Justiça, e pôs o círculo íntimo do presidente Jair Bolsonaro no centro da estratégia para manter o ex-assessor longe dos holofotes. Até dias atrás, os investigadores ainda avaliavam se essa parte da apuração, que revelou a operação destinada a esconder Queiroz, integrará a primeira denúncia do caso, em fase final de elaboração.

Dois personagens, além do conhecido Fabrício de Queiroz, levam a investigação sobre o rachid no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e a posterior tentativa de obstrução de Justiça para muito próximo da família presidencial: os advogados Frederick Wassef e Luis Gustavo Botto Maia. Wassef, como ele mesmo assumiu em diversas entrevistas, era conselheiro do presidente e se apresentava como seu advogado. Foi recebido diversas vezes no Palácio da Alvorada e, na véspera da prisão de Queiroz, estava na posse do ministro das Comunicação, Fabio Faria. De acordo com os investigadores, ele era tratado pelo entorno de Queiroz como “Anjo”. Apreendido, o aparelho celular de Botto Maia pode ser decisivo para a tentativa de descobrir se a família presidencial era informada sobre as providências que estavam em curso, incluindo a própria iniciativa de colocar o ex-assessor na casa de Wassef em Atibaia.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisA mulher de Queiroz: ela seguia foragida até esta quinta-feira
Os celulares encontrados com o próprio Queiroz também serão primordiais nesse sentido. Espera-se que, neles, estejam as últimas conversas do homem que o MP aponta como operador financeiro de uma organização criminosa que, segundo os promotores, era liderada pelo filho do presidente. Com o avanço da investigação, há sempre a chance de algum desses personagens partir para um acordo de colaboração premiada. Não sem razão, o Planalto teme que alguém vire delator – a preocupação está concentrada, especialmente, em Queiroz e no próprio Wassef, que nesta semana foi afastado da defesa de Flávio Bolsonaro.

Doente, Queiroz vivia em Atibaia à base de remédios para controlar a ansiedade e a depressão. No dia da prisão, só acordou com os policiais já dentro de seu quarto porque havia tomado doses pesadas de medicamentos na noite anterior. A caçada à mulher do ex-assessor e a possibilidade de a filha dele, a personal trainer Nathália Queiroz, também virar alvo de um mandado de prisão, ajudam a aumentar a pressão. Um investigador lembra que, depois do mensalão, ninguém quer ter o mesmo destino de Marcos Valério, o operador do petismo que não contou o que sabia e foi um dos poucos a ir para a cadeia. Além de esclarecer como atuava no esquema de rachid, Queiroz poderia detalhar o histórico de sua relação com a família Bolsonaro desde que conheceu o hoje presidente, há mais de 30 anos. Se no Planalto a possibilidade de ele falar causa calafrios, entre os investigadores não há muita esperança – até por ser um ex-militar, acredita-se que dificilmente ele quebrará o compromisso de lealdade. Márcia Aguiar, a mulher dele, é vista como alguém que, se for presa, pode ser mais suscetível à ideia de delação. O mesmo vale para Botto Maia, a depender do que for encontrado no celular dele.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisO ex-assessor com o ex-chefe: denúncia em fase final no MP
Outra questão que a investigação pode ajudar a desvelar diz respeito à extensão da rede que operou nos últimos tempos em favor de Queiroz e como ela se relaciona com as milícias do Rio. A apuração indica que a rede protegia o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, sua família e, ainda, os familiares do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro na Bahia. A mãe e a ex-mulher de “Capitão Adriano” foram funcionárias do antigo gabinete do filho do presidente e aparecem em transações financeiras com Queiroz. O material mostra uma estreita relação do ex-assessor com o mundo das milícias cariocas – ele recebe até pedido para interceder em favor de pessoas que queriam resolver querelas com milicianos. Enquanto esteve afastado da cena – e enquanto o próprio Adriano escapava da polícia – Queiroz mantinha contato com o ex-capitão da Polícia Militar, que era acusado também de chefiar um grupo de extermínio. Gente da pesada, portanto.

A triangulação era cercada de cuidados para evitar que as autoridades rastreassem os contatos. A mãe e a mulher do miliciano, de um lado, e a mulher de Queiroz, de outro, faziam a ponte entre os dois. Logo após a morte de Adriano da Nóbrega, durante uma operação para prendê-lo no interior da Bahia, em fevereiro, Flávio Bolsonaro veio a público para apontar “excessos” na ação policial. O filho do presidente postou imagens do corpo e insinuou que Adriano foi torturado. Àquela altura, ficou no ar uma questão: por que Flávio se expôs publicamente em favor de um criminoso? Queria prestar solidariedade à família e aos amigos? Por quê? O advogado de Adriano, como mostrou Crusoé, é o mesmo que, dias atrás, passou a defender Queiroz. Ele também trabalha para a companheira de Frederick Wassef. Coincidência? A descoberta de que Queiroz continuava em contato estreito com o submundo do crime no Rio enquanto era protegido pelo advogado do senador e do próprio Bolsonaro abre mais uma frente espinhosa para a família presidencial.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisQueiroz, com o presidente: Planalto preocupado
A situação de Flávio, em particular, é bastante complicada. O desenrolar da investigação fortaleceu a suspeita de que o dinheiro desviado pelo esquema de rachid no gabinete o beneficiava diretamente – como mostrou a última edição de Crusoé, o trabalho minucioso dos promotores conseguiu mapear pagamentos de boletos pessoais de Flávio por Queiroz, com dinheiro vivo. A lista inclui mensalidades das escolas das filhas do senador. Não há registro de que os valores tenham saído das contas dele ou de sua mulher. Nesta quinta-feira, 25, uma das turmas do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro atendeu um pedido dos advogados de Flávio e ordenou que a investigação do rachid saia da primeira instância e passe a correr na corte. Com isso, o juiz Flávio Itabaiana, responsável por autorizar as quebras de sigilo, buscas e prisões do caso, será substituído pelos 24 desembargadores do Órgão Especial do TJ. No front da investigação, a tropa de elite do Ministério Público sai de cena e a apuração passa a ser conduzida pelo gabinete do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem.

A decisão foi comemorada pela defesa de Flávio Bolsonaro, que sustentou o recurso no argumento de que à época dos fatos investigados tinha foro do TJ e, por isso, o caso deveria correr na corte. Ainda que não haja disposição dos novos protagonistas em proteger o senador, confusões processuais costumam ser benéficas aos investigados. O simples desvio na trajetória da apuração, por si, já ajuda. Além disso, há outro dado a justificar a festa dos defensores do filho do presidente: investigações em segunda instância são naturalmente mais lentas e mais expostas a interferências políticas. Para se ter uma ideia do que isso significa, antes de ganhar a luz, o relatório do Coaf que deu origem ao caso ficou parado – sim, parado – por cerca de um ano no mesmo lugar para onde volta agora. Até por se chocar com a jurisprudência, a decisão deverá ser questionada em breve nos tribunais superiores, com grandes chances de ser devolvida para a primeira instância. Enquanto isso, os Bolsonaro ganham um tempo precioso. Não é pouca coisa em um momento, para eles, tão dramático.

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  1. É muito cansativo esse lero lero. Imaginem ficar lendo o pensamento e as deduções desse jornalismo, chamado investigatório. Ao terminar a leitura de trechos sobre a questão, parece que saímos de uma delegacia de polícia, onde o "querelado e o querelante", debatiam sobre se houve crime ou não. O "escribas", torcem efusivamente para que haja, assim, podem continuar a saga costumeira do jornalismo de embate. Haja paciência, mesmo diante dessa pandemia!

  2. A revista está censurando comentários na grande maioria das matérias. Alguém mais percebeu isto? Ao se acionar o botão de enviar o comentário o mesmo não é inserido (nem o de ninguém). Eu havia entendido que a revista Crusoé e O Antagonista eram contras a censura! Nós, leitores, nos mobilizamos defendendo este grupo e junto c/ milhares de pessoas e instituições conseguimos derrubar o que havia sido decidido pelo STF. Hoje somos vítimas de que defendemos! O pior é pagar e não poder cancelar

  3. Sou assinante dessa revista chamada ilha, mas não estão postando meus comentários, quero respostas, vcs tem meu e-mail, responda por lá, mas eu quero uma resposta, será isso possível?

  4. Só faço algumas perguntas, e perguntar não é crime, ou será? QUEM MANDOU MATAR JAIR MESSIAS BOLSONARO? QUEM MANDOU MATAR JAIR BOLSONARO? QUEM MANDOU MATAR BOLSONARO?

  5. Crusoé, vcs dizem que são uma ilha, mas ao meu ver estão sendo parciais. Publique meu comentário que deixaram de fazer, como vcs diz ; a responsabilidade é de quem.

  6. Eu só faço algumas perguntas, e perguntar penso não ser crime, ou será? QUEM MANDOU MATAR JAIR MESIAS BOLSONARO? QUEM mandou matar Jair Bolsonaro? E para concluir: QUEM MANDOU MATAR BOLSONARO?

  7. Tudo leva a crer que o país está lidando com uma família de milicianos mesmo. Ainda bem que estão no lugar certo, no país certo: o paraíso da injustiça.

  8. Vocês sabem quanto o governo torra de subsídios por ano? 349 bilhões. Vices já imaginam está grana toda bem investida? Agora vocês entendem porque o Brasil é o segundo país mais desigual no planeta? O que o Bozo fez para mudar isso? Absolutamente nada! Ao contrário, quer dar mais subsídio via a transferência de terras públicas para grileiros.

    1. essa história de grilagem de terra, doe bastante na alma dos que lutam para sobreviver da terra.

  9. Por que só atacar este caso e não o problema sistêmico da existência excessiva de verbas parlamentares parlamentares e os demais casos que aconteceram desde sempre? Estão SÓ nos Bolsonaros que também não são santos, nem daria para ser neste contexto. Imprensa de pulhas!

  10. Tudo farinha do mesmo saco, mas causa espanto a celeridade para pegar o "minto" e a condescendência para com os advogados do Adélio, a profunda investigação do Flávio Wonka contra a lerdeza dos outros rachids da turma do Rio. No fundo mostra a burrice do "minto" que apoiou o campeão dos rachids, o André Ceciliano do PT (com $ 40 milhões de rachid!!!!!) para presidir a assembleia. É muita estratégia de burrice. Espero que a prisão do Queiroz ajude a exterminar com a milícia do RJ.

    1. Só de pensar que elegi um bandido miliciano, passo mal.

    1. Verdade, amigo, espero que a nossa justiça não poupe ninguém

  11. O pior está por vir. Rachadinha é uma prática em todas as casas legislativas do país. Agora o envolvimento com as milícias é o + grave. Vamos aguardar.

    1. Acho que as suspeitas sobre os mandantes recaem sobre o PSDB. Se fosse alguém do PT ou do PSOL, Sérgio Moro já teria descoberto com certeza

  12. Essas moças quando tiverem crescidas deverão saber que foi dinheiro público roubado que bancou a saúde e a educação de ambas. Família desgraçada

  13. Que esse tempo seja um dia a menos que dois anos, porque se assim for eu ganho 50 dólares. Caso contrário eu vou dar 20 pra minha irmã e esse detestável Flávio Bolsonaro se safa. O que será lamentável principalmente para minha irmã caçula que já disse que tem vontade de matar o Presidente Jair Messias Bolsonaro.

  14. Deve ser muito bom fazer a farra com o dinheiro público. se esse mal nunca é exterminado, então o povo brasileiro todo deveria compartilhar essa dança do mau. Daí, ficaria tudo bem.

  15. Uma coisa é certa, estes cargos utilizados por políticos são desnecessários, pois não há obrigação de trabalhar, mas emprestar o nome para viabilizar desvio de recursos públicos. Como o principal beneficiário não pode se envolver diretamente, interpõe um centralizador com autorização para achacar os mais relutantes a entregar a maior parte do produto do roubo. Infelizmente é um mercado criminoso já institucionalizado que a sociedade fingi não ver.

  16. Uma corja de idiotas e calhordas... Quer ver um? Se você é um ou uma, ou até “bi” (tanto faz, já que troca sempre de nome e faz troca-troca com o Carluxo pelas míseras esmola$), peque um espelho e se mire. Tamu juntu, juntinho, otario (a ou bi). Bjs e um abraço bem apertado aqui desta tal gripinha...

    1. Seu bosta, a polícia sempre usou dados da imprensa em investigações. Acorda bozomerda!

    1. Já revelou ao menos a insuficiência mental, retórica, gramatical e educacional de alguém.

  17. Uma pergunta, poderia o PGJ do RJ fazer uso político disso para ver se o p r amacia, pelo menos junto a alguns de seus deputados estaduais, no impeachment do Witzel!?

  18. A não ser que fique provado o envolvimento do presidente e de seu filho com as milicias, não me ocorre o quê o Queiroz tenha feito de errado que outros 99% de gabinetes políticos não tenham feito. O rachid do PT, por exemplo, é instituído em 20% de cada servidor. Crusoé, por ser "uma Ilha do jornalismo", se assim o fosse realmente, e o MP do RJ dinvestideveriamgar. Como não investigarão, fica evidente que querem apenas desestabilizar e enfraquecer o governo para satisfazerem seus interesses.

    1. Só porque um partido ou um POLÍTICO é ladrão os outros devem ser devidamente investigados e punidos também. Afinal, o BolsoNADA não foi eleito para combater a corrupção ? Não interessa de onde ela venha.

  19. Rachid é só a ponta do iceberg. Debaixo dela: muitas sujeiras com as milicias e os milicianos. Não tenho duvida. Aguardem os próximos capítulos.

  20. Fica cada vez mais evidentes certas ligações da "famiglia" com as milícias fluminenses. Resta saber: existem mesmo essas milícias? Quem são os Al Capones tupiniquins? apscosta/df

  21. Os Bolsonaro andam só com gente fina: Adriano, Queiroz, Wassef. E o Bozo não se constrange em dar pitaco na vida alheia, mesmo com filhos investigados por ladroagem.

  22. O Rio é o buraco negro do Brasil, se é de lá, morou lá,passou por lá, tem sotaque de lá. CUIDADO. Um estado tão pequeno consegue MOER um pais tão grande.

    1. Concordo. Será que a China, nadando em dinheiro, não compraria o Rio? Nosotros ficaríamos livres dessa m&&&& e ainda ganharíamos algum. O RJ é o grande parasita da nação, quer viver às custas dos outros. Pra eles só intreressam praia, carnaval e futebol. Até qdo vamos carregar esse fardo?

  23. Eta"JORNALISMO SELETIVO". Só Queiroz e o Filho do Bolsonaro praticaram rachadinha. NINGUÉM mais na Assembleia Legislativa do RJ fez isso. Mas é Bolsonaro, é inimigo. Vocês, desta famigerada desinformação semanal CRUSOÉ, são uma das sucursais da Globo, da Folha SP e outras midias tedenciosas militantes comunistas. Só se interessam pelo mal do país. O Presidente é de todos. Uma vez eleito, vocês se preocupam em fazer o barco afundar com vocês dentro do mesmo barco. Falem o que quiser do filho do

  24. Pro meu bandido de estimação, tudo.... Hipocrisia no reino chamado Brasil. Corruptos tem q ser colocados na cadeia, independente de qual partido for e doa a quem doer.

    1. Ironia. O Siciliano roubou 50 vezes mais que o Queiroz, mas a TV raramente fala o seu nome. Quando fala é para dizer que a investigação corre em segredo de justiça.

    1. O Regimento Interno do STF nem o da OAB não podem ser mais importantes que a legislação federal e, finalmente, a justiça. Nas normas do condomínio do seu prédio também poderia haver regras como esta.

    2. Helia existe um protocolo na OAB que não permite a quebra dos sigilos de celulares de advogados. Reclama lá.

    3. Concordo. A bandalheira não tem nome nem endereço exclusivo. Por isso, a indignação de não vermos todos no mesmo saco jurídico da investigação. Ou o sr Flávio Bolsonaro é mais bandido que todos os outros que estão fazendo escola nesse ‘ramo’ da política?

    4. Ótimo celulares apreendidos e decodificados. E os do caso Adélio, quando o serão? São todos celulares, ou não?

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