LeandroNarloch

É hora de acabar com a farra dos gabinetes

26.06.20

Escândalos de corrupção de vez em quando motivam boas mudanças institucionais. O cerco da Lava Jato ao petrolão rompeu o ciclo de políticos que corrompiam empresas que, por sua vez, corrompiam políticos. Pôs na pauta a proibição de financiamento eleitoral por pessoas jurídicas, o que fez despencar o custo das campanhas políticas no Brasil.

Agora, o escândalo das rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro deu ao país a oportunidade de uma nova mudança institucional. A oportunidade de acabar de vez com a farra das verbas de gabinetes de vereadores, deputados e senadores. De deixarmos de ser tolerantes com essa corrupção presente em todo parlamento brasileiro.

Os números são uma loucura. O leitor deve conhecê-los, mas não é demais lembrar. A Assembleia Estadual do Rio de Janeiro (Alerj) custa 1,3 bilhão de reais por ano. É quase o valor do repasse do Bolsa Família naquele estado (1,5 bilhão de reais). É mais que o dobro do orçamento do maior hospital público fluminense, o de Bonsucesso.

A Assembleia de São Paulo sai mais ou menos pelo mesmo preço. Equivale a 70% do orçamento do Hospital das Clínicas da USP, que é simplesmente o maior complexo hospitalar da América Latina. O maior complexo hospitalar da América Latina!

Para comparação, veja o caso do estado de Nova York. Sua economia tem o tamanho da do Brasil inteiro – 1,8 trilhão de dólares. Sua assembleia, com 150 deputados estaduais, custa 228 milhões de dólares. Mesmo com o dólar a estratosféricos 5,30 reais, sai 100 milhões de reais mais barato que a do Rio de Janeiro – que tem um décimo do PIB de Nova York. No valor está incluído o custo de 63 senadores estaduais nova-iorquinos.

E ainda nem estamos falando da assembleia legislativa mais cara do país, a de Minas Gerais. Custa 1,6 bilhão de reais por ano, mais que a de São Paulo, estado com o dobro da população.

Os deputados arranjam os jeitos mais criativos para se apoderar dessas fortunas. Superfaturam aluguel de carro, combustível, gráficas, combinam devolução de salários de funcionários fantasmas. No ano passado, cinco deputados do Distrito Federal (menor unidade da federação) gastaram com combustível o suficiente para dar oito voltas ao redor da Terra.

Mesmo concordando com a afirmação, bastante duvidosa, de que os deputados estaduais servem para alguma coisa, é razoável acreditar que as assembleias poderiam custar bem menos. A metade, dois terços menos. Oitenta por cento menos. A de São Paulo aprovou corte de 30% de salários durante a pandemia: as comissões seguem normalmente discutindo leis sem importância.

No total, sem contar câmaras de vereadores, o Congresso e as assembleias estaduais custam 23 bilhões de reais por ano. Se esse valor cair pela metade, teremos uma economia anual equivalente a mais de duas vezes o que a Operação Lava Jato recuperou.

Flávio Bolsonaro é um entre muitos, um entre milhares que devem ser punidos por esse crime. Que sirva de exemplo de uma tradição que precisa acabar no Brasil.

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