O dedo de Bolsonaro

22.05.20

Ex-superintendente da Polícia Federal no Rio e recém-alçado ao posto de número dois da instituição, o delegado Carlos Henrique Oliveira de Sousa pediu para prestar novo depoimento no inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro para evitar um embaraço que policiais conhecem bem. No primeiro depoimento, no último dia 13, ele não mencionou que, ainda em 2019, fora levado ao Planalto pelo então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, para uma conversa com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. A omissão poderia ser mal interpretada ou, em último caso, até ser considerada como falso testemunho. Alertado para o risco, ele pediu para ser ouvido novamente e, seis dias depois, revelou a existência do encontro. Àquela altura, o nome de Carlos Henrique estava no meio da queda de braço entre Bolsonaro e Sergio Moro. O presidente já havia anunciado que pretendia trocar o comando da superintendência do Rio. Moro e Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF, diziam que até topavam a troca, desde que o nome do novo superintendente fosse indicado pela própria corporação. Os dois apresentaram, então, o nome de Carlos Henrique. Bolsonaro quis conhecer o delegado. E, na presença de Ramagem, homem da sua confiança e uma espécie de fiador naquele ato, aproveitou para dizer pessoalmente quais eram as suas queixas em relação à superintendência do Rio. Após a audiência, o nome de Carlos Henrique recebeu finalmente o aval do presidente e a nomeação foi oficializada. Resumo da ópera: antes mesmo da saída de Moro do governo, Jair Bolsonaro já tinha participado diretamente do processo de escolha do chefe da PF em seu estado. Ao prestar o novo depoimento, Carlos Henrique traz à luz a existência da audiência, mas em nenhum momento detalha o que ouviu do presidente. Ele nem sequer é instado a falar mais sobre isso, aliás. O delegado se limita a dizer que Bolsonaro fez “uma explanação geral da trajetória que havia percorrido até sua eleição e dos desafios que enfrentou”.

Assembleia Legislativa de Pernambuco/DivulgaçãoAssembleia Legislativa de Pernambuco/DivulgaçãoCarlos Henrique: segundo depoimento para evitar risco de falso testemunho

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