RuyGoiaba

Do globalismo à SBTização

22.05.20

Cada vez mais acredito que, para o suposto governo de Bolsonaro, “globalismo” não é aquela ideia que picaretas olavetes copiaram e colaram de outros picaretas que falam inglês, geralmente com a ajuda do Google Translator. É a “dominação pela Globo” — aquela emissora que o esquerdista de meia-idade ainda chama de Vênus Platinada e à qual também atribui todos os males do mundo. Sim, a mesma que não conseguiu derrubar nem um Michel Temer, mas é o diabão favorito dos minions à direita e à esquerda.

A resposta do governo federal ao “globalismo” só poderia ser a SBTização de tudo. Sei que neste ponto alguém pode citar a Record, ou a Record gourmet que é a CNN Brasil. Mas para mim o paradigma é mesmo o SBT, naquele sentido “Silvio Brincando de Televisão”, que combina 100% com Bolsonaro brincando de governar. Repare: do Bozo na Presidência — saudado por luminares do pensamento brasileiro, como Paulo Cintura e aqueles paraquedistas que parecem ter saído de um quadro de “Dedé e o Comando Maluco” — ao Nhonho na chefia da Câmara, passando por um ministério basicamente composto de gente que podia ser figurante n’A Praça É Nossa, estamos nos debatendo dentro de um programa do SBT dirigido pelo Marquês de Sade, sem conseguir sair.

(Minha sensação é que nós entramos na prova do foguete do “Domingo no Parque”, Silvio Santos perguntou “você troca o seu país por um suprimento de latas da ‘Merda d’Artista’, do Piero Manzoni, como cesta básica para o resto da sua vida?” e a gente respondeu SIIIM – ouvindo a pergunta, o que é pior.)

Ora, direis, mas e a “globalista” Regina Duarte? Também foi submetida à SBTização: Regina no governo serviu só para passar (e nos encher de) vergonha, da “caipirinhaaa! De maracujááá!” ao chilique na CNN, queimar seu filme, ganhar apelidos como Rainha da Suástica e Namoradinha do Fuzil e ser rebaixada pelo chefinho para um cargo que, a rigor, não existe – em tese, a estrutura da Cinemateca terá de ser mudada para poder acomodar a Viúva Porcina. Levar torta na cara no “Passa ou Repassa” teria sido bem menos indigno.

Para o lugar dela na Secretaria da Cultura deverá ir Mário Frias, que tem como highlights do currículo ser “ex-galã da Malhação” e amigo dos bróder. Suponho que os igualmente qualificados Mocotó e Cabeção tenham sido sondados antes e recusado o convite. Mas não entendo porque, nessa área, Bolsonaro prefere “globalistas” e não mete logo um Batoré, bolsominion a ponto de já ter defendido o fechamento do Congresso e do STF. Deve ser porque não é bonito ser feio.

Não vejo a hora de o Ministério da Saúde incluir no seu próximo protocolo para a Covid-19, além da cloroquina, o suco do Chaves — aquele de limão que parece tamarindo, com sabor de groselha. Ficaremos todos (percebam com que destreza mudo o registro do trash para o cult) como os personagens de “O Anjo Exterminador” do Buñuel, impedidos de sair desta casa que é o Brasil de 2020, cada vez menos civilizados e mais selvagens — e com o coronavírus bombando.

Era melhor ter ido ver o filme do Pelé. E não voltar nunca mais.

***

A GOIABICE DA SEMANA

De um lado, Jair Bolsonaro, o Sr. E Daí?, fazendo piadinha (“quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína”) num dia em que o Ministério da Saúde registrou mais de mil mortos por Covid-19 no Brasil. Do outro, Lula dizendo “ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus para que as pessoas percebam que apenas o Estado é capaz de dar a solução” – ou seja, “ainda bem que o monstro prova meu ponto político”.

Ambos merecem figurar naquele meme “os dois a 80 km/h”, só que não um do lado do outro. Um na direção do outro – de preferência, acelerando bastante.

Instituto LulaInstituto LulaLula pediu desculpas por ‘frase infeliz’; é uma piscadela de quem finge se importar

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