FelipeMoura Brasil

Os mimados no poder

08.05.20

Passo a passo, em síntese:

1) O chefe precisa de um gestor/diretor/ministro qualificado para fortalecer seu negócio/veículo/governo, bem como sua imagem perante a sociedade, e não raro lhe promete autonomia na respectiva área de atuação;

2) O escolhido se destaca, aos olhos do mercado e/ou do público, pelo carisma e pela competência, eventualmente atingindo resultados incontestáveis;

3) Em vez de se orgulhar da própria escolha e de exercer o papel de líder, o chefe, se é mimado e se sente inferiorizado, morre de inveja do protagonismo alheio – um comportamento mais comum em herdeiros recalcados, exibicionistas aloprados e demais pessoas inseguras alçadas a cargos de poder em razão de uma confluência de fatores circunstanciais favoráveis, não de qualificação especial para a função;

4) Se o escolhido vira um estorvo moral ou político para os interesses financeiros ou eleitorais do chefe, a inveja vira ódio;

5) O chefe, considerando que pega mal demitir quem se destaca, conspira com bajuladores ingratos e demais oportunistas para “fritar” o escolhido (com mentiras, ataques, fofocas, tentativas de assassinato de reputação) e/ou esvaziar o seu poder, dada a incapacidade de superá-lo ou refutá-lo pela força da razão e do mérito;

6) O escolhido pondera se deve:

(a) permanecer firme, no olho do furacão, em nome de uma responsabilidade maior, até ser mandado embora ou acabar seu contrato/mandato;
(b) peitar o chefe em particular e/ou publicamente, para tentar corrigir o mal, se julgar que tem cura; ou
(c) ir embora já, para algum lugar melhor;

7) De um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde, o chefe, os bajuladores e os oportunistas que conspiraram contra o escolhido celebram sua saída, o que lhes permite rumar juntos dentro de uma bolha, ladeira abaixo em matéria de qualidade e moralidade, geralmente alheios à realidade em torno;

8) A saída do escolhido acende o alerta dos demais membros de talento e trajetória sólida do grupo, que não dependem do cargo para sobreviver e ter projeção, e que ainda conservam alguma integridade, razão pela qual terão de decidir se são, ou até que ponto serão, cúmplices das indecências do chefe e de seu entorno, antes que as últimas testemunhas e plateias ingênuas se deem conta delas e também se afastem;

9) O escolhido, de consciência tranquila, sente um alívio diário por estar longe dos conspiradores e daquele ambiente tóxico, ciente de que sua credibilidade só aumentou com as pessoas decentes e inteligentes (avessas aos rumos tomados por eles e/ou à própria natureza de cada um, cada vez mais exposta);

10) Essas pessoas continuam acompanhando o trabalho do escolhido, por onde ele estiver.

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