Adélio em versão (quase) final

08.05.20

A Polícia Federal acaba de concluir o mais novo relatório da investigação aberta para identificar possíveis mandantes ou patrocinadores do atentado a Jair Bolsonaro na campanha presidencial. O documento será entregue ao juiz Bruno Savino e levará aos autos, pela primeira vez, o detalhamento de toda a apuração, com o resultado das quebras de sigilo, as imagens coletadas com o objetivo de reconstituir os passos de Adélio, as viagens feitas por ele nos últimos anos e os relatos das testemunhas ouvidas ao longo desse que é o segundo inquérito sobre o caso. A conclusão será a mesma do primeiro: não há, segundo os policiais, qualquer elemento que indique a participação de outras pessoas. A conclusão do relatório foi antecipada em razão das recentes declarações do presidente, que ao falar sobre a saída de Sergio Moro do governo mais uma vez reclamou do trabalho da PF na apuração do crime – mesmo sem evidências, Bolsonaro insiste em dizer que há, sim, mandantes.

O documento ainda não será apresentado como a versão final porque segue pendente a análise do telefone celular do advogado que se apresentou para defender Adélio. A Justiça proibiu os investigadores de acessar o conteúdo do aparelho e a última decisão está a cargo do Supremo. A checagem das mensagens contidas no celular é considerada fundamental para descobrir se alguém pagou pelo serviço ou se o advogado entrou no caso só para se promover, considerando a exposição que ganharia ao longo do trabalho. Há dados interessantes no material coletado, embora nenhum deles traga elementos capazes de sustentar ligações do esfaqueador de Bolsonaro com supostos interessados na morte do então candidato.

Os policiais resgataram, por exemplo, a história de uma viagem que Adélio fez a Brasília em agosto de 2013. Na ocasião, ele tirou fotos em pontos turísticos da cidade e foi ao Anexo 4 da Câmara dos Deputados. Como já não havia registro no sistema eletrônico que grava os dados de visitantes, não foi possível identificar se ele chegou a visitar algum gabinete. Dois outros registros de entrada na Câmara lançados no dia do atentado foram rechecados e a conclusão, idêntica à da polícia legislativa, foi a de que ambos foram inseridos por engano por um funcionário que, na verdade, quis averiguar, depois do atentado, se Adélio já havia frequentado o Congresso.

A visita do ex-pedreiro a um clube de tiro na região metropolitana de Florianópolis dias antes de Carlos Bolsonaro passar pelo local também foi esmiuçada. Os policiais concluíram que Adélio tinha recursos à época para pagar pelos disparos que fez em um dos stands. Os policiais procuraram esgotar, uma a uma, as várias hipóteses levantadas desde o dia do crime, incluindo fake news surgidas nas redes sociais. Chegaram até a cruzar os deslocamentos de Adélio, reconstituídos por meio de registros das torres de telefonia celular, com dados de filiados a partidos políticos que, em tese, poderiam ter alguma conexão com o crime. Não acharam nada que chamasse a atenção.

Guilherme Leite/FolhapressGuilherme Leite/FolhapressAdélio logo após ser preso: PF concluiu novo relatório sobre o atentado

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