DiogoMainardina ilha do desespero

O bolsonarismo é uma comorbidade

24.04.20

Jair Bolsonaro sabotou a quarentena. Ele vai ser lembrado por isso. O ocultamento de cadáveres sempre foi uma prática comum no Brasil, sobretudo durante a ditadura militar. Mas o vírus é mais rápido do que os coveiros. Dá para esconder uma pilha de mortos, não dá para esconder dez delas, como mostrou o cemitério de Manaus.

A sabotagem bolsonarista contou com a covardia de prefeitos e governadores, que cederam aos ataques do Palácio do Planalto e resolveram avacalhar as normas de isolamento social. O resultado de uma abertura desenfreada, antes da hora, vai ser tenebroso. A epidemia chegou ao Brasil em duas fases. Na primeira, só atingiu aqueles que viajaram para a Europa ou para os Estados Unidos. Quando os aeroportos fecharam, ela foi cortada pela raiz. Agora estamos entrando na segunda fase: aquela que vai atingir os mais pobres.

Jair Bolsonaro, diante de uma pandemia, é uma figura menor. Quem realmente importa neste momento é o pessoal da Johnson & Johnson, que vai descobrir uma vacina capaz de derrotar o vírus. O estrago causado pelo presidente da República, porém, tem tudo para se somar à ruína causada pela epidemia. Ele é uma espécie de comorbidade. No último domingo, berrando para aquele bando de golpistas aloprados, ele demonstrou como um organismo desprovido de anticorpos pode ser devastado por uma tempestade de citocinas.

Ninguém sabe o que vai ocorrer nos próximos anos. Mas tudo deve mudar, até mesmo em nosso mundinho. Depois de contarmos os mortos, teremos de arrumar uma maneira de enxotar mais um governante imprestável. É um talento nacional: a gente vota mal, mas derruba bem. É a melhor maneira de reiniciar a vida após a calamidade.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO