Arquivo pessoal

Suélia, a engenheira

Com os sintomas da Covid-19, pesquisadora desenvolve com colegas uma máscara antivírus para reduzir os riscos aos profissionais de saúde
08.04.20

Ao acompanhar o noticiário sobre o avanço do coronavírus, um aspecto em especial tocou a engenheira Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa, de 42 anos. A professora da Universidade de Brasília pensou na ameaça crescente que a pandemia representaria para os milhares de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde à frente do combate à doença. Depois de conversar com colegas, ela decidiu colaborar de alguma forma. Concluiu que garantir proteção para quem está no front, lidando com pacientes infectados, seria uma ajuda valiosa. Começava ali uma pesquisa envolvendo quase 100 pessoas, entre professores, estudantes e ex-alunos voluntários que tem avançado sensivelmente nas últimas semanas. O objetivo é audacioso: desenvolver uma máscara que, ao ser manuseada após o uso, não exponha os profissionais ao risco de contaminação. A máscara de proteção individual usa a nanotecnologia para matar o coronavírus. Os pesquisadores esperam concluir o trabalho e distribuir o material em hospitais públicos até o final deste mês, apesar dos contratempos que, ironicamente, a doença tem imposto ao projeto – nos últimos dias, Suélia acompanha o trabalho dos colegas à distância, de casa, onde se isolou após ter febre e outros sintomas da Covid-19.

Nascida em Goiânia, a engenheira telefonou para uma médica conhecida para conversar sobre o avanço do coronavírus tão logo percebeu a gravidade da situação. A doença ainda não tinha desembarcado com força no Brasil. As duas trocaram ideias acerca de como especialistas de outras áreas poderiam ajudar os profissionais da saúde. Do bate-papo informal surgiram algumas ideias e Suélia, então, procurou colegas da UnB que poderiam ajudá-la a partir para a ação. Surgiu, então, o Projeto Égide. Além da máscara especial, chamada pelos pesquisadores de Vesta, o grupo se comprometeu a desenvolver armaduras faciais para médicos e válvulas e conectores para respiradores, um equipamento essencial para o tratamento de pacientes graves do coronavírus. Três núcleos atuam simultaneamente nas diferentes frentes de trabalho. “O grande desafio é ter pragmatismo nos ensaios. As condições nos obrigam a isso, não podemos colocar as pessoas em risco”, diz Suélia.

Para desenvolver o protótipo da máscara antivírus, o grupo lançou uma vaquinha virtual que já arrecadou 21 mil reais. Os pesquisadores aguardam ainda a liberação de recursos de um edital da própria universidade para fazer ensaios de bancada e o desenho clínico do projeto. A máscara será feita com nanopartículas de quitosana, substância que vem da casca do camarão e do caranguejo. Graças a uma parceria com a Universidade Federal de Campina Grande, parte do material virá da Paraíba. Em associação com a quitosana, partículas microscópicas de prata vão otimizar a filtragem do vírus, funcionando como um biocida. A Vesta foi concebida a partir do modelo N-95, com três camadas especiais de proteção. Entre as faces interna e externa estão os elementos que servirão de filtro. O primeiro lote deve ter 10 mil peças, que serão distribuídas em hospitais de Brasília e de Goiânia. “As nanopartículas reagem ao vírus e levam à degradação do micro-organismo. Assim, o agente contaminante deixa de existir e o profissional de saúde não fica exposto à infecção ao retirar a máscara”, explica a engenheira, que dá aulas no campus da UnB no Gama, cidade-satélite a 30 quilômetros do centro de Brasília.

Alguns integrantes da equipe, aos quais Suélia se juntou desde o dia em que sentiu os sintomas da doença, atuam remotamente. Outra parte da equipe trabalha no laboratório da universidade. “A direção liberou a entrada de pesquisadores e a equipe de limpeza faz um trabalho com atenção redobrada diariamente para evitar a contaminação”, explica. Enquanto se dedica às pesquisas e segue apreensiva com os sintomas da Covid-19, a engenheira se preocupa também com a mãe, de 65 anos, que mora sozinha em Goiânia. Em casa, ao lado do marido, ela se desdobra para conciliar o novo projeto com as atividades escolares dos dois filhos, de 9 e 13 anos.

Esta não é a primeira vez que Suélia e sua equipe contribuem com a medicina. Em 2018, a engenheira ficou em primeiro lugar em um prêmio que incentiva a ciência e a inovação no Sistema Único de Saúde, o SUS. Ela desenvolveu um protótipo de aparelho para combate o câncer de fígado chamado Sofia. Por radiofrequência, o tumor é destruído sem a necessidade de uma cirurgia para a remoção. O aparelho desenvolvido pela equipe permite uma área de queima das células cancerosas de até quatro centímetros, o que garante mais segurança na aplicação do tratamento. Espírita praticante, Suélia tenta captar as lições da crise sem precedentes. “Eu sou resiliente e tento ver que essa situação representará um aprendizado imenso para a humanidade.”

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  1. Parabéns, engenheira, pesquisadora, inventora, professora Suélia! Inteligentíssima e competente, não foi em vão que recebeu importante prêmio. Que ideia genial - até parece óbvia - uma máscara (capacete) que extermina ela mesma os vírus ali chegados. Quitosana e prata! E vocês ainda precisam fazer "vaquinha virtual"! Deus a abençoe e proteja. Vai ficar tudo bem! Saúde e paz! Beijos! Gratidão!

  2. Parabéns Suelia. Você sabe o grupo que a está lá apoiando. São de ciência. Vamos em frente ajudar os trabalhadores que se doam nestas horas difíceis, mas que passarão. Um fraterno abraço.

  3. Contribua com esta ideia que ajuda quem pode nos salvar! VESTA – a máscara do Projeto Égide da Universidade de Brasília. https://www.vakinha.com.br/vaquinha/vesta-a-mascara-do-projeto-egide-da-universidade-de-brasilia

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  5. Parabéns Suélia! Que você tenha muito sucesso e se recupere logo da doença. Se possível, nos informe como ajudar ao seu projeto com contribuições financeiras individuais.

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  6. Parabéns Suélia, muito orgulho de ver uma mulher vencendo tantas barreiras em prol de beneficiar o próximo Rozemeire Silva

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  7. Parabéns pelo belo trabalho! Que sirva de exemplo para as futuras gerações de brasileiros, que, infelizmente nos últimos anos se acostumaram a ver, diariamente na televisão e nos jornais, o que de pior uma sociedade pode produzir: políticos e empresários corruptos!

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  8. Parabéns, Suélia, seu trabalho é magnífico, sua preocupação com os profissionais da saúde é ímpar. Muitíssimo obrigada por colocar seu conhecimento à serviço da sociedade!

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  9. Obrigado Suélia!! Como Engenheiro aposentado, tendo trabalhado na área hospitalar e também em laboratórios microbiológicos, físico-químico, análise e de pesquisa&desenvolvimento, ainda mantenho atuante uma pequena empresa GMP Engenharia. Fico à sua disposição para o apoio que achar conveniente. A Engenharia se faz presente junto a Medicina.

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