US$ 15 milhões por Maduro
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou nesta quinta-feira, 26, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e outros catorze integrantes e ex-membros do regime venezuelano de envolvimento com o narcotráfico. Quem oferecer informações que levem à captura de Maduro pode ganhar uma recompensa de até 15 milhões de dólares. Para pistas que levem a outros cabeças do regime, como o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, e o ministro da Indústria, Tareck El Aissami, o prêmio pode chegar a 10 milhões de dólares. Como todo mundo sabe onde eles estão, a recompensa tem o efeito principal de desmoralizar ainda mais o regime bolivariano.
Caso seja levado a um tribunal americano e condenado, Maduro pode pegar 15 anos de prisão ou pena perpétua. A acusação é fruto de uma investigação criminal que envolveu a coleta de evidências e de depoimentos. Não é, pois, uma ação política da Casa Branca. Também não tem relação com as sanções econômicas que foram impostas pelo Departamento do Tesouro americano.
No relatório, Maduro é acusado de ter liderado o Cartel dos Sóis, uma organização formada por militares de alta patente voltada ao tráfico de entorpecentes. Os “sóis” do cartel são uma referência às insígnias que os militares pregam nos uniformes. “Seus membros não apenas enriqueceram com o negócio ilegal como também inundaram os Estados Unidos com cocaína”, diz o documento do Departamento de Justiça.
A recompensa de 15 milhões de dólares é uma das maiores já oferecidas pelos Estados Unidos. O valor fica perto do que já foi ofertado pela cabeça de outros tiranos ilustres. Pelos filhos do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, o montante foi de 30 milhões de dólares. Para Osama bin Laden e Saddam Hussein, 25 milhões de dólares.
Embora o texto fale em capturar Maduro, uma invasão é pouco provável, ainda mais em tempos de pandemia de coronavírus. A ação de mercenários na Venezuela também é difícil, pois o cerco de proteção pessoal de Maduro foi solidificado com auxílio cubano. Na coletiva de imprensa em que anunciou a acusação, o secretário americano de Justiça, William Barr, afirmou que a esperança é a de que ocorra uma mudança de regime na Venezuela e que Maduro acabe sendo entregue aos Estados Unidos pelo próprio povo venezuelano.
Entre os venezuelanos, o medo é o de que Maduro se sinta acuado e escale a repressão, como já fez várias outras vezes. Ventila-se a possibilidade de que o regime aproveite a ocasião e prenda o presidente interino Juan Guaidó. “O que vai acontecer agora depende muito da posição das Forças Armadas. Acredito que a inclusão de vários altos oficiais entre os acusados foi uma maneira de forçar o regime a negociar”, diz o advogado venezuelano Leonel Ferrer, professor de direito constitucional na Universidade Central da Venezuela.
Outra consequência da acusação americana é que os demais países da América Latina — incluindo alguns que estavam falando até recentemente em negociação, como a Argentina — devem fechar as portas para o ditador de Caracas. “Essa medida coloca Maduro virtualmente em quarentena. Com a chegada do coronavírus, ele fica totalmente sem recursos para lidar com a situação”, diz o analista internacional argentino-venezuelano Andrés Serbin, baseado em Buenos Aires. “A questão agora é ver se ele consegue administrar ao mesmo tempo uma crise econômica, uma crise política e uma crise sanitária.”
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