Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

Tom de Bolsonaro surpreende ala militar, que tenta se preservar

25.03.20 09:54

A mudança brusca no tom de Jair Bolsonaro (foto) em relação à pandemia do coronavírus, evidenciada no pronunciamento à nação na noite desta terça-feira, 24, surpreendeu a ala militar do Palácio do Planalto e governadores com os quais o presidente conversou nos últimos dias.

No pronunciamento, Bolsonaro voltou a minimizar a crise e a atacar governadores, prefeitos e a mídia. Ele criticou o confinamento em massa e alegou que “algumas poucas autoridades” devem “abandonar o conceito de terra arrasada, com a proibição de transportes e o fechamento do comércio”.

Pouco tempo antes da declaração, militares que compõem o gabinete de crise do Planalto diziam que Bolsonaro usaria o pronunciamento para pedir a união do Brasil no combate ao Covid-19 e destacar a importância do pacote de 88 bilhões de reais do governo federal em apoio a estados e municípios durante a crise.

A mudança de postura do presidente, porém, surpreendeu os militares. Logo depois do pronunciamento, muitos fizeram questão de ressaltar à imprensa, nos bastidores, que não participaram da elaboração do discurso. “Negativo. Não participei”, disse um general a Crusoé.

O pronunciamento foi feito por Bolsonaro com a ajuda do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, que está em Brasília desde o fim de semana, quando comemorou o aniversário de 65 anos do pai. O presidente elaborou o discurso junto com o filho no Planalto durante a tarde de ontem.

Integrantes do chamado “gabinete de ódio”, como ficaram conhecidos os funcionários que cuidam das redes sociais da Presidência, também ajudaram. A estratégia de Bolsonaro, ao subir o tom novamente, era dar munição para que seu eleitorado voltasse a defender o governo.

O comportamento do presidente também surpreendeu governadores do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, com os quais ele se reuniu em teleconferências na segunda-feira, 23, e terça-feira. Nessas reuniões, após dias de atritos, Bolsonaro havia moderado o discurso, pedindo união contra o Covid-19.

O pronunciamento rendeu críticas de vários setores da sociedade e da cúpula do Congresso. Infectado pelo coronavírus, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi o primeiro a emitir nota dura, considerando “grave” as declarações de Bolsonaro.

Apesar das críticas, o presidente da República dobrou a aposta na manhã desta quarta-feira. Em entrevista na portaria do Palácio da Alvorada, voltou a defender isolamento só de idosos e a reabertura de empresas. E sugeriu que país pode “sair da normalidade democrática” em meio à crise.

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