Adriano Machado/CRUSOE

Surpreendido em audiência, Lula diz ‘admirar’ procurador negro

19.02.20 16:37

Em cerca de uma hora de depoimento na Justiça Federal em Brasília, o ex-presidente Lula voltou a recorrer à retórica de perseguido, atacou a Polícia Federal e o Ministério Público, mas foi surpreendido pelo procurador da Operação Zelotes, Igor Miranda da Silva, o qual lembrou que era negro e da periferia e que não havia atuado na denúncia contra o petista, mas apenas buscava a verdade.

Com a fala, o petista acabou remodulando o discurso e, ao final da audiência, após repetir ataques às investigações, afirmou estar “admirado de ver um negro no Ministério Público”. Encerrado o depoimento, cumprimentou o procurador, que está atuando na Operação Zelotes em apoio a Frederico Paiva, atualmente realizando uma pós-graduação nos Estados Unidos.

Mais cedo, o ex-presidente voltou a chamar de mentirosa a acusação do MPF de que teria acertado propina para a aprovação da MP 471, sancionada em seu segundo mandato, em 2009, e que prorrogou incentivos fiscais a montadoras. Segundo o órgão, a aprovação da norma só foi possível graças ao pagamento de 6 milhões de reais em valores irregulares para financiar campanhas do PT, por meio do lobista Mauro Marcondes.

Lula argumentou que se encontrou com representantes do setor automotivo quando era presidente, mas que a tramitação da MP se dava no Congresso e não tinha interferência dele. O petista ainda negou ter tratado de dinheiro de campanha em seu gabinete quando chefiava o Planalto. “Era terminantemente proibido qualquer discussão de dinheiro próxima do Presidente da República”, afirmou, em referência ao período que estava no Executivo.

“Estou cansado de tanta mentira contra mim, de tanta leviandade, de tantas insinuações. Eu duvido que tenha um juiz, um procurador, um delegado ou um deputado que diga o seguinte: ‘eu vi um empresário que deu cinco centavos ao Lula'”, disparou, após questionado se conversou sobre a MP 471 em reuniões com o lobista Mauro Marcondes quando era presidente da República.

“Parem de insinuar coisas ao meu respeito!”, seguiu o petista, condenado em duas ações penais da Lava Jato por receber propina de empreiteiras envolvidas em um esquema de corrupção na Petrobras.

Logo após a fala de Lula, o procurador Igor Miranda disse que é negro, veio da periferia e estava apenas cumprindo seu dever. “Só para deixar claro, eu sou negro, cresci na periferia, mas é meu dever institucional buscar a verdade”.

O petista ainda voltou a atacar as investigações contra ele, mas terminou seu discurso afirmando que a denúncia contra ele é mentira “dita por procuradores e por delegados, e veja que eu não culpo a instituição, culpo determinadas pessoas”.

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