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“Que nunca mais volte a relação corrupta estabelecida entre o PT e o chavismo”, diz Guaidó a Crusoé

09.02.19 12:57

Presidente encarregado da Venezuela e presidente da Assembleia Nacional, o deputado Juan Guaidó, de 35 anos, é quem está conduzindo a transição democrática em seu país. No dia 23 de janeiro, ele assumiu o posto supremo da Venezuela como interino, porque a eleição de maio, em que o ditador Nicolás Maduro saiu-se vencedor, foi uma fraude. Segue a íntegra da entrevista.

A mudança na presidência brasileira, agora ocupada por Jair Bolsonaro, teve impactos na Venezuela? Isso foi um fato muito importante. Provavelmente, foi um dos eventos mais importantes que ocorreram nos últimos meses. Digo isso por causa do enorme peso regional do Brasil e da postura clara e firme do presidente Bolsonaro. Mas também porque, com a derrota do PT, Maduro perdeu um aliado incondicional e fundamental.

Brasil e Venezuela poderiam voltar a ter um relacionamento próximo no futuro, como o que existia entre o Partido dos Trabalhadores e o chavismo? Eu cheguei a presidir a comissão da Controladoria da Assembleia Nacional. Espero que nunca mais volte o tipo de relação corrupta estabelecida entre o Partido dos Trabalhadores e o regime de Hugo Chávez. Brasil e Venezuela devem voltar a ter relações saudáveis, transparentes e mutuamente benéficas. No passado, os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Rafael Caldera tiveram excelentes relações pessoais. Nossos centros populacionais estão mais próximos de Boa Vista do que de Brasília. Devemos nos concentrar em promover o desenvolvimento, a segurança e melhorar o padrão de vida da população que vive nos estados próximos da fronteira entre os dois países. Para a Venezuela, interessa que o Brasil vá muito bem. Para o Brasil, importa que a Venezuela vá muito bem. Temos muito trabalho a fazer.

Qual é a importância do apoio russo ao ditador Nicolás Maduro? Diferentemente da China, os russos são mais presentes nas áreas diplomática e militar. A Rússia tem sido o principal fornecedor de armas para o regime na última década e a Venezuela, seu principal comprador nesta parte do mundo. No entanto, devo dizer que, ao mesmo tempo, os russos têm insistido na necessidade de que Maduro chegue a um acordo com os seus adversários. Temos percebido uma moderação na posição russa nos últimos dias.

O Brasil poderia ser mais eficaz nesse momento de transição da Venezuela? Como já disse, o Brasil, por causa de seu enorme peso regional, é um fator fundamental. Isso é óbvio. É preciso perguntar que atitude teriam a China e a Rússia hoje sem o apoio ativo do Brasil ao Grupo de Lima e sem a participação na OEA para promover a redemocratização na Venezuela. O governo brasileiro está cumprindo seu papel na América do Sul e estamos muito gratos.

Qual papel tem Cuba hoje na ditadura? O papel do governo cubano tem sido muito grande e determinante em áreas como a polícia política, os bancos de dados, os cartórios, as comunicações e dentro das Forças Armadas. Mas a influência dos cubanos é particularmente notável sobre o próprio Maduro. Quantos são os cubanos? Não posso dizer com certeza, mas eles são dezenas de milhares.

Há indícios de que altos funcionários da ditadura já estejam pensando em como seriam suas vidas sem Maduro? Há alguns. É lógico que seja assim. Além disso, eles têm como exemplo a vida de vários funcionários civis e militares que serviram ao regime no passado recente, até mesmo ao próprio Nicolás Maduro. Vários deles foram perseguidos, estão exilados ou presos.

Se o Exército venezuelano continuar apoiando Nicolás Maduro, o que será feito com ajuda humanitária? O povo venezuelano receberá a ajuda humanitária.

O sr. é a favor de uma anistia ao ditador Nicolás Maduro? Estamos dispostos a dar a ele todas as garantias que ele solicitar, sempre e quando isso conduza à sua saída efetiva do poder. Esse é um dos propósitos da Lei de Transição que a Assembleia Nacional aprovou.

O sr. não tem medo de que os Estados Unidos, ao apoiar uma mudança de regime, possam cobrar um preço alto por isso no futuro? Não, em absoluto. Os Estados Unidos são um dos três maiores produtores mundiais de petróleo e são quase autossuficientes. Que Maduro e seu regime deixem o poder e a Venezuela se torne um país estável já seria uma vitória suficiente para o governo daquele país.

Que medidas concretas poderiam ser tomadas para que sejam realizadas eleições? São os passos que já temos descrito anteriormente: o fim da usurpação e a instalação de um governo de transição, que possa organizar eleições livres, justas e transparentes.

Se ocorrerem eleições, o sr. concorrerá à presidência? Minha tarefa como presidente encarregado é muito concreta: dirigir uma transição que permita redemocratizar a Venezuela.

O sr. é casado e pai de uma menina. Teme por sua família? Claro, como todos os pais de família hoje na Venezuela, embora no meu caso a preocupação seja maior por causa da minha circunstância atual.

Qual foi o momento em que o sr. sentiu mais medo até agora? A verdade é que nunca senti medo durante esse processo. O que senti foi uma preocupação natural quando, há alguns dias, oficiais da polícia política foram até minha casa quando lá estavam apenas minha filha e minha mãe. Minha esposa e eu estávamos em um ato público. Foi um momento complicado, mas felizmente nós já o superamos.

O sr. espera que os venezuelanos que vieram ao Brasil retornem à Venezuela se ocorrer uma transição democrática? Sim, claro. Esperamos que a maioria, senão todos, retornem no menor tempo possível. Quanto mais rápida for a transição para a democracia na Venezuela, mais rápida será a recuperação da nossa economia.

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  1. Duda vc é uma ilha num mar de medíocres que se acham mais inteligentes e expertos que os leitores. Continue ético, profissional e responsável, é de jornalistas como vc que este país precisa... saia deste mar e funde sua ilha estaremos com vc.

    1. Se não cair de Maduro ,vai cair de podre igual o PT no Brasil,!

    2. Muito bem colocado. Possui o conteúdo que esses outros que vc citou não tem.

  2. Está aí o peso do Brasil e a importância da eleição do Bolsonaro. As ações de Ernesto Araújo também! Fosse um amoedista, estaria na linha da indecisa Europa, que reconhece (Guaidó) mas não desce, continua dando oxigênio ao ditador. O povo foi mais sábio que os economistas, votou no Bolsonaro, na direta que tem coragem de enfrentar a esquerda e o Foro de São Paulo.

  3. Duda, reportagem maravilhosa e que Guaidó com a ajuda de Bolsonaro possam estabilizar a região e transformar a Venezuela em uma democracia.

    1. O Lula tentou tomar o poder como o Chaves, felizmente está na cadeia . O PT tentou e continua tentando tomar o poder e transformar o Brasil numa Venezuela.

    2. O Brasil se livrou do Lula e a Venezuela precisa de muita ajuda pra se ver livre desse Maduro.

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