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‘Preparar as escolas para abrir com segurança deve ser prioridade’, diz representante do Unicef

26.07.20 14:14

A francesa Florence Bauer (foto) é a representante no Brasil do Unicef, o fundo da ONU para as crianças. Em entrevista a Crusoé, ela diz que as crianças são as vítimas ocultas da pandemia de coronavírus. Apesar de não serem parte dos grupos de risco, elas têm sofrido com a violência doméstica, com o trabalho infantil e com a perda de interesse na escola. A solução, defende, é fazer com que possam voltar para a escola o quanto antes, tomando os devidos cuidados sanitários.

Como o Unicef enxerga a retomada das aulas presenciais no mundo?
Como a Covid afeta mais ao adultos e idosos, pouca atenção tem sido dada para as crianças e para os adolescentes. Mas eles também têm sofrido com a pandemia. O que o Unicef tem pedido é para que, nessa fase de reconstrução, as crianças recebam uma atenção especial. E que se priorize a educação. Isso quer dizer que é preciso tomar todas as medidas necessárias para reabrir as escolas com segurança.

Os riscos de deixar as crianças fora da escola são maiores que os riscos de colocá-las dentro das salas de aula?
É difícil fazer uma generalização desse tipo porque há realidades muito diferentes no Brasil. Muito dificilmente seria possível abrir as escolas todas ao mesmo tempo no país. As decisões devem ser feitas com base em uma análise da situação epidemiológica de cada estado e de cada município. Mas é urgente preparar-se para essa reabertura. As autoridades precisam tomar uma série de medidas para que isso aconteça com segurança. Apenas 68% das escolas públicas do Brasil, por exemplo, têm abastecimento de água. Com algumas medida mínimas, como garantir água, seria possível ter uma situação muito mais segura tanto para as crianças como para professores e funcionários.

Como as crianças têm sofrido fora da escola?
Os riscos para elas são muito altos. Muitos colégios transferiram o ensino para o ambiente digital, mas 4,8 milhões de crianças brasileiras não têm acesso à internet. Há uma chance grande então de a pandemia aumentar as disparidades da nossa sociedade. Alguns estudantes que já estavam com certo atraso terão ainda mais dificuldade. O risco de perdermos essas crianças é muito alto. Outros foram obrigados a trabalhar para contribuir para a renda familiar. Com a Covid, as crianças também ficaram mais expostas à violência doméstica. Sabemos que esse tipo de violência parte de pessoas próximas. Outro problema pode acontecer quando os adultos voltarem a trabalhar. Se isso acontecer e as escolas continuarem fechadas, quem cuidará dos pequenos? É uma situação complicada, ainda mais porque as crianças e os adolescentes não estão naturalmente preparados para ficar tanto tempo longe dos amigos e da escola. O impacto na saúde mental deles pode ser grande. Preparar as escolas para abrir com segurança deve ser a prioridade absoluta dos governantes.

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  1. Qual a possibilidade das crianças retornarem para as escolas em segurança, onde 35 alunos frequentam uma sala de aula com 20m²? Onde metade dos professores estão inseridos em grupos de risco? Onde não há água potável ou papel higiênico nos banheiros? As pessoas falam sobre o assunto, com uma falta de conhecimento da realidade, de uma maneira que impressiona. É necessário que se pense em todas as pessoas, todas as vidas, não somente num ano letivo ou "disparidades da nossa sociedade".

  2. Fala fala e não diz nada ! Por que o Brasil é representado por uma francesa ! Com aulas ou sem aulas , com covid ou sem covid a desgraça da educação brasileira é a mesma ! Os adultos é que são irresponsáveis justamente pela falta da educação !!!!

    1. Vera, desculpe-me por fazer uma colocação: ela é representante da UNICEF no Brasil, e não representante do Brasil na UNICEF. De resto, concordo com tudo o que você disse!

  3. Que tragédia esse Titanic brasileiro... O sistema de Educação púbico vai ao colapso total se permitirmos ao governo que aí está a coordenação da reabertura. Será possível tamanho disparate?!

  4. Excelente materia. Não faz o menor sentido abrir bares e restaurantes antes de escolas. Infelizmente isto mostra o descaso pela infância e educação no Brasil. É urgente a reabertura das escolas bem todo o país.

    1. Falou e não falou nada! Se ela é representante do UNICEF deveria ter propostas concretas para o retorno às aulas e não ficar com conjecturas reticentes. Totalmente ineficiente.

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