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Por que o Rio Grande do Sul perdeu o controle no combate à pandemia

25.07.20 12:37

No início de junho, Crusoé entrevistou a então secretária de Planejamento do Rio Grande do Sul, Leany Lemos (foto), sobre o plano desenvolvido pelo governo local para a retomada gradual da economia. Àquela altura, com números estáveis, o estado era uma das referências nacionais no combate à pandemia — o sistema de distanciamento controlado era apontado como um dos mais bem-sucedidos do país e autoridades de outras regiões procuravam o governo gaúcho interessados em conhecer melhor a experiência. Leany era a responsável por coordenar as medidas.

Em julho, no entanto, o Rio Grande do Sul enfrentou uma explosão de casos de Covid-19, que levou a equipe do governador Eduardo Leite a fechar o comércio em quase metade das regiões. Só na primeira semana do mês, foi registrado um aumento de 33,5% no número internações em UTIs. Na sexta-feira, 24, o próprio governador, do PSDB, anunciou ter testado positivo.

Crusoé voltou a Leany Lemos, agora coordenadora do Comitê de Dados do Rio Grande do Sul, para entender a razão da mudança repentina do quadro. “A gente está bem preocupado. Oito das 20 regiões do estado ficaram em bandeira vermelha. Isso representa 7,2 milhões de pessoas, ou 64% da população do estado, em áreas de alto risco”, diz ela. Eis a conversa:

Em julho, o número de casos no Rio Grande do Sul teve um aumento forte. Por quê?
Desde março, a gente não tem um padrão de crescimento exponencial constante. A gente tem um sobe e desce, sobe e desce. Na semana retrasada, o Rio Grande do Sul teve um crescimento de confirmados em UTI de 33,5%. Mas, nos últimos dias, observamos uma queda significativa na taxa. Não parou de subir, mas estamos com uma taxa de crescimento menor. Na semana passada, a gente teve uma alta de 13,2% nos casos confirmados em UTI. Esta semana, 13,5%. Continua crescendo, mas em velocidade menor.

Que fatores contribuíram para a alta?
Os dados variam muito de região para região e cada uma delas tem uma realidade. Assim como acontece no Brasil. Tem área onde houve crescimento de 93%, mas foi uma alta de 27 para 52, não estamos falando de milhares de casos. Na região metropolitana, houve um crescimento de 24% semana passada, mas esta semana caiu 1,5%. Na região missioneira (no noroeste do estado, mais perto da fronteira com a Argentina), ficamos duas semanas com estabilidade, sem novos casos. A Serra (refere-se à região da Serra Gaúcha) é uma das nossas preocupações. A região chegou a ter uma alta de 60%, mas na semana passada o percentual ficou em 12%. A região metropolitana (de Porto Alegre) e a Serra são as áreas mais preocupantes. Mesmo com o crescimento, é preciso pesar no total da população. O Ceará tem 78 óbitos por 100 mil habitantes. São Paulo tem 38, o Rio Grande do Sul está com 11, o Paraná um pouco mais e Santa Catarina, um pouco menos.

Como o governo tem reagido à alta de casos?
A gente não teve estouro de leito, por enquanto. Apesar disso, a gente está bem preocupado. Oito das 20 regiões ficaram em bandeira vermelha. Isso representa 7,2 milhões de pessoas, ou 64% da população do estado em área de alto risco. É preocupante, mas o governo está abrindo leitos, já recebemos um representante do ministro da Saúde, vão chegar respiradores e medicação comprada do Uruguai. Estão sendo tomadas medidas, mas a principal delas é o isolamento nessas áreas.

O fechamento gera pressão política de prefeitos?
A gente recebe uma pressão muito grande, principalmente do comércio, que está fechado nas áreas vermelhas. Nesses locais, a indústria opera a 75%, mas o comércio, bares e restaurantes estão fechados. Na área da Serra, o turismo está sofrendo muito, especialmente agora no inverno, que é a alta temporada de turistas. Cada prefeito faz as adaptações conforme a sua visão. O de Porto Alegre, por exemplo, está sendo bem rígido. O de Caxias, não. A gente hoje tem 252 municípios em bandeira vermelha, mas 120 deles não têm nenhum óbito e nenhuma hospitalização há 14 dias e, portanto, podem adotar protocolo mais flexíveis.

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