Adriano Machado/Crusoé

Por que a mãe de Ricardo Salles entrou na mira do STF

23.06.21 20:54

O inesperado pedido de demissão de Ricardo Salles (foto) do Ministério do Meio Ambiente, nesta quarta-feira, 23, foi precedido por uma decisão que causou enorme preocupação ao agora ex-ministro: a quebra dos sigilos bancário e fiscal da mãe dele, a advogada Diva Carvalho, e do escritório de advocacia que os dois têm em sociedade em São Paulo, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A pedido da Polícia Federal, Moraes decidiu, no dia 15 de junho, estender a quebra de sigilo que antes estava restrita às contas bancárias de Salles depois que a instituição juntou extratos do Coaf mostrando movimentações financeiras atípicas do escritório de advocacia para a conta da mãe do agora ex-ministro. Ao todo, 3 milhões de reais saíram, entre janeiro de 2012 e junho de 2020, da banca para a conta de Diva Carvalho, de acordo com o relatório de inteligência financeira.

Segundo interlocutores de Salles, a devassa sobre a conta da mãe, que passou a figurar como investigada, foi um dos motivos que o levaram a comunicar o pedido de demissão do cargo ao presidente Jair Bolsonaro. Outros apontam uma manobra jurídica por trás da demissão, que seria tirar o caso das mãos de Alexandre de Moraes. Fora da Esplanada, Salles perde o foro privilegiado, o que deve levar seu caso à primeira instância da Justiça em Brasília.

O ex-ministro é suspeito de ter cometido crimes de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando de madeira na Amazônia, além de exportação ilegal para o exterior, o que ele nega. A PF suspeita que Salles tenha usado o escritório de advocacia que tem com a mãe para lavar dinheiro fruto de corrupção supostamente praticada quando integrava o governo Bolsonaro.

O escritório, cuja sede fica na casa da mãe de Salles, tem capital de 1,5 mil reais e faturamento mensal declarado de 350 mil reais. Mas, segundo o Coaf, apresenta “incompatibilidade” no volume de transações, “indicando movimentação de recursos não declarados“.

Apenas em março de 2020, afirma a PF, o Coaf comunicou ter sido noticiada operação suspeita no valor de 1,79 milhão de reais, sendo 898 mil de débito e 901 mil de crédito. A operação, de acordo com a investigação, sucedeu o período do despacho que beneficiou os madeireiros acusados de extração ilegal da madeira da Amazônia.

Alexandre de Moraes também determinou uma levantamento sobre imóveis adquiridos em nome do ministro, da mãe dele e do escritório de advocacia. No pedido, a PF menciona as transações imobiliárias reveladas por Crusoé no início deste mês, nas quais ele faturou 1 milhão de reais com uma compra e venda de um apartamento em seis meses e, depois, comprou uma casa de alto padrão em São Paulo, em janeiro deste ano.

A mãe de Salles, como Crusoé noticiou no ano passado, já teve o sigilo quebrado junto com o ministro e o escritório de advocacia em uma outra investigação, conduzida pelo Ministério Público de São Paulo, por suposto enriquecimento ilícito no período em que ocupou dois cargos públicos no governo de Geraldo Alckmin, entre 2011 e 2017.

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