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Por que a eleição legislativa em El Salvador deste domingo pode colocar a democracia em perigo

27.02.21 18:02

As eleições legislativas em El Salvador deste domingo, 28, poderão colocar o país em perigosa trajetória autoritária, numa região que já conta com as ditaduras de Cuba, da Nicarágua e, possivelmente, do Haiti.

O partido Novas Ideias, do presidente Nayib Bukele (foto), é o favorito nas pesquisas e pode conseguir a maioria simples de 43 das 84 cadeiras no Parlamento. Com isso, o Executivo pode criar e reformar as leis. Caso consiga ao menos 56 cadeiras, Bukele poderá eleger um terço dos magistrados da Corte Suprema em junho e, ainda, o procurador-geral.

Nos dois anos da presidência de Bukele, o Legislativo tem sido o principal limite para o seu impulso autoritário, como suas investidas contra o Judiciário e contra a imprensa. Se esse freio desaparecer, o risco para a democracia será muito grande“, diz o advogado Eduardo Escobar, diretor-executivo da ONG Ação Cidadã, em El Salvador.

Copiando o comportamento do ex-presidente americano Donald Trump, Bukele tem acusado a Justiça eleitoral e os partidos políticos de fraudarem os pleitos. Como Trump e Jair Bolsonaro, ele não tem mostrado evidências. O temor é o de que, se seu partido não obtiver um resultado favorável, Bukele busque uma solução alternativa.

Em fevereiro do ano passado, ele entrou com policiais e soldados armados no plenário da Assembleia Legislativa para pressionar os deputados a aprovar uma lei que autorizava a compra de armamentos. A lei acabou não sendo aprovada, mas as cenas ficaram gravadas no imaginário dos salvadorenhos. “Naquele episódio, Bukele quis mostrar que tinha o controle das forças de segurança. Agora temos esse fantasma nos rondando, pois ele poderia usar esse domínio sobre os militares caso o resultado não o agrade“, diz Escobar, da Ação Cidadã.

Publicitário que não chegou a se formar, Bukele, de 39 anos, é aprovado por mais de 80% da população. Ele é querido por sua forma direta de se comunicar nas redes sociais e pela redução dos índices de criminalidade. Jornais atribuíram o sucesso na área de segurança a acordos com gangues violentas, como a MS-13, ou Mara Salvatrucha, mas as investigações judiciais sobre isso ainda não foram concluídas. Fala-se também que o governo tem comprado o apoio político dos grupos criminosos que controlam partes do território.

O que sabemos é que os partidos oposição já reclamaram que não conseguem entrar em alguns bairros dominados por essas gangues“, diz a advogada salvadorenha Claudia Umaña, vice-presidente do instituto de pesquisas Fusades. Para conquistar eleitores, o governo de Bukele tem distribuído víveres e dinheiro. “Este é um governo populista, que criou um culto à personalidade de Bukele e desrespeita as leis democráticas a todo momento“, diz Claudia. “Estas próximas eleições serão cruciais para a nossa democracia.”

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