Os voos da propina

09.05.18 16:45

A Polícia Federal obteve provas de que a companhia aérea Gol distribuiu passagens de graça a políticos para viagens que, entre outros propósitos, serviram para transportar propina.

Documentos em poder da Operação Lava Jato mostram que pelo menos dois políticos se beneficiaram da gentileza da companhia. As passagens foram emitidas por ordem direta de Henrique Constantino, filho do fundador da empresa, Nenê Constantino.

O material foi entregue aos investigadores por José Expedito Almeida, ex-assessor de políticos da cúpula do PP, como o senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do partido, e o deputado pernambuco Eduardo da Fonte.

Há duas semanas, Expedito foi o pivô de uma operação da Polícia Federal deflagrada para apurar uma tentativa de silenciá-lo — segundo a investigação, políticos do PP tentaram suborná-lo para que ele parasse de colaborar com a Lava Jato.

A Gol Linhas Áreas não cobrava pelas passagens e, para isso, os deputados acionavam diretamente Henrique Constantino, sócio do grupo, de acordo com o depoimento do colaborador.

Um assessor da presidência da Gol era o responsável por liberar as passagens. Os beneficiários eram o senador Ciro Nogueira, o deputado Eduardo da Fonte e o próprio José Expedito.

Num dos voos, em que, segundo Expedito, o objetivo era ir ao Rio de Janeiro buscar propina, o próprio Ciro Nogueira estava a bordo.

Além dos bilhetes com tarifa zero, Expedito entregou um e-mail de 2005 para a PF que mostra o quanto Henrique Constantino era diligente ao atender às solicitações do PP. Na mensagem, um funcionário da Gol comunica as ordens de Constantino a partir de um pedido do partido: mudar o destino de uma misteriosa “carga” de São Paulo para Recife e garantir que funcionários acompanhassem a entrega pessoalmente. Nesse caso, especificamente, não fica claro se a “carga” era dinheiro.

No total, Expedito apresentou os bilhetes de nove voos à PF, entre 2005 e o começo de 2006.

Procurada, a Gol não respondeu às perguntas de Crusoé. Em nota, Henrique Constantino disse que “segue colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos”. Não é a primeira vez que o empresário aparece na Lava Jato. Em outra frente da investigação, ele admitiu a procuradores ter dado propina ao ex-deputado Eduardo Cunha em troca de apoio na liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Após a publicação da reportagem, a Gol emitiu o seguinte comunicado. “A Companhia reitera o seu compromisso em cooperar de forma permanente com quaisquer demandas que venha a receber de autoridades competentes”.

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