Casa Rosada

Os movimentos que explicam a conversa entre Bolsonaro e Alberto Fernández

30.11.20 17:09

O presidente Jair Bolsonaro conversou por videoconferência na manhã desta segunda, 30, com o presidente da Argentina, Alberto Fernández (foto).

O convite partiu da Casa Rosada e teve como objetivo o de reduzir os ataques e provocações entre os dois chefes de governo. Durante sua campanha eleitoral em 2019, Fernández visitou Lula na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Bolsonaro deu o troco dizendo que a Argentina poderia se transformar em uma Venezuela.

A conversa remota desta segunda, que girou em torno de temas protocolares, pode ter justificativas mais profundas. “Uma possibilidade é a de que Jair Bolsonaro esteja olhando mais agora para a região após a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos”, diz o cientista político argentino Julio Burdman, de Buenos Aires. “Como a aposta na relação bilateral com Washington perderá relevância com a posse de Joe Biden, talvez o Brasil agora queira fortalecer sua relação com os parceiros da região.”

Bolsonaro também pode ter decidido usar o vizinho para mostrar-se menos agressivo aos olhos dos estrangeiros. “Alberto Fernández tem um discurso muito mais ao gosto dos europeus. Bolsonaro então pode estar usando o argentino para convencer alguns parlamentos a aprovar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul”, diz Alexandre Pires, professor de economia e relações internacionais no Ibmec São Paulo. “Essa videoconferência me pareceu uma ação voltada principalmente para o público externo.”

Do lado da Argentina, a conversa ajuda a fazer as pazes com seu maior parceiro comercial, de quem o país dependerá para se recuperar de uma queda no PIB de 12% este ano. Fernández também pode estar preparando o terreno com o Brasil, no momento em que gostaria de fazer mais negócios com a China.

Este ano, o ministro de Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, tem se aproximado dos chineses. “Solá já sugeriu que a Argentina poderia ter um acordo bilateral com a China à margem do Mercosul, o que certamente resultaria em um aprofundamento da relação com a Ásia”, diz Burdman. Um movimento nessa direção ficaria bem mais fácil com apoio do Brasil.

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