Adriano Machado/Crusoé

Análise: Oposição não acua Moro, que ganha espaço para defender pacote anticrime

19.06.19 17:17

A audiência do ministro da Justiça, Sergio Moro, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (foto), não só foi ineficaz para acuar o ministro pelo conteúdo das mensagens atribuídas a ele vazadas pelo site The Intercept Brasil. A sessão foi útil para o ministro falar sobre o trabalho da pasta e defender o pacote anticrime e anticorrupção que enviou ao Congresso. Houve até espaço para defender, por um breve instante, a reforma da Previdência.

Moro foi ajudado pelos argumentos usados pelos senadores que quiseram encurralá-lo. E pelo passado dos senadores. Renan Calheiros, do MDB de Alagoas, tentou implicá-lo a casos em que ele não atuou, como o da JBS, em uma fala que irritou os colegas por ter se demorado mais do que devia. Paulo Rocha reclamou do julgamento do mensalão, em que Moro atuou como magistrado auxiliar mas o senador do PT do Pará  foi absolvido – o que contraria a tese de perseguição da Justiça contra o PT.

Jaques Wagner criticou a divulgação de gravações feitas de conversas telefônicas do ex-presidente Lula e do sensacionalismo das ações da Lava Jato. Para tanto, o senador do PT da Bahia teve de recordar que ele mesmo foi alvo de uma mandado de busca e apreensão.

As comparações feitas pelo material do The Intercept com as gravações de Lula e de outros casos famosos do jornalismo, como o escândalo de Watergate e dos papéis do Pentágono, na imprensa americana, também foi favorável ao juiz. Moro lembrou mais de uma vez que as conversas telefônicas foram autorizadas judicialmente, e o sigilo foi levantado em uma decisão em que ele justificou o ato, não “se escondendo atrás de hackers”, como acusou o site de fazer.

Moro aproveitou a comparação com os casos mais famosos de investigação do jornalismo americano para lembrar que tanto a cobertura de atos ilegais do governo Nixon a partir de um arrombamento no conjunto Watergate quanto a divulgação de relatórios de um analista da CIA apontando a impossibilidade de os Estados Unidos derrotarem o Vietnã eram baseados em fontes de informação identificadas. E os jornalistas envolvidos publicavam as informações assim que as recebiam, não anunciando que iriam fazê-lo “em conta-gotas”, como lembrou ser a estratégia do The Intercept.

Tendo estabelecido essas diferenças, o ministro repetiu que houve sensacionalismo na divulgação de mensagens que, se verdadeiras, não mostram irregularidades. E ganhou espaço na tese de que o problema não são as mensagens, mas o ataque de hackers contra integrantes da Lava Jato e que atuam também para atingir outras autoridades e jornalistas.

A defesa da Lava Jato e de seus resultados acabou por levar a pedidos de atenção ao pacote anticrime que está no Senado. Os parlamentares chegaram a falar com o ministro de outras ações da pasta, como a violência nos presídios do Amazonas ou o problema da imigração venezuelana que estaria tendo impacto na violência em Roraima.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO