Agência Brasil

O que diz o homem citado por Cabral na delação contra Toffoli

18.05.21 17:39

Apontado por Sérgio Cabral (foto) como intermediário da suposta venda de decisões judiciais pelo ministro Dias Toffoli, o funcionário público José Luiz Solheiro confirma ter se reunido com os integrantes do governo do Rio citados pelo ex-governador em sua delação, mas nega envolvimento nos pagamentos que teriam sido feitos ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal por meio do escritório de advocacia da mulher dele, a advogada Roberta Rangel.

Como mostrou Crusoé na semana passada, Cabral acusa Toffoli de receber 3 milhões de reais para mudar seu próprio voto e 1 milhão de reais para conceder uma liminar em benefício de dois prefeitos fluminenses aliados do ex-governador que tinham sido cassados pela Justiça Eleitoral. Segundo o ex-governador, os pagamentos ocorreram entre 2014 e 2015, quando Toffoli era presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O ministro nega as acusações.

Em depoimento à Polícia Federal, em setembro do ano passado, Sérgio Cabral afirmou que “tem certeza que os pagamentos foram realizados ao ministro Dias Toffoli por intermédio de José Luiz Solheiro”, que era “homem de confiança” de Pezão e tinha sido assessor da Secretaria de Segurança em seu governo. “Isso não existe. Nunca estive com a senhora Roberta, nunca estive com o ministro, nunca dei a mão para ele”, disse Solheiro a Crusoé.

No pedido de abertura de inquérito para investigar Toffoli, feito no dia 30 de abril ao STF, a PF apresentou registros de mensagens e de encontros de Solheiro com Pezão e Hudson, apontado por Cabral como responsável por operacionalizar os pagamentos, no período em que Toffoli alterou seu voto no TSE. Há ainda registros de reuniões de Pezão com o ministro do Supremo.

O material foi apreendido nos celulares de Pezão e Hudson Braga, quando eles foram presos pela Lava Jato do Rio, e foi compartilhado com a Polícia Federal com autorização do ministro Edson Fachin, responsável pelo homologação da delação de Cabral, no ano passado. Braga também nega as acusações feitas por Sérgio Cabral.

Na última sexta-feira, 14, o ministro Edson Fachin negou pedido de abertura para investigar Toffoli e proibiu a PF de investigar as acusações feitas por Cabral em outros anexos da delação premiada até que o STF julgue um recurso da Procuradoria-Geral da República que questiona a validado do acordo feito pelo ex-governador do Rio. A seguir, o que José Luiz Solheiro disse a Crusoé.

O ex-governador Sérgio Cabral disse que foi o sr. quem intermediou o contato com o ministro Dias Toffoli e a mulher dele, a advogada Roberta Rangel, para reverter a cassação do prefeito de Volta Redonda no TSE mediante pagamento ilícito de 3 milhões de reais. Isso ocorreu?
Isso não existe. Nunca estive com a senhora Roberta, nunca estive com o ministro, nunca dei a mão para ele. E esses advogados que ele cita, eu nunca vi na vida. Agora, que eu trabalhei lá na Secretaria de Segurança, eu trabalhei.

Cabral afirma que o sr. era uma pessoa de confiança do ex-governador Luiz Fernando Pezão e que eles o acionaram porque o senhor tinha um contato com o casal Toffoli.
Nunca tive contato. Não tem um telefonema meu. Eu tinha (contato) com o Pezão, trabalhei lá na época. Com o doutor Hudson (Braga) também, assim como com tantos outros secretários. Agora, entre você ter contato com as pessoas e acontecer alguma coisa errada tem uma distância grande.

No depoimento à Polícia Federal, Cabral afirma que o senhor apresentou a ele um advogado próximo do casal Toffoli.
Nunca tive reunião com advogado nenhum junto com ele. Fico pensando que estão dando valor para um carteiro. Tinham que procurar esses advogados. Ele fala meu nome umas 50 vezes, uma sacanagem. E me acusa de ter apresentado alguém para alguém.

Do que foi dito por Cabral no depoimento à PF, o sr. confirma apenas a relação com Pezão?
Sim.

Ele fala que o sr. agilizava o embarque e desembarque dele no Aeroporto de Guarulhos quando ele fazia viagens ao exterior.
Algumas vezes que ele viajou eu fui lá ao aeroporto, como ia um monte de gente. Agora, o governador de estado tem toda estrutura, cerimonial, ia precisar de mim para quê? Eu não teria essa função, nem essa expertise. O problema é que você mistura uma verdade com uma mentira. Estou chateado, surpreso. Trabalhei muito tempo lá e nunca tive problema com ninguém. Nenhum processo contra mim, nada. Agora, depois de cinco anos, me aparece um negócio desses. Ele falou que eu sou alguma coisa da PM, eu nunca fui da PM na minha vida. Isso é fácil de confirmar.

Qual é sua profissão?
Sou servidor público. Trabalho na AGU.

O sr. está na AGU desde quando?
Faz um ano. Eu fui transposto. Era assessor jurídico da União antigamente.

Como elemento de corroboração da delação, a PF junta mensagens apreendidas em operações da Lava Jato no Rio trocadas pelo senhor com Pezão com o ex-secretário de Obras Hudson Braga.
Realmente tem porque eu me encontrava várias vezes com eles, como com outros secretários.

A PF destaca encontros do sr. com eles que ocorreram naquele período em que o ministro Toffoli mudou o voto, beneficiado o prefeito aliado de Pezão e Cabral. Embora ela não tenha obtido mensagens do sr. com o ministro ou a esposa dele, esse é um fato que levantou suspeita.
Mas nem pode ter. Eu não conheço essas pessoas (Toffoli e Roberta). Não conheço nenhum daqueles advogados que ele cita. Embora trabalhasse lá no Rio, eu ficava morando aqui (São Paulo) e lá. Não tinha relações sociais com pessoas do governo. Nem com o Pezão, que é um cara que já conhecia há mais tempo, desde a época do (governo) Garotinho, isso é verdade. Mas nunca tive intimidade, de frequentar a casa dele. 

Em algum momento o Pezão lhe pediu para fazer esse contato com o ministro ou a mulher dele?
Nunca. Nunca me pediram nada de errado. Eu até acho que se tivesse alguma coisa de importante nisso a Polícia Federal já teria me chamado. Se já não quebraram o meu sigilo. Para essas pessoas nunca vai ter um contato meu. Vai ter contato com o Pezão, isso vai. O Pezão é um cara querido. Às vezes eu almoçava com ele lá no Rio.

Na agenda de Pezão e de Hudson Braga aparecem reuniões na Secretaria de Obras, mas o sr. era assessor da Secretaria de Segurança.
Eu explico. O Pezão, que é a pessoa por quem tenho carinho e respeito muito grande, quando era vice-governador, ele acumulava a Secretaria de Obras, que ficava no mesmo prédio do gabinete de vice-governador. E o Hudson era o subsecretário. Por isso que eu ia lá. Às vezes eu queria falar com o Pezão e não o achava então ligava para o Hudson perguntando dele. Por isso que eu ia nesse prédio.

O sr. tinha conhecimento dessas demandas para ajudar os prefeitos cassados que Cabral relata na delação?
Eu nunca vi esses prefeitos na minha vida. Esse Neto (prefeito de Volta Redonda), a única lembrança que tenho dele é que foi presidente do Detran, não sei se no governo da Rosinha ou já do Sergio Cabral. Nunca vi esse cara na minha vida, nunca fui na cidade dele. Essa outra prefeitura (Bom Jesus de Itabapoana) eu não sei nem onde é.

Com base em e-mails apreendidos e visitas do sr. ao comitê de campanha do Pezão, em 2014, a PF acredita que o senhor tenha ajudado a arrecadar recursos na eleição. O sr. atuou na arrecadação?
Não. Até gostaria de ter pedido para alguns amigos, mas não tive nenhuma participação financeira. Não tenho nada contra. Era uma época que ninguém queria ajudar ninguém. Quando eu podia ia lá no comitê para saber da campanha, igual todo mundo. O Hudson era o coordenador da campanha e às encontrava ele lá. Se fui quatro vezes lá foi muito.

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500
  1. Já a muito tempo o amigodoamigodomeupai ,tem acusações que pesam sobre sua cabeça ,assim COMO A MESADA DE 100 mil reais que o escritório da mulher deposita em sua conta ,E NUNCA EXPLICADA ???????

  2. Que dizer a Constituição que lei só vale para que pagam imposto? Para os Deus do STF a Constituição e lei não vale? É isto mesmo?

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