Kevin David/A7 Press/Folhapress

O financiador oculto da Precisa

26.07.21 07:30

Um relatório do Coaf enviado à CPI da Covid no Senado revela a identidade de um financiador oculto da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a compra da Covaxin pelo governo Jair Bolsonaro e também está na mira de investigadores por supostas fraudes na venda de testes ao governo do Distrito Federal. Trata-se de um empresário com longo histórico de contratos com um plano de saúde de servidores públicos federais dominado pelo Progressistas.

Segundo o relatório, em maio do ano passado, o dentista e empresário Mauricio Camisotti foi ao banco tentar fazer uma operação de câmbio no valor de 18 milhões de reais em dólares para a compra de testes de Covid. No entanto, o fez em nome da Precisa Medicamentos, da qual não era sócio nem procurador. O banco rejeitou o pedido, mas achou por bem informar ao órgão de controle.

Camisotti afirma que foi ao banco apenas para “endossar” um empréstimo à Precisa, que não teria condições de contrair um valor nessa monta. Com o insucesso da operação, diz ter emprestado os 18 milhões de reais a pedido de Francisco Maximiano, o Max, dono da Precisa. “Foi feito um contrato de mútuo registrado pelo advogado Nelson Willians, e foi feito isso aí, e foi financiado para eles comprarem o teste, porque eles tinham um contrato com o GDF e toda a entrega programada“.

O contrato de 20 milhões de reais entre o governo do Distrito Federal e a Precisa para o fornecimento de testes de Covid é investigado na Operação Falso Negativo, do Ministério Público do Distrito Federal. Segundo as investigações, mesmo oferecendo um preço mais alto, a Precisa foi contratada. Em razão desta investigação, Camisotti diz que a Precisa não pagou de volta a dívida.Meu negócio com ele só foi esse aí que do GDF que deu essa zebra aí. Inclusive, eles tinham que ter acertado comigo, porque já venceu a dívida deles e agora eu vou ter que fazer essa cobrança, né?“, diz Camisotti.

Financiador oculto da Precisa, Camisotti é dono de empresas na área de odontologia, e tem um histórico longo de contratos milionários com o Geap, plano de saúde dos servidores públicos federais, cuja diretoria é indicada pelo Ministério da Saúde, pela Casa Civil e o INSS. Durante os anos em que o empresário firmou contratos, o Geap era um feudo do Progressistas, e a própria Polícia Federal chegou a investigar pagamento de propinas a Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Aguinaldo Ribeiro – os inquéritos nunca andaram. Atualmente, sua empresa não é diretamente contratada pelo plano, mas é subcontratada pela Prevident, que prestou serviço ao Geap até o fim de 2019, após a rescisão do contrato. Segundo o Coaf, entre 2016 e 2020, Camisotti e um sócio da Prevident fizeram transações que totalizaram 26,4 milhões de reais.

Também foram comunicadas ao Coaf transações de 12 milhões de reais entre Camisotti e o escritório do advogado Nelson Willians, contratado pela Geap sob a influência de um advogado indicado por Ricardo Barros – que, à época, era ministro da Saúde do governo Michel Temer, do MDB. Camisotti afirma que as transferências se tragam de um “mútuo particular“. Atualmente, tanto a Prevident, que subcontrata a empresa de Caomisotti, quanto Nelson Willians são alvos de ações movidas pelo próprio Geap, cuja atual gestão, indicada pelo ministro Onyx Lorenzoni, do Democratas, acusa irregularidades e cobra valores milionários na Justiça. Com a volta de Ciro Nogueira à Casa Civil, o Progressistas deve voltar a ganhar força dentro do plano de saúde.

Além de Camisotti, o próprio Francisco Maximiano tem pendências na Justiça relacionadas a esquemas em fundos de pensão. No caso de Max, a Polícia Federal investiga supostos desvios no Postalis, dos funcionários dos Correios, que fizeram aportes no FIP Saúde, que, por sua vez, investiu 36 milhões de reais na Global Gestão em Saúde, que pertence ao empresário. Nesta frente, os investigadores suspeitam de repasses de 9 milhões de reais da Global a uma empresa de Milton Lyra, contador apontado como operador do senador Renan Calheiros, do MDB.

Procurada, a Precisa não se manifestou. A defesa de Maximiniano também não se pronunciou. O advogado Nelson Willians afirmou que Mauricio Camisotti é seu “cliente“, e “dos bons“, “além de amigo“. “Em tempo, Maurício e todas as empresas dele. São várias empresas“, disse. O advogado também afirma que nunca teve “nenhum envolvimento com políticos“. “Nossa contratação foi técnica e sempre prestamos ótimos trabalhos para a GEAP, tanto que, quando esses imotivadamente resolveram rescindir nossos contratos, perderam até hoje todas as ações na Justiça”.

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