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Novela da renegociação da dívida argentina tem mais um capítulo importante

30.06.20 10:04

Nesta terça, 30, vencerá uma parcela da dívida do governo da Argentina com credores privados. O valor, de 566 milhões de dólares, provavelmente não será pago. Ainda assim, a reação não será de espanto. O prazo para a renegociação foi adiado pela quinta vez e vai até o dia 24 de julho, e a chance de um acordo entre o governo argentino, de um lado, e os credores privados e o Fundo Monetário Internacional (FMI), de outro, tem aumentado com os dias.

O primeiro fator que tem contribuído para que a Argentina avance na direção de uma renegociação favorável é a posição do FMI. Assim que tomou posse em dezembro de 2019, o presidente Alberto Fernández encarregou o ministro da Economia, Martín Guzmán (na foto, ao microfone), de renegociar a dívida, que se aproximava de 95% do PIB. Três meses depois, o FMI anunciou que a dívida era insustentável e fez um pedido para os credores serem menos exigentes. “O FMI geralmente ocupa o papel de policial nas negociações, pressionando o endividado. Desta vez, foi o FMI que se dirigiu aos credores dizendo que eles deveriam aceitar um valor menor”, diz o cientista político argentino Guillermo Rodríguez, da consultoria Prospectiva, em Buenos Aires.

O outro fator é a pandemia do coronavírus. Como a economia argentina entrou em seu terceiro ano de recessão com o coronavírus, a possibilidade de o país não conseguir honrar os seus compromissos cresceu. “Os credores passaram a se preocupar mais sobre o quão sustentável será a dívida para a Argentina. Do contrário, poderiam ficar sem nada”, diz o analista de risco político Gabriel Brasil, da Control Risks. No início, os descontos no valor da dívida que estavam sendo negociados eram de 20% a 30%, segundo estimativas do mercado. Com a pandemia, agora se fala em 50%.

Um terceiro fator é o efeito devastador da pandemia na economia de outros países. Os juros caíram no mundo todo e reduziram a perspectivas de ganhos financeiros. Os títulos da Argentina, que já foram comercializados com um juro de 7% ao ano, agora estão sendo renegociados com valores ascendentes, começando em 0,5% e subindo para 2%. No atual quadro da pandemia, esse ainda é um patamar atraente para os investidores.

Como as negociações são sigilosas, não é possível saber exatamente como estão os lances e as condições. Mas sabe-se que, com a proposta do governo argentino se aproximando dos pedidos dos credores, a chance de um acordo aumenta. “Os detalhes que ainda faltam ser acertados parecem ser mais jurídicos que financeiros”, diz Gabriel Brasil.

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