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No Peru, governo age para favorecer terrorista do Sendero Luminoso

29.08.21 15:16

O fundador do grupo terrorista peruano Sendero Luminoso, Abimael Guzmán (foto), foi capturado em 1992 e condenado à prisão perpétua. Desde então, tem sido mantido em uma prisão de segurança máxima na Base Naval de Callao, controlada pela Marinha, ao norte de Lima.

Agora, um decreto do governo de Pedro Castillo, que tomou posse no final de julho, deverá fazer com que Guzmán seja transferido para uma prisão comum, onde poderá ir ao pátio com outros detentos e se corresponder por carta, longe da vigilância dos militares. O perigo maior é que o líder do grupo terrorista, considerado pelos seus seguidores o “maior marxista-leninista-maoísta vivo“, possa reorganizar o grupo e provocar um banho de sangue.

O decreto do esquerdista Castillo foi anunciado no dia 24 de agosto como uma medida para acabar com os privilégios de alguns detentos. O alvo era Vladimiro Montesinos, ex-assessor de Alberto Fujimori. Da prisão, Montesinos foi flagrado fazendo ligações telefônicas para favorecer Keiko Fujimori, rival de Castillo, nas eleições presidenciais deste ano. Mas o decreto é amplo e beneficia os condenados por terrorismo, o que inclui Guzmán, de 86 anos, e Víctor Alfredo Polay Campos, fundador do Movimento Revolucionário Túpac  Amaru, o MRTA.

Em uma prisão comum, de segurança média, Guzmán teria muito mais liberdade para entrar em contato com outros membros do Sendero Luminoso. Não descarto ainda que, no futuro, o atual governo pense simplesmente em indultar os terroristas, dada a proximidade que o partido Peru Livre, do atual presidente, tem de organizações de fachada que representam os senderistas“, diz o advogado peruano Luis Lamas Puccio, em Lima.

O governo de Pedro Castillo é próximo do Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais, o Movadef, considerado o braço político do Sendero Luminoso. Desde que foi criado em 2009, o Movadef pede a libertação das pessoas que participaram dos conflitos internos, que eles chamam de “presos políticos“, e defende o fechamento da prisão na Base Naval de Callao.

ReproduçãoReproduçãoPostagem do Movadef no Facebook pede fim da Base Naval de Callao e libertação de “presos políticos”. À esquerda, Abimael Guzmán
Uma pesquisa do instituto Ipsos afirma que 57% dos peruanos acreditam que há membros do Movadef ou do Sendero Luminoso no atual governo. Exemplos não faltam. O chefe de gabinete, Guido Bellido, já foi acusado de fazer declarações favoráveis ao Sendero Luminoso. Na sexta, 27, ele recebeu o voto de confiança do Congresso para seguir com o governo.

O ministro do Trabalho, Iber Maraví, já teve seu nome incluído em diversos documentos policiais dos anos 1980. Ele teria participado de ações do Sendero Luminoso, incluindo assalto a mão armada, homicídios e ataques contra postos policiais, escritórios públicos, um aeroporto e um banco. Héctor Béjar, que por poucos dias esteve no posto de ministro de Relações Exteriores, disse no ano passado que foi a Marinha, e não o Sendero Luminoso, a responsável pelo terror no Peru.

Em um cenário como esse, dar uma liberdade maior de ação para Guzmán pode significar a retomada dos pesadelos do passado. Segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação, a CVR, que apurou os casos de violência registrados entre 1980 e 2000, o Sendero Luminoso se organizou em torno de um culto à figura de Guzmán. Inspirado por ele, o grupo terrorista matou quase 20 mil pessoas. “A concepção totalitária do Sendero Luminoso produziu uma intolerância radical para com as organizações sociais, o que resultou no assassinato em massa de líderes sociais e comunitários, prefeitos, líderes camponeses, sindicalistas, líderes de bairros, professores e organizações de mulheres“, concluiu a CVR.

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