Lula Marques/FolhapressDe volta ao Congresso, o senador Ney Suassuna vestiu seu figurino predileto: o de governista

Ney Suassuna, acusado de ser o ‘padrinho da corrupção’ da Paraíba, está de volta ao Senado 13 anos depois

23.09.20 19:20

Apontado pelo Ministério Público como o “padrinho da corrupção” da Paraíba, Ney Suassuna (foto), do Republicanos, vai voltar ao Senado e reforçar a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Suplente de Veneziano Vital do Rêgo, que deixa a casa para participar da campanha de aliados nas eleições municipais, Suassuna é denunciado nas operações Lava Jato e Calvário – esta última, investiga desvios em contratos na Paraíba. A licença foi aprovada nesta quarta-feira, 23, pelo Senado, e se estende oficialmente até o dia 21 de janeiro.

Veneziano Vital do Rêgo pertence ao PSB e faz oposição ao governo Bolsonaro. Com a sua saída, o presidente passa a ter mais um apoiador na casa, já que Suassuna é filiado ao Republicanos, antigo PRB, legenda que abriga, por exemplo, o prefeito Marcelo Crivella, o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro.

Nesta quarta-feira, 23, o Senado também aprovou a licença Daniella Ribeiro, irmã do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas – réu no processo do ‘Quadrilhão’, em que a cúpula do partido é acusada de integrar uma organização criminosa para desvios em estatais e órgãos da máquina pública federal. Em seu lugar, deve assumir Diego Tavares, do mesmo Progressistas, filho de Reginaldo Tavares, que foi vice-prefeito de Cícero Lucena, em João Pessoa, candidato à prefeitura este ano, também pelo antigo PP.

Conforme antecipou Crusoé, em junho, Veneziano já tinha celebrado um acordo com Suassuna para deixar o cargo e abrir caminho para que ele retornasse ao Senado. Veneziano diz ser versado na prática de tirar licenças, desde quando foi vereador, para prestigiar seus suplentes e apoiadores. “Como senador da República, disse que os companheiros que estiveram compondo teriam a oportunidade de ter a experiência no Senado Federal”. Em 2018, o paraibano doou 300 mil reais para a campanha de Veneziano.

O excêntrico Ney Suassuna, velho conhecido no Senado por ostentar gravatas coloridas com temáticas infantis, — no final da década de 90, ele chegou a transitar pelo tapete azul exibindo uma gravata com uma enorme cara do Pato Donald — volta à casa 13 anos depois. O político, que ocupou a cadeira no Senado entre 1994 e 2007, é acusado pela Operação Lava Jato de integrar um esquema que gerou 17,6 milhões de dólares em pagamento de propinas em contratos da Petrobras de afretamento de navios. Já na Operação Calvário, ele é acusado pelo Ministério Público, ao lado do ex-governador Ricardo Coutinho, do PSB, por supostos desvios de 20 milhões de reais. Segundo a promotoria, Suassuna é o “padrinho do modelo de corrupção sistêmica” na Paraíba.

Veneziano Vital, que é irmão do ministro do TCU, Vital do Rêgo, alvo da Lava Jato, não vê constrangimento em abrir passagem para a volta ao Senado de um político investigado por corrupção.

“Ele vai ser eternamente um segregado? Será que eu vou ter um posicionamento que muitos têm de desconhecer o direito de todos, à ampla defesa? Vou partir desse pressuposto de que a pessoa mencionada já perca a condição de cidadão? Eu confesso que não faço parte desse coro. Não vejo nada, ele tem todo o direito, e vai fazer o exercício da defesa”, diz.

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