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Milícias cristãs e Hezbollah medem suas forças no Líbano

24.10.21 18:36

Após a morte de sete xiitas em um protesto no dia 14 de outubro, em Beirute, líderes do grupo terrorista Hezbollah (foto) e das Forças Libanesas, uma milícia cristã, deram declarações numa clara tentativa de demonstrar força.

O xeque xiita Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, afirmou, pela primeira vez, que seu grupo tem 100 mil combatentes treinados e mobilizados. Samir Geagea, o líder das Forças Libanesas, disse, por sua vez, que seu grupo não tem “combatentes“, e sim entre 30 mil e 35 mil “partidários” no Líbano e fora do país.

As declarações são trocas de ameaças veladas. Isso porque o Hezbollah acusa as Forças Libanesas de terem feito uma emboscada no dia 14 e atirado para matar seus integrantes “com o objetivo de iniciar uma nova guerra civil”.

Após as sete mortes em Beirute, menções à guerra civil que ocorreu entre 1975 e 1990 tornaram-se constantes. Apesar de estarem nos dois polos opostos da política libanesa atual, Hezbollah e Forças Libanesas não se enfrentaram ao longo desse conflito.

O Hezbollah foi criado em 1982 com apoio do Irã para se opor a Israel, que tinha enviado soldados para controlar o sul do Líbano e a capital Beirute. Cerca de 1,5 mil iranianos foram enviados para treinar a milícia xiita. “O Hezbollah ficou conhecido principalmente em 1983 por seus ataques contra a embaixada americana e, depois, com os atentados que mataram 258 americanos e 58 franceses das forças de paz“, diz o cientista político Amine Bou Ezzeddine. “O Hezbollah não participou diretamente da guerra civil e basicamente concentrou suas operações contra o exército israelense. Nenhum confronto o opôs às milícias cristãs nessa época.”

Um confronto entre o Hezbollah e as Forças Libanesas seria, portanto, algo inédito. Mais recentemente, o Hezbollah chegou até a fazer acordos com outras forças cristãs. O grupo participa do atual governo e colocou no poder o presidente, Michel Aoun, que é cristão maronita.

Com a crise instalada após as mortes de sete xiitas, o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, suspendeu as reuniões do governo. Se todos os ministros xiitas renunciarem, o governo cai. O Hezbollah, contudo, preferiu não ir tão longe.

Uma ruptura entre Aoun e Hezbollah não é uma possibilidade. Eles devem muito um ao outro. Aoun deu ao Hezbollah um apoio cristão significativo, enquanto os xiitas impuseram Aoun na presidência“, diz Bou Ezzeddine.

O jogo do Hezbollah é dúbio. Ao mesmo tempo em que mantém os laços com Aoun, o clérigo Hasan Nasrallah concentra o ódio contra Geagea, das Forças Libanesas. Esse último, por sua vez, está se aproveitando dos ataques do Hezbollah para acumular capital político como o principal inimigo do grupo terrorista.

Segundo Bou Ezzeddine, a aprovação do Hezbollah dentro do Líbano tem entrado em declínio desde o assassinato do primeiro-ministro Rafic Hariri, em 2005. O Hezbollah é o principal suspeito do atentado.

A imagem do grupo foi manchada ainda em conflitos internos em 2008 e com o envolvimento em guerras na Síria, no Iraque e no Iêmen. “A maior parte da opinião pública acabou virando-se contra essa milícia apoiada pelo Irã. Hoje, não apenas os cristãos, como também parte da comunidade xiita, os drusos e os sunitas acham que o Hezbollah é um perigo que pode comprometer o futuro do Líbano“, diz Ezzeddine.

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  1. A tentativa de garantir representação institucional a esse mosaico que é a sociedade libanesa é interessante e útil pra evitar nova guerra civil e genocídios. Mas a instabilidade é sufocante. pior é quando um dos agentes políticos é um declarado grupo terrorista radical e a soldo de interesses estrangeiros.

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