Mateus Bonomi/Agif/Folhapress

Lobby escancarado: PF acha diálogos entre filho do líder do governo e advogado investigado

11.08.20 18:52

Mensagens encontradas pela Polícia Federal no celular do deputado federal Fernando Coelho Filho (foto), do DEM de Pernambuco, revelam intensas tratativas comerciais entre ele e um dos principais lobistas de Brasília, o advogado Marcos Joaquim Gonçalves Alves.

Fernando Coelho Filho, que ocupou o cargo de ministro das Minas e Energia no governo de Michel Temer, é filho do atual líder do governo Jair Bolsonaro no Senado, o senador Fernando Bezerra Coelho.

Já Marcos Joaquim, dono de um grande escritório que representa interesses empresariais em Brasília, é um velho conhecido dos investigadores. Ligado ao notório Eduardo Cunha e autointitulado amigo do peito do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ele já apareceu em outras investigações intermediando interesses heterodoxos e até propinas.

Nas conversas capturadas pela PF durante uma operação deflagrada no ano passado, Fernando Coelho Filho e Marcos Joaquim aparecem tratando de negócios diversos, desde a busca por uma empresa interessada em batizar a Arena Corinthians até contratos envolvendo refinarias da Petrobras. Ao analisar os diálogos, os próprios policiais registraram haver neles “amplo interesse comercial”.

Há também registros de favores, como o empréstimo de um avião ao deputado. Os investigadores anotaram, no relatório de análise do material, que as mensagens abrangem “áreas como extração mineral, extração de petróleo, comercialização de maconha, estádios de futebol, dentre outros tópicos”.

“Essas conversas são importantes pois Marcos Joaquim tem forte atuação com parlamentares a fim de aprovar pautas de relevância mútua, além de ele estar sendo investigado em outras operações por intermediar encontros com parlamentares para possível pagamento de propina e outros crimes correlatos”, registram os policiais.

Os diálogos, em áudio, são ilustrativos da mistura de interesses reinante em Brasília. Um exemplo está na conversa que revela que Marcos Joaquim emprestou um avião a Fernando Coelho Filho.

“Que bom que deu tudo certo, fico super feliz viu, espero que tenha gostado do aviãozinho. É nosso, tá bom? Deu pra todo mundo, acomodou todo mundo bem no avião, deu tudo certo?”, diz Marcos Joaquim ao deputado.

Fernando Coelho Filho responde com mais um pedido: “Não é pra agora, mas em agosto, se possível, no fim de semana do dia dos pais. Gostaria de saber se poderia usar o avião para ir aqui no Tocantins para podermos passar com o pai de Laura (Laura é o nome da mulher do deputado). Seria no fim de semana do dia 11 de agosto”.

Em outra ocasião, o deputado oferecer os naming rights da Arena Corinthians para um cliente do advogado-lobista. “Como lhe disse, estamos com o mandato para venda do naming rights Corinthians. Será que nosso amigo interessa? 350 milhões por 10 anos.”. O suposto interessado seria de Miami. Ele não foi identificado nos diálogos, mas àquela altura Marcos Joaquim representava em Brasília interesses de um empresário do ramo de distribuição de derivados de petróleo radicado nos Estados Unidos.

“É um público popular, que é sensível esse negócio do preço e, enfim, São Paulo, né? Acho que pode ser aí uma oportunidade. Dá uma olhada que eu posso pedir pro pessoal apresentar direto a eles ou a você como você achar meIhor”, reforçou Fernando Coelho Filho.

O deputado e Marcos Joaquim discutem também negócios envolvendo a Petrobras. “Vi que nesse mix aí de refinarias à venda, tem uma no Ceará com capacidade de 8.000 barris/dia. Do mesmo tamanho da operação no RJ”, diz o deputado. O advogado responde: “Kkkkkk! Verdade!!!! Será que conseguiríamos os estudos dos editais? O que eles estão pensando etc?”.

Uma parte do material ainda depende de contextualização e deve ser objeto de novas diligências da Polícia Federal. É o caso, por exemplo, de uma conversa em que os dois tratam de uma transação milionária no exterior.

“Como havia falado tem autorização para operação internacional, autorização de banco múltiplo, crédito fiscal de IR de RS400 milhões. Isso são rápidas informações sobre operação do banco, até quarta-feira eu devo estar com mandato na mão, ai quando eu tiver com mandato desse banco a gente senta aí com nosso amigo para ver se interessa a ele e vê por, qual valor a gente consegue fazer operação”, diz Fernando Coelho ao advogado.

Fernando Coelho Filho foi alvo de busca e apreensão na Operação Desintegração, deflagrada em setembro de 2019 para investigar o suposto pagamento de propina de 5,5 milhões de reais entre 2012 e 2014 ao pai dele, o senador Fernando Bezerra Coelho.

Nessa investigação, pai e filho são suspeitos de se beneficiar de pagamentos feitos por empreiteiras que tocavam as obras do Canal do Sertão e da Transposição do Rio São Francisco — o senador foi ministro da Integração de Dilma Roussef.

Durante as buscas, as mesmas em que o celular de Fernando Coelho Filho foi apreendido, foram encontrados 120 mil reais em dinheiro vivo em um dos endereços do deputado.

Marcos Joaquim, por sua vez, foi alvo da Operação Grand Bazaar, em outubro de 2019, sob suspeita de negociar e acertar supostas propinas ao deputado federal Sérgio Souza, do MDB, para que ele não convocasse, na condição de relator da CPI dos Fundos de Pensão, dirigentes dos fundos de pensão Petros e do Postalis, em 2017. A trama envolvia Eduardo Cunha. Marcos Joaquim nega.

Em nota enviada a Crusoé, Marcos Joaquim nega haver irregularidades nos diálogos. Ele afirma que as as “consultas apontadas nos diálogos eram privadas e não envolveram dinheiro público, nem a atuação parlamentar de Fernando Filho”.

“Sou advogado da família em assuntos empresariais e, por isso, fizemos a análise da viabilidade jurídica e econômica de diversos projetos. Essa é uma das especialidades do escritório, reconhecido internacionalmente por publicações como Internacional Tax Review”, diz o texto.

O deputado Fernando Coelho Filho não se manifestou até o momento.

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  1. Lembro-me bem do pilantrinha, irmão do 82º voto no Senado em favor de Renan Calheiros, fugindo da PF pelo aeroporto clandestino do DF (Água Claras). Cambada de ladrões.

  2. Uma pena que o trabalho da grande Polícia Federal não vai dar em nada. Se os pilantras forem presos, o STF solta; cassados não serão devido ao corporativismo reinante no congresso nacional; se processados, morrerão de velhos sem serem condenados devido a lentidão da nossa justiça. Só nos resta espernear e engolir nossa insatisfação.

  3. Os lobistas de plantão fazendo sempre seus negócios sujos milionários com gestores públicos e parlamentares ... .. e o povo boi que continua elegendo seus péssimos representantes.

  4. Depois reclamam que estão criminalizando a política... Não tenho dúvida que a política brasileira é um caso de polícia!

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