Adriano Machado/Crusoé

Irmão de Miranda já depôs contra empresa da Covaxin antes do escândalo das vacinas

19.07.21 07:19

Muito antes de levar até o presidente Jair Bolsonaro e, depois, detalhar à CPI da Covid no Senado as irregularidades na compra da vacina Covaxin, Luis Ricardo Miranda (foto), irmão do deputado Luis Miranda e servidor de carreira do Ministério da Saúde, já havia prestado depoimento contra o mesmo grupo empresarial envolvido na importação do imunizante indiano. E pelo mesmo motivo: o pagamento antecipado do governo ao fornecedor.

Em outubro de 2018, Luis Ricardo foi ouvido pelo Ministério Público Federal na investigação sobre um contrato feito pelo ministério com a Global Gestão em Saúde, para fornecer medicamentos para tratar doenças raras. De acordo com dados da Receita Federal, a Global é uma das sócias da Precisa Medicamentos, empresa que representa no Brasil o laboratório indiano Bharat Biotech, fabricante da Covaxin. A apuração foi aberta porque a empresa recebeu antecipadamente 19,9 milhões de reais transferidos pela pasta, mas nunca entregou os remédios contratados. Segundo o MPF, a falta dos medicamentos causou a morte de pelo menos 14 pacientes.

Chefe da divisão de importação do ministério, Luis Ricardo disse na oitiva que o pagamento antecipado no caso de insumos importados era “absolutamente fora do comum”. A mesma informação foi dada por outros dois servidores da pasta. “O fluxo normal não é este, mas sim o do pagamento posterior ao recebimento do produto em depósito”, disse o irmão do deputado Luis Miranda na ocasião.

A investigação do MPF apontou para uma “pressão” para antecipar o pagamento à Global feita sobre servidores técnicos da pasta pelo então ministro da Saúde e atual líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros, e outros dois dirigentes comissionados na pasta: Davidson Tolentino, indicado pelo senador Ciro Nogueira, e Alexandre Lages Cavalcante, ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Todos do Progressistas, antigo PP.

Tanto Barros quanto os dois dirigentes apadrinhados pelo Centrão foram alvos de uma ação movida pelo MPF e viraram réus junto a Global, que até hoje não devolveu os 19,9 milhões de reais pagos antecipadamente. A Global é sócia da Precisa Medicamentos, intermediária do laboratório indiano Bharat Biotech na venda da vacina Covaxin para o Brasil, cujo contrato soma 1,6 bilhão de reais.

Foi justamente uma “pressão” feita por diretores, entre eles Roberto Dias, indicado de Ricardo Barros, para autorizar um pagamento antecipado de 45 milhões de dólares na conta de uma offshore em Singapura ligada ao laboratório indiano que levou Luis Ricardo a procurar o irmão deputado e depois o presidente da República — que nada fez — para relatar as suspeitas de irregularidades no negócio.

Como Luis Ricardo se recusou a autorizar a importação, o processo tocado ela Precisa Medicamentos travou dentro do ministério e nenhum dinheiro foi transferido para a conta em Cingapura. No caso de 2018, envolvendo o mesmo grupo empresarial, os superiores que hoje são réus passaram por cima do técnico que também se negou a assinar os papeis. O pagamento foi liberado antes, os produtos não chegaram, e o dinheiro nunca voltou aos cofres públicos.

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