Adriano Machado/Crusoé

Flávio naturaliza o que o pai ainda se constrange em admitir e lembra retórica petista

05.08.20 12:31

O mais pragmático dos rebentos de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro escancarou em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira, 5, o que o pai regurgita intramuros, mas ainda se constrange em admitir em público.

O 01 defendeu, sem escrúpulos de sutileza, a nomeação de indicados do Centrão, o aumento de gastos do governo, a criação do novo “imposto digital”, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e torpedeou a Lava Jato, sem deixar de tirar uma casquinha do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Se concedida até 2018, a entrevista poderia muito bem se ajustar aos pensamentos e opiniões de alguma cabeça coroada do PT, mas em 2020 é o primogênito de Bolsonaro falando – e com o consentimento não só de seus advogados como da família.

Ao discorrer sobre o caso Queiroz e adjacências, o 01 também reavivou os áureos tempos do lulopetismo, quando Lula ainda não se ressentia da falta de ritmo de jogo, como agora, e fazia malabarismos para tentar justificar o injustificável. Ao ser questionado sobre o que ele tinha a dizer a respeito da quitação de um boleto no valor de 16,5 mil reais de um imóvel comprado por sua mulher pelo policial militar Diego Sodré de Castro Ambrósio, Flávio saiu-se com esta: “A gente estava num churrasco de comemoração da minha eleição. A conta estava para vencer e, para eu não sair do evento e ir ao banco pagar, porque eu não tinha aplicativo no telefone, ele falou: ‘Deixa que eu pago aqui e depois você me dá o dinheiro’. Foi isso que aconteceu”.

Flávio Bolsonaro também naturalizou o pagamento de suas contas pessoais, como boletos de escola e planos de saúde, pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, hoje em prisão domiciliar. “Pode ser que, porventura, eu tenha mandado, sim, o Queiroz pagar uma conta minha. Eu pego dinheiro meu, dou para ele, ele vai ao banco e paga para mim. Querer vincular isso a alguma espécie de esquema é como criminalizar qualquer secretário que vá pagar a conta de um patrão no banco”, argumentou o senador.

Só faltava recorrer à desculpa do “eu não sabia de nada” consagrada pelo PT. Não faltou. Foi o que aconteceu, quando indagado sobre a razão para tantos assessores de seu gabinete transferirem dinheiro a Queiroz durante tantos anos. “Mas é óbvio que, se soubesse que ele fazia isso, jamais concordaria”. Repetitivo, Flávio lançou mão do mesmo recurso retórico ao ser indagado sobre Queiroz ter sido flagrado escondido numa propriedade do ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia. “Óbvio que não sabíamos.”

É tudo muito óbvio.

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